Que tal um jeito diferente de conhecer o Brasil? Isso se você não se importa com o tempo gasto no trajeto, mas com as paisagens que vão surgindo à sua frente. Então, embarque num trem turístico e aproveite a delícia de uma viagem à moda antiga pelos caminhos de ferro do País.
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De Norte a Sul, são 33 os itinerários turísticos nos trilhos brasileiros, em 11 Estados da federação. Experimentamos três roteiros da região Sudeste – Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais – para compartilhar com você. Prepare a mochila e bem-vindo a bordo!
Vamos começar a viagem pelo Trem das Montanhas Capixabas, no Espírito Santo, operado pela Serra Verde Express e que parte da Estação de Viana, uma cidade do século 19 na Região Metropolitana de Vitória, a 32 quilômetros da capital. O percurso de 35 quilômetros, de Viana até o município de Marechal Floriano, é feito em duas horas. Adultos pagam R$ 112 apenas para a ida ou R$ 160 para o trecho ida e volta.
O trem vai subindo a serra pela Ferrovia Centro Atlântica (FCA) sem pressa nenhuma, a 17 quilômetros por hora, e a história da imigração vai passando pela janela: as casas com fachadas de arquitetura alemã e italiana, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição construída pelos açorianos no estilo barroco de origem portuguesa com influência espanhola e a mata atlântica nativa, espreitando todo o roteiro.
Dentro da Litorina – a máquina movida a diesel, com ar refrigerado, que transporta os passageiros aos sábados, domingos e feriados nacionais – a guia de turismo vai apontando as belezas do trajeto, como o Rio Jucu, que ora aparece, ora se esconde na vegetação. Jucu, na língua tupi, significa rio cheiroso, diz ela. O nome é emprestado do aroma das árvores de canela que margeiam e perfumam o curso d’água.
A estrada foi construída a partir de 1895 para ligar o Rio de Janeiro ao Espírito Santo e preserva, no trecho Viana-Marechal Floriano, duas pontes ferroviárias, uma de ferro e outra de pedra, e dois túneis cavados na rocha de granito (um com 218 metros de extensão e outro com 110 metros).
“É uma volta ao passado, lugar nenhum do mundo tem essa mata atlântica, de vegetação tão diversificada. Pena o brasileiro não estar acostumado com esse tipo de passeio”, comenta Ernesto Tasso Júnior, morador de São Paulo, enquanto admirava, da Litorina, as serras capixabas.
A população se desenvolveu em função da ferrovia, continua a guia, mostrando pelas janelas panorâmicas fazendas de pequeno porte, plantações de banana, agricultura familiar e as exuberantes quedas d’água, que começam se formar a 450 metros de altitude. “É um sonho, vim ao Espírito Santo especificamente para o passeio de trem, com meu marido”, diz a professora aposentada de São Paulo Jane Marmo Tasso.
Marechal Floriano, município do século 19 colonizado por imigrantes alemães e italianos, é o ponto de retorno do Trem das Montanhas, porém não é o fim da linha. Seguindo pela BR-262, descubra a simpática cidade de Domingos Martins, de origem germânica. De carro, o deslocamento não leva 20 minutos.
Comerciante, nascido em Itapemirim, o capixaba Domingos José Martins (1781-1817) que dá nome à cidade interiorana era um dos líderes da Revolução Pernambucana de 1817. Preso, foi fuzilado na Bahia, diz a guia de turismo Roberta Lyra. Aqui, ele batiza uma via no Bairro do Recife, entre a Rua do Bom Jesus e a Rua da Guia.
Com temperatura que varia de 18 a 24 graus no inverno e de 22 a 26 graus no verão, Domingos Martins tem como um dos atrativos o Parque Estadual Pedra Azul, área de 1.240 hectares para proteção de formação rochosas, da flora e da fauna. O parque abriga um dos cartões-postais mais famosos da cidade, a Pedra Azul, com 1.822 metros de altitude. Funciona de segunda a sexta-feira, sem cobrança de ingresso.
* A repórter viajou a convite da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (Abottc)