SURFE

A onda dos surfistas de piscina

O esporte está sendo ensinado dentro de academias no Recife

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 05/04/2015 às 6:00
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Mar, areia e sol. Estas provavelmente são as palavras que vem à mente quando se fala em surfe, correto? Nem sempre! Pelo menos não para o dono de restaurante Caio Vidal, de 24 anos, que chega para mais um treino na academia. Isso mesmo, estamos falando do surfe indoor. Ele põe a sunga, pega a prancha e cai direto na piscina. É lá, na água calma, sem se preocupar com a variação da maré, temperatura, velocidade do vento ou ataques de tubarão, que ele aprende, em ambiente fechado, as técnicas do esporte que é sinônimo de liberdade e contato com a natureza.

O que pode parecer estranho para muitos é encarado com naturalidade por Caio que hoje comemora a possibilidade de estar em contato com a prancha no dia a dia. “Antes eu só surfava nos finais de semana em Porto de Galinhas. Na correria do trabalho não tinha como ir para lá em dias de semana. Agora, com as aulas na academia ao longo da semana, consigo treinar aqui mesmo”, disse Caio, entre as remadas de um lado para o outro da piscina.

Quem trouxe a ideia para o Recife foi o surfista e professor Henrique Pacífico, de 35 anos. Como tantos outros praticantes, ele viu a onda do surfe aos poucos ir perdendo força na maré de ataques de tubarão que marcou o Estado. “Eu comecei a surfar moleque e peguei muita onda nas praias de Piedade. Quando os ataques ficaram frequentes e veio a proibição da prática houve a migração dos surfistas para outros lugares, como Porto de Galinhas”, explicou Henrique, fazendo referência ao ano de 1995, quando o esporte foi proibido em um trecho de 32 quilômetros da orla pernambucana, entre Olinda e o Cabo de Santo Agostinho.

Desde 1992, 59 pessoas foram vítimas de ataque de tubarão no Estado, sendo que 24 morreram. Na última terça-feira, inclusive, um surfista foi mordido na coxa esquerda na praia Del Chifre, em Olinda. Ele disse que o ataque foi de um tubarão, mas especialistas acreditam que pode ter sido outro animal marinho. Para não deixar que estas estatísticas afungentem ainda mais os admiradores do esporte Henrique pensou em implantar aqui o projeto do surfe indoor.

“Aprendi olhando mesmo, com a ajuda dos meus amigos. Mas, desde que entrei na aula na piscina, percebi que melhorei bastante minha técnica no mar. Hoje tenho muito mais fôlego nas remadas e me equilibro em cima da prancha com mais facilidade”

“Temos um foco especial no condicionamento físico e nas técnicas de apneia para que melhorem a respiração e possam ficar mais tempo debaixo d’água. Ensinamos toda a parte básica do surfe: como subir na prancha, entrar no mar, dar as remadas, furar a onda, ficar em pé e os movimentos essenciais. Eles aprendem toda a parte teórica e prática para depois cair no mar”, explicou Henrique, destacando que, por causa do grande esforço físico, em 45 minutos de aula são perdidas até 400 calorias. No treino são utilizadas pranchas especiais, com um revestimento macio e bicos arrendondados, para evitar acidentes.

Todos esses motivos foram mais do que suficientes para convencer Caio, aquele que chegou para treinar no começo da reportagem. “Eu comecei a surfar há apenas um ano com meus amigos que praticavam há muito tempo. Aprendi olhando mesmo, com a ajuda deles. Mas, desde que entrei na aula na piscina, percebi que melhorei bastante minha técnica no mar. Hoje, tenho muito mais fôlego nas remadas e me equilibro em cima da prancha com mais facilidade”, disse.

Porém, entre os alunos, existem aqueles que não necessariamente desejam o mar. É o caso do bancário Mauro Farah, 43. “Surfei só na adolescência e quando soube das aulas decidi fazer mais para matar a saudade e melhorar o condicionamento físico mesmo. Faz tempo que não entro no mar com uma prancha e no momento a piscina me satisfaz”, afirmou Mauro.

A escola de surfe também conta com turmas exclusivas de crianças. O interesse da nova geração é grande, principalmente depois da conquista do título mundial pelo brasileiro Gabriel Medina. “Sempre tive curiosidade e queria muito ficar em pé numa prancha. Mas depois que vi Medina fiquei encantada e decidi aprender a surfar”, disse a estudante Maria Vitória Feitas, de 10 anos.


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