CULTURA

Romero Britto e sua relação com Pernambuco

Em entrevista exclusiva, artista plástico fala das suas origens

Leonardo Vasconcelos
Cadastrado por
Leonardo Vasconcelos
Publicado em 08/11/2015 às 8:00
Leonardo Vasconcelos / Especial para o JC Imagem
Em entrevista exclusiva, artista plástico fala das suas origens - FOTO: Leonardo Vasconcelos / Especial para o JC Imagem
Leitura:

“Oi, Romero, sou do Jornal do Commercio, do Recife...”

“Ah, você é de lá? Que maravilha!”

Antes mesmo de a entrevista começar, o artista plástico pernambucano Romero Britto, de 52 anos, já mostrava empatia com a terra natal, justamente o tema que iria ser abordado na conversa. Em pleno Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ele deu uma pausa no evento em que era anunciado como parceiro da Coca-Cola para os Jogos Olímpicos do Rio em 2016 e aceitou ter uma conversa mais reservada sobre as suas raízes. Vivas como as cores de seus trabalhos, apesar de desde 1988 morar em Miami, no Estado da Flórida (EUA). À vontade por bater um papo com um conterrâneo, ele revelou lembranças e dificuldades da infância. Confessou que gostaria de ter uma escultura com sua assinatura no centro da capital pernambucana e anunciou em primeira mão que em 2017 planeja lançar uma coleção inspirada nos casarões e pontes da capital pernambucana.

A entrevista exclusiva estava sendo negociada desde uma semana antes do evento e, quando chegou o momento, Romero, um dos nomes mais conhecidos e controversos da arte contemporânea, não se esquivou de nenhuma pergunta. Inclusive aquelas sobre as recorrentes críticas ao seu trabalho que, embora seja um sucesso incontestável de público, não goza do mesmo prestígio na classe artística. “A gente vive em um mundo em que as pessoas têm liberdade para poder falar. Às vezes é uma pena porque as pessoas não conhecem a minha arte, nunca fizeram um estudo aprofundado para saber quais são as minhas intenções. É muito fácil criticar assim, e até é um pouco de inveja também. Em vários momentos da história alguns artistas não foram bem entendidos como Picasso e tantos outros. A história da arte não tem espaço para os críticos e, sim, para os artistas. Podem falar, isso não me importa. Só não quero que minha arte não emocione ninguém. É terrível não provocar nada. Enquanto minha arte continuar mexendo com as pessoas tudo bem!”, desabafou o artista plástico que segue colecionando, na mesma proporção exponencial, críticos e admiradores.

A ideia da entrevista é retratar quem já fez o mesmo com grandes personalidades mundiais como Michael Jackson, Madonna e Arnold Schwarzenegger (a lista é extensa e cresce cada vez mais, assim como os cifrões do artista). No texto ou na tela, tudo começa com os primeiros rabiscos. Iniciamos, portanto, querendo saber o que tem de Pernambuco nas suas conhecidas e reconhecidas tintas. “A alegria e o colorido da minha terra estão no meu trabalho e levo para tudo quanto é lugar”, garantiu Romero, que disse ter muitas lembranças do Recife. Perguntei como elas se materializam em termos pictóricos: “As praias! Eu adorava a praia, a água do mar, era delicioso”. E em termos de sabor? “Cocada! Adoro doce, eu acordava à noite para comer açúcar. Até hoje eu tenho uma luto para me cuidar e não comer tanto açúcar”, confessou.

Mas nem tudo foi tão doce para Romero, é verdade. Ele disse que também provou do amargo da pobreza. “Quando estava crescendo no Recife, era tão complicada a minha infância que as dificuldades me deram a força para eu mudar e me transformar”, afirmou o artista que, de fato, se transformou aos 8 anos, quando começou a pintar em sucatas, papelão e jornal. “Pobreza em qualquer parte do mundo é complicado. Não estou dizendo com isso que a minha infância foi mais difícil que a de uma criança na África ou na Ásia”, pontuou, sem querer se fazer de vítima, quando o papel que sempre encarnou foi o de protagonista da própria vida.

As dificuldades da infância típicas do Brasil o fizeram traçar um paralelo com outras encontradas nos exterior. “Há crianças em países desenvolvidos como os Estados Unidos que, apesar de toda a riqueza, têm problemas familiares. Então você acaba tendo tudo e, ao mesmo tempo, nada. É o carinho, o amor, a direção do pai, a mãe perto de você. Acontece isso nos Estados Unidos, o problema não é a pobreza, mas a falta do calor humano. E uma coisa que eu sempre tive quando estava crescendo foi o amor da minha mãe. Então isso me ajudou bastante”, pontuou.

Ao rememorar os tempos de estudante, Romero revelou pela primeira vez um desejo para uma próxima coleção em homenagem ao Recife. “Lembro de mim indo para o Colégio Marista, onde ganhei uma bolsa, no centro do Recife, e vendo as casas coloridas. Nos prédios, você sabe, tem o azul, o amarelo, é tudo bem colorido. Eu realmente quero fazer uma coleção só inspirada nos casarões do Recife. Eu adoraria. Acredito que em 2017 ou 2018 eu devo começar”, disse, para em seguida lembrar de um outro tema a ser incluído nesta coleção. “As pontes, também, porque eu acredito muito que minha vida, ou melhor, a minha arte é uma ponte que todo dia está me levando a lugares e pessoas diferentes”.

Romero confessou ter um desejo que gostaria de ver realizado na cidade. “Eu adoraria ter uma grande escultura lá no Recife. Um amigo meu, que começou a colecionar a minha arte há muitos anos, até me falou um dia desses: ‘Romero, como é que aqui a gente não tem uma escultura sua?’”, revelou. Sobre o local onde gostaria de ver a obra de arte erguida, ele responde: “Queria no centro da cidade, por ter passado muito por lá quando era estudante e por ser um lugar onde muitas pessoas poderiam vê-la”, respondeu, ao final da entrevista em que foi mais o Romero de Pernambuco do que o Britto do mundo. sessor de imprensa de Federação Pernambucana de Surfe, correspondente fotográfico da revista Hard Core, entre outros trabalhos.

Últimas notícias