Instalada perto da janela do pequeno avião BAe 146, Katherine Willis avista a grossa camada de neve margeando a pista de pouso. Não se contém. Aplaude e sorri compulsivamente. “É muita emoção ver todo esse gelo, saber que estamos aqui. Quase posso chorar”, descreve a eufórica jovem norte-americana. Professora de espanhol em Nova Iorque, ela se impôs o desafio de percorrer os seis continentes antes de completar 30 anos de idade. Em 30 de dezembro de 2012, a poucos meses da data limite, Kath cruzava a última fronteira para pisar em solo antártico.
Katherine e outros 69 passageiros entravam naquele dia para a seleta estatística de 0,3% da população mundial que já teve a oportunidade de conhecer a Antártida. A reação de Kath está longe de ser exagerada. É mesmo difícil descrever a enxurrada de sensações que aquela paisagem desperta.
A Antártida hipnotiza no primeiro contato. Chegar até ali, mesmo dentro de um programa turístico, é como reviver em proporções mínimas a aventura de exploradores como Amundsen, Mawson, Scott e Shackleton, que entre os séculos 19 e 20 arriscaram a vida para desbravar o imenso território gelado e configurar o atual mapa antártico. De lá para cá, pouco mudou nesse continente selvagem, com 14 milhões de km² (quase duas vezes a área do Brasil), 99,7% deles coberto por um manto de gelo de até 4,8 mil metros de espessura.
A vastidão branca contrasta com um céu azul translúcido de tirar o fôlego. E não se trata apenas de retórica. Praticamente inexiste vapor d’água no ar. Com altitude média de 2.250 metros e picos que superam os 4 mil metros, o continente não só é o mais alto do mundo, como também se revela mais seco que o Deserto do Saara. E ainda mais frio que a Lua e Marte (a menor temperatura já registrada foi de 89,2 °C abaixo de zero, na estação russa Vostok, em 1983). Em condições tão severas, não é de se estranhar que nunca tenha havido uma grande população fixa na região, nem mesmo de indígenas.
Nessa terra de extremos, cabe à natureza em estado bruto dar o seu show de superlativos. Geleiras de desenhos inusitados, ilhotas povoadas por pinguins, focas e lobos-marinhos, pássaros de várias espécies, baleias majestosas e icebergs gigantescos atraem cada vez mais turistas ao continente.
Como permaneceu oculto à ação humana até os últimos 200 anos, o ambiente antártico é o mais preservado da Terra. Por isso e pela influência que exerce na regulação térmica, se tornou essencial para entender as mudanças climáticas do planeta. Não por acaso, serve de laboratório a céu aberto para cientistas de todo o mundo, desde que, em 1961, o Sistema do Tratado da Antártica definiu o lugar como território neutro dedicado à ciência e à paz.
Sem limites políticos e sem o risco de exploração econômica – pelo menos até 2048, quando vence a moratória imposta por tratados ambientais –, a Antártida se abre à contemplação. Visitá-la tornou-se relativamente simples para quem gosta do turismo de expedição. O melhor período para o programa é durante o verão, de outubro a março, quando as temperaturas estão entre -5 °C e +5 °C na costa.
Cerca de 95% do turismo nessa região têm como destino a Península Antártica. No interior do planalto polar, ventos de até 300 km/h desanimam até o mais bravo aventureiro. Frente à monotonia do coração da Antártida, a península possui uma paisagem mais variada, com fiordes que conduzem a belos glaciares e portos temporários livres de gelo, onde floresce uma curiosa flora de musgos e líquens.
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