
“Uma vez que você tenha experimentado voar, você andará pela terra com seus olhos voltados para o céu, pois lá você esteve e para lá você desejará voltar”. A célebre frase atribuída ao artista e inventor italiano Leonardo da Vinci, que tanto se empenhou em projetar máquinas para realizar o sonho do homem de voar, retrata bem o comportamento de quem já teve esta sensação. Não à toa que foi assim – com o olhar dirigido para as nuvens – que encontramos um grupo de pessoas em uma tarde de domingo na praia da Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes. Estavam analisando o vento e o clima para, enfim, ganhar “asas” e retornar ao céu.
Com as condições favoráveis, foram tirar das caminhonetes as tais asas: as velas de parapente e o motor com hélice. Da junção dos dois equipamentos nasceu um novo esporte chamado de paramotor. Acoplados um ao outro eles conferem ao praticante a possibilidade de decolar de qualquer lugar, não dependendo de uma montanha ou ponto alto como no vôo livre. “Esta é a maior vantagem do paramotor, poder voar com mais segurança a partir de qualquer ponto que seja amplo, sem pessoas ao redor, e apresente boas condições de vento. Podemos voar três horas em média sem aterrissar e atingir alturas maiores que mil metros em poucos minutos”, explicou Cláudio Cardoso, que é instrutor de paramotor há 8 anos.























A decolagem é tão tranquila quanto o vôo. Depois de ligar o motor que vai encaixado atrás como uma mochila, o piloto infla as velas e em seguida corre poucos metros até ganhar estabilidade e começar a subir. Rapidamente ele vai ganhando altitude até atingir as almejadas nuvens. No entanto, para chegar lá é preciso aprender o caminho, ou seja se capacitar para isso.
“Para voar de paramotor é preciso realizar um curso com um instrutor de vôo habilitado pela Confederação Brasileira de Vôo Livre que dura 3 meses. Na parte teórica, são dadas aulas sobre meteorologia, aerologia, aerodinâmica e aspectos técnicos dos equipamentos. Na fase prática, o aluno vai aprender desde inflar a vela até decolar. Os primeiros vôos são todos monitorados até a pessoa mostrar que tem habilidade e segurança suficiente para voar sozinha”, explicou Cláudio, informando que o custo do curso é de 2,7 mil reais.
Além do curso, há também o gasto com o equipamento que, diga-se de passagem, não é nada barato. O custo do motor, parapente e paraquedas gira em torno, respectivamente, de 15, 11 e 2 mil reais. Cifras que em tempos de crise naturalmente pesam no bolso, mas que o contador Roniery Cavalcante, de 37 anos, até por conta de sua profissão, fizeram caber. “Há uns três anos eu fui atrás de equipamentos usados. Me apertei um pouco para caber no orçamento e ainda parcelei em 10 vezes. Mas agora recentemente consegui comprar um motor e um parapente novos que estão prestes a chegar de São Paulo”, disse, ansioso, para usar os novos brinquedos.
De acordo com ele, o investimento é recompensando toda vez que alça vôo. “Não tem dinheiro que pague a sensação de você tirar os pés do chão e se sentir com asas. Quando se está lá em cima você esquece de tudo, dos problemas e até das dívidas para comprar o equipamento”, brincou, entre risadas, Roniery. Porém para quem não quiser comprar o material e apenas ter a sensação de voar de paramotor existe o vôo duplo em que a pessoa é carregada pelo piloto e custa em média 250 reais.
A sensação descrita por Roniery que é natural de Vicência, na Zona da Mata de Pernambuco, é confirmada por seu amigo e conterrâneo, o autônomo Webio Félix, de 30 anos. Os dois fizeram parte da mesma turma do curso de paramotor e protagonizaram uma história curiosa. No último vôo chamado de batismo, assim que as nuvens foram atingidas, Webio preocupou a todos quando ficou um tempo em silêncio no rádio e em seguida começou a chorar como um menino. “Eu tinha perdido há pouco tempo o meu pai que, apesar das dificuldades financeiras, sempre me apoiou a fazer o curso. Então, quando cheguei nas nuvens pela primeira vez e olhei para o horizonte, me emocionei. Me senti mais perto de Deus...e do meu pai”, lembrou com olhos marejados e, assim como no início da reportagem, voltados para o céu. Sábio Leonardo da Vinci.