A fotografia carrega na sua essência a memória, a materialização da eternidade. É lembrança do autor e do fotografado. Possuo há mais de dez anos memórias que não vivi. Recordações do final do século XIX impressas em negativos de vidro de um tempo em que nem mesmo os meus pais tinham nascido.
Numa caixa de papelão da Sociedade Anônima de Placas e Papéis Fotográficos dos Irmãos Lumiére repousam sete negativos de vidro, todos reproduzidos na galeria de fotos abaixo. Uma espécie de lacre denuncia que as imagens participaram do Grands Prix-Paris 1889/1900 e o seu autor teria sido agraciado com o prêmio Hors Concours pelos membros do júri. Inscrições feitas a lápis deixam o rastro de que as imagens teriam sido captadas no povoado de Rimella, no extremo sul da Itália.
Retratos que remontam ao início do processo fotográfico. Exposições longas faziam com que os personagens tivessem de ficar imóveis posando para o registro.
Em plena era da revolução digital – onde fotos feitas por robôs são transmitidas do espaço; em que grãos viraram pixels; películas fotográfica de câmeras analógicas viraram CCDs de máquinas digitais; câmaras escuras viraram monitores de computador –, essa relíquia ainda espera pelo autor ou seus descendentes. Sinto-me apenas um guardião do tempo de memórias que não são minhas, e que me foram trazidas pelo primo da minha esposa, ao voltar de longa estada na Itália. Ao se mudar para um novo endereço comercial, ele se deparou com as tais fotografias, resolveu não jogar fora e as trouxe para as minhas mãos.
Minha busca pelo autor continua...