SUSTENTABILIDADE

Semente de ucuuba se transforma em nova renda para 15 comunidades do Pará e Amazônia

São 600 famílias que fornecem o produto para a empresa Natura

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 07/06/2015 às 8:00
Foto/Divulgação Natura
São 600 famílias que fornecem o produto para a empresa Natura - FOTO: Foto/Divulgação Natura
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ILHA DE COTIJUBA (PA)– A comercialização de sementes se tornou mais uma fonte de renda para 15 comunidades que vivem entre a floresta e os rios nos Estados do Pará e Amazonas. E isso faz a diferença para pessoas como a paraense Roseane Azevedo que acabou de construir a sua casa com R$ 1,9 mil obtidos com a venda das sementes de ucuuba e andiroba na safra passada. “Este ano, pretendo dar entrada numa moto com o dinheiro do extrativismo”, conta. Ela não está sozinha. São 600 famílias que coletam ucuuba para a empresa de cosméticos Natura que desenvolveu uma linha de hidratantes (para a mão, corporal e manteiga hidratante) baseada na semente da ucuubeira, árvore que faz parte da lista de espécies que podem desaparecer da Amazônia até 2050.

Mesmo sem ter um terreno próprio, Roseane coleta sementes de ucuuba, andiroba, murumuru e comercializa via associações de mulheres que se organizaram no Pará. A andiroba e o murumuru também são usados para fins cosméticos. “Vou com a canoa, pego as sementes no rio e em áreas alagadas”, afirma, acrescentando que também coleta da propriedade de pessoas conhecidas. Ela mora na comunidade de Santo Antonio do Tauá, no Pará, e atualmente está desempregada porque foi suspenso o programa do governo federal em que trabalhava como professora.

Para os índios, ucuubeira significa a árvore da manteiga, sendo encontrada principalmente em áreas alagadas, o que é fácil de achar em Belém, cidade que tem mais de 60% da sua área em ilhas. Uma delas é a de Cotijuba, na Baía de Marajó, a mais de uma hora de barco da capital paraense. É um lugar onde não existem carros. A locomoção é feita em bondinhos puxados por tratores ou charretes. “A comercialização da ucuuba abriu os nossos olhos para fazer a preservação dessa árvore”, explica a líder do Movimento das Mulheres das Ilhas de Belém do Pará (MMIB), que tem sua sede numa casa simples também construída e organizada com o dinheiro que vem da venda de sementes retiradas da floresta.

Mas o que é que a Ucuuba tem ? “A manteiga dela tem um alto poder de hidratação com um toque seco e leve. A nossa ideia é fortalecer negócios a partir da floresta em pé, agregando valor, o que será melhor para todos”, resume a gerente de Sustentabilidade da Natura, Renata Puchala, responsável pelo Programa Amazônia. Atualmente, 13,3% dos insumos usados pela empresa vêm da Amazônia. A companhia se planeja para ter 30% dos insumos provenientes da Amazônia até 2020.

O MMIB forneceu a primeira remessa de sementes de ucuuba para a Natura em 2009. Daí em diante, essa semente passou a ser mais valorizada pela comunidade, inclusive por uma questão financeira: a renda da venda das sementes é três vezes maior do que a comercialização da madeira até então o principal uso da árvore pelos povos da floresta. “Não fazia nada com a ucuuba que ficava no chão”, conta a pensionista Dircinha Marques Rodrigues que completa a sua “pensão” com a venda de ucuuba, cajá e piprioca coletadas no seu terreno na Ilha de Cotijuba.
Ainda na ilha está sendo desenvolvida uma parceria entre a Natura, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e o MMIB visando preservar as ucuubeiras que incluiu uma sementeira implantada pelo projeto. O grupo tem 105 associados, incluindo 23 homens. “Este mês, temos mais de 500 mudas prontas para o plantio. Em abril, plantamos mais de 1,5 mil ucuubeiras”, afirma Adriana. O replantio das ucuubeiras contou com a capacitação de 10 jovens que multiplicam informações sobre as vantagens de preservar a árvore.

“O que chamou a nossa atenção foi o fato da semente não afundar por causa do óleo”, conta Renata, acrescentando que a ucuuba foi descoberta numa das expedições que a equipe da Natura fez a Amazônia para prospectar novos produtos. O desenvolvimento da linha ucuuba levou cerca de três anos.
* A repórter viajou a convite da Natura

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