Horas e horas numa cozinha quente, em pé à beira do fogão, coreografando o balé necessário para que os clientes recebam, de forma impecável, os seus pedidos. Nos dias de folga, ou no fim do expediente, ao fecharem atrás de si as portas dos restaurantes que comandam, o que os chefs normalmente procuram para comer nada tem a ver com a linha culinária que adotaram como negócio. Então, decidimos perguntar: o que gosta de comer a gente que cozinha para a gente? A curiosidade conduziu as descobertas que se seguem. Convidamos oito chefs para nos revelarem o que lhes dá prazer à mesa, criando, por nossa conta e risco, algumas regras que todos deveriam seguir:
1. Precisava ser comida que pudesse ser comprada. A ideia é que os leitores aproveitem as dicas para testar as escolhas dos chefs.
2. A primeira regra já criava outra, naturalmente: nada de falar “do cozido da minha mãe”, do “bobó de camarão da minha avó”, do “feijão de coco do meu tio”. A comida deveria ser de um lugar onde todos pudessem ir e lá encontrar “os favoritos dos chefs”.
3. Também tentamos evitar a ‘panelinha’: não valia um chef indicar o restaurante do outro.
Assim, fomos descobrindo o que eles comem, fora de seus restaurantes e, claro, vieram as surpresas: o japonês gosta de comida apimentada; o chef que dividiu a cozinha com uma sumidade francesa farta-se mesmo é com uma boa pizza; a pernambucana com um pé em São Paulo não se esquece do siri mole na manteiga; aquele que comanda casa das mais classudas do Recife adora uma comida de rua.
“Quando fecho o restaurante, vou em busca de um cachorro-quente, que adoro”, confessa Claudemir Barros, do Wiella Bistrô. Mas também pode ser um crepe - desde que esteja na rua, no trailer Estrada, estacionado em Boa Vigem. É justo lá que ele come o cachorro-quente das madrugadas.
Nascido em Gana, na África, filho de franceses – país onde passou a maior parte da infância – Jean-François Colas, ou Jeff Colas, o condutor do olindense Maison do Bomfim, lambe os beiços com uma caprichada galinha à cabidela do Bar do Geraldo, em Santo Amaro. “Gosto de experimentar o sabor dos lugares onde moro”, revela Jeff, que vive no Brasil desde 1974. “Sou um pesquisador, um curioso. E não tenho nenhum preconceito em relação à comida.”
A cozinha regional teve outros votos: também é o forte de dona Carmem Virgínia, do restaurante Altar, em Santo Amaro. Ela é fã da carne de sol do Cunha, no Rosarinho - farta e das mais saborosas, garante. Biba Fernandes, que vive entre ceviches e tiraditos da saudável cozinha peruana, se joga mesmo é no chambaril de seu Luna, no Ipsep. “Sempre fui muito por lá com o meu pai. É comida de primeira”, garante.
A escolha de César Santos, comandante do Oficina do Sabor, em Olinda, inclui o patrimônio histórico do Recife como cenário. O estômago do chef bate forte pelas fritadas d’O Buraquinho: de carne de sol, de caranguejo. De quebra, a vista do Pátio de São Pedro como companhia.
Dividida desde janeiro entre o Recife e São Paulo, a consultora gastronômica e chef Miau Caldas nem pestaneja. “Sou apaixonada por siri mole. E, ultimamente, um dos melhores lugares para se encontrar essa iguaria é no Bar do Samuray, em Brasília Teimosa”, ela nos conta. “Parada obrigatória da minha turma no pós-praia. Mesa na calçada e atendimento feito pelo próprio Samuray e sua família fazem toda a diferença.”
De Nagasaki, no Japão, surge o apaixonado pelas picantes pimentas mexicanas. Masayoshi Matsumoto, o dono do Sushi Yoshi, em Boa Viagem, escolheu os tacos e tortilhas do Escalante’s como sua comida favorita. “Mas tudo precisa ter muita, muita pimenta”, alerta.
Tendo passado pelas cozinhas de nomes como Emanuel Bassoleil e Laurent Suadeau, Hugo Prouvot, do Prouvot Cozinha.Bar, escolhe a pizza que encontrou em Setúbal, na Zona Sul do Recife, como o seu prato predileto. “É uma pizza que você não acha em outro lugar. E o preço é ótimo”, atesta o chef. ?
Confira a seguir as escolhas de cada um dos chefs entrevistados: