MODA

Desfiles jogam nas ruas a moda para a "mulher real"

O evento Mega Fashion Week, realizado no bairro paulistano do Brás, atua no sentido de jogar nas ruas uma moda nada conceitual, mas muito usável

ROMERO RAFAEL
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ROMERO RAFAEL
Publicado em 15/03/2015 às 5:00
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O evento Mega Fashion Week, realizado no bairro paulistano do Brás, atua no sentido de jogar nas ruas uma moda nada conceitual, mas muito usável - FOTO: Divulgação
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Costanza Pascolato não sentava à primeira fila. Em fileira nenhuma, aliás. Nem Camila Coutinho, Thassia Naves ou Lala Rudge. Também não havia fashionista disputando com a passarela a atenção. Eram, na maioria, mulheres reais, digamos assim, ocupando as cadeiras em torno dos desfiles do Mega Fashion Week, evento de tendências promovido pelo Mega Polo Moda, shopping de venda por atacado instalado em dois prédios do Brás, região central de São Paulo.

O bairro, que desperta ao barulho de minitrio com anões dançando anúncio de bijuterias, passa o dia tomado por um vaivém de sacolas, devido ao forte comércio popular de roupas, acessórios e tudo o que é produto têxtil, vendidos em lojas e calçadas. A oferta e os preços baixos atraem de compradores paulistanos a gente de outros países. A ilustrar: no hotel Total Brás, erguido próximo ao centro de compras para acomodar os turistas têxteis, dois homens desciam no elevador falando, quem sabe, árabe.
Sobressaindo ao comércio de rua, o Mega Polo, inaugurado há dez anos, com 400 lojas do tipo pronta-entrega, por duas vezes ao ano monta passarela a fim de promover suas marcas e abastecer os compradoras com as tendências. Até o ano passado chamado de Coleções, o evento foi rebatizado por Mega Fashion Week, numa estratégia de glamourizá-lo. Na edição em que apresentou as novidades do Outono/Inverno 2015, no início deste mês, 350 etiquetas desfilaram em três dias. Foram quatro blocos de catwalk por dia, com mais de 20 marcas por vez e quatro pernadas para cada uma delas.

Dentro das roupas reais, modelos esguios e artistas, como Giovanna Ewbank. Figura fácil em semanas de moda no Brasil, comparou aquele desfile aos de mais glamour, como a São Paulo Fashion Week: “Aqui é bom porque você vê coisas que pode ter. Nos conceituais normalmente são peças que muitas vezes não têm na loja”. A atriz vestia chapéu e saia de cintura alta, com estampa e renda, meio boho chic meio gypsy. “É o que eu uso no dia a dia”, disse a mulher de Bruno Gagliasso, que há pouco foi manchete por vestir longo branco de fenda maiúscula – de vazar parte da calcinha – na festa da novela Babilônia.

“O diferencial daqui é o seguinte: em cinco dias as peças vão estar nos guarda-roupas. É moda real com efeitos imediatos”, completou Reginaldo Fonseca, diretor da Cia. Paulista de Moda, responsável pela produção do MFW.
Os estilos que Giovanna vestia, boho chic e gypsy, mais o folk imperaram nas demonstrações das marcas. As peças-cartazes dessas tendências não são bem novidade: renda, florais, tons terrosos, acessórios em abundância...
Fonseca, que escolheu os looks, alinhava esse déjà vu à moda universal. “As marcas não apostam mais nisso ou naquilo. Apostava-se quando se tinha algo supernovo. Hoje é um processo de recriação constante. O tempo todo alguém está chupando do outro, para não dizer copiando, e fazendo o seu”.

Ele continua a análise: “Há 20 anos a mulher tinha de mudar tudo de uma estação para outra. Hoje não, por ‘n’ motivos, e o principal é o econômico. O planeta também está mais quente”. São explicações que talvez respondam o porquê das peças para o frio não pedirem mais tanto tecido.

O Outono/Inverno fresquinho vai receber muita brisa por entre as franjas. As tiras permanecem em voga inspirando estilistas e costureiros. Com mais força, até. Na passarela viu-se com uma constância gritante o balanço das franjas ritmado pelo movimento dos corpos das modelos. Apareceram curtas ou longas, na barra do top, na beira da saia, nas mangas, de cima a baixo nas laterais de vestidos, em bolsas, botas, quase nunca como detalhe único.
Em se tratando de modelagem, os short-saias surgiram com frequência. Mas, saiba, estão abandonados os assimétricos. Para vestir toda a perna, a calça flare, de bocas largas. O café com leite do preto e branco foi visto, embora não mais do que as estampas. Novamente elas, as de bicho e flores em alta.

Que nem nas semanas de moda lá de fora, bustos e barrigas aparecem aqui e acolá descobertos. A temporada tem insistido em cobrir as mangas, ainda que por renda. Muita renda. “Nós temos todas as tendências que apareceram em todas as passarelas. Qualquer peça que alguém viu e gostou, pode comprar com valor bem mais econômico”, arremata Reginaldo Fonseca sobre o valor que o Brás tem.

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