Julho chegou, junto com as férias das crianças – que, muitas vezes, não coincidem com o tempo de folga dos pais. A lei dá 30 dias de férias anuais aos trabalhadores, e as escolas, pelo menos três meses de recesso. A conta não fecha, e quando a folga se desencontra, é preciso quebrar a cabeça e esvaziar os bolsos, especialmente no caso das famílias em que os pais trabalham e não contam com auxílio de babás ou de avós.
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Quem não pode dar assistência integral aos filhotes e tem condições financeiras para tanto, geralmente opta pelas populares colônias de férias. Elas se “especializam” cada vez mais, focando nos interesses de pais e filhos (artes, esportes, ciência) e nas idades das crianças atendidas. A professora Ana Paula Campos Lima, mãe de Bento, de 2 anos e 3 meses, conta que o filho até teria com quem ficar nas férias, mas “ficar preso em casa é muito chato”. “Ele pede para sair, pede diversão. Tem necessidade de interagir com outras crianças. Por isso, mesmo ele sendo pequeno, busquei uma colônia para manter a rotina da escola, que ele adora. Bento volta da colônia contando mil histórias, e passa o resto do dia ansioso para ir de novo”, relata. O JC preparou uma lista de possibilidades de colônias e atividades, com vários preços e durações, que pode ser consultada aqui.
O esquema nem sempre vale, porém, para todas as famílias. Há quem não tenha condições financeiras para tanto, embora algumas opções tenham custo mais acessível. Em outras situações, o problema é como levar e buscar as crianças. O caso da funcionária pública Patrícia Sampaio é emblemático: separada do pai dos filhos de 4 e 11 anos, ela não conta com suporte familiar e já precisou levá-los para seu trabalho várias vezes desde que as férias começaram. Nina, a menorzinha, entrou numa colônia de férias. Mas Yago não curte a proposta, e vem acompanhando a mãe para não ficar sozinho. “Estou com ódio da palavra férias”, desabafa Patrícia.
BRINCADEIRA A DOMICÍLIO
Em alguns condomínios, recreadores estão sendo contratados para realizar atividades lúdicas no espaço coletivo, reduzindo o custo e a dificuldade de transportar as crianças. Recreador há 30 anos, Luiz Carlos Paiva dos Santos, mais conhecido como "tio Lulão", tem até lista de espera por seus serviços. "Este período é o melhor em termos de trabalho, não tenho tempo nem de respirar", comemora ele. As atividades são contratadas para grupos de até quarenta crianças, deixando a brincadeira cômoda, já que a meninada não precisa sair dos prédios onde moram, e também mais econômica. "Geralmente, o pacote acaba custando menos de R$ 20 por criança", calcula Lulão, que promove brincadeiras e, caso os clientes desejem, leva também um mini-zoológico com coelhos, porquinhos da índia, periquitos e outros animais dóceis, que fazem a alegria das crianças menores.
Na verdade, a solução para o problema, às vezes, pode ser a solidariedade de quem passa pela mesma situação. Verdadeiras “redes de apoio” são formadas através do whatsapp e facebook, reunindo crianças que frequentam a mesma escola ou cujos pais são amigos. Os parentes dos coleguinhas de Antonio Cunha, de sete anos, estão combinando encontros sociais como piqueniques e idas à praia e ao cinema. Se alguém não pode ir no dia, recebe carona e suporte dos demais. “Ainda assim, ele fica entediado boa parte do tempo e eu, culpada de estar trabalhando e não poder dar muita atenção”, confessa a mãe, Mariana.
O caminho para “resolver” a questão nem sempre é fácil, mas às vezes a saída é encontrada pelas próprias crianças. Gabriel, de 8 anos, já participou de diversas colônias durante as férias. Mas neste mês, enquanto seu irmão Daniel, de 4, tem ido alegremente participar das atividades, ele preferiu não se matricular. “Gabi está indo para o escritório do avô, que é advogado. E, pasme, ele AMA”, gargalha a mãe de Gabriel, a tradutora Nélia de Paula.