Semana passada, o Ministério das Comunicações publicou o cronograma para a implantação obrigatória do middleware Ginga nos aparelhos de TV fabricados no Brasil. O Ginga é o último elemento para implantação da TV digital brasileira, ativa desde o dia 2 de dezembro de 2007, e hoje presente em 457 cidades (45,4% da população), de acordo com o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD).
O cronograma representou uma pequena vitória por parte das fabricantes, que garantiram o adiamento da obrigatoriedade de do Ginga para o ano que vem. O medo da indústria é que a obrigatoriedade já valesse para este ano. No entanto, o fato de a lei obrigar a presença do Ginga não quer dizer que a utilização do middleware seja massificada.
Segundo o cronograma, a implantação do middleware é opcional para a produção de 2012. A partir de janeiro de 2013, no entanto, 75% das TVs fabricadas no País têm que vir com o programa. Somente em 2014, ano de Copa do Mundo, é que 90% dos aparelhos devem incluir o Ginga. O problema é que, apesar de estar previsto no papel, o Ginga pode “não pegar” simplesmente pela falta de um modelo de negócios que viabilize a produção de softwares e conteúdo interativo.
“Do jeito que está hoje, quem comanda a interatividade são as emissoras de TV. E elas têm um modelo de negócio baseado em propaganda. Certamente não vão investir na interatividade de uma forma que torne isso rentável para os desenvolvedores de menor porte”, comenta o pesquisador especialista em TV do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), Jorge Cavalcanti. Ele defende que o Fórum SBTVD crie com urgência um modelo de negócios que contemple, por exemplo, a criação de uma loja de aplicativos para que outros desenvolvedores criem softwares voltados para a TV digital.
“Esse modelo de interatividade não pegou em lugar nenhum do mundo. Tudo bem que a TV no Brasil tem um aspecto muito particular. Mas mesmo assim fica muito difícil fazer a interatividade do SBTVD funcionar, se não tenho um canal para escoar a produção”, diz. Na opinião do pesquisador, esse é apenas um dos fatores que ameaça o futuro do Ginga.
“As fabricantes todas têm suas Smart TVs, com lojas de aplicativos. Até o Google e, segundo dizem os rumores, a Apple, estão nesse negócio. Então, para que as fabricantes irão querer instalar um middleware se elas já têm os seus e, mais ainda, para que obrigar a interatividade em 100% dos aparelhos, se não temos sinal digital em todo o País?”, comenta Cavalcanti. “Acontece que muitos produtores que estavam empolgados com o Ginga passaram e se voltar para as Smart TVs”, conta o pesquisador. Ele lembra ainda que, para haver interatividade real (no Ginga e nas Smart TVs), é preciso utilizar o canal de retorno, ou seja, ultra banda-larga.
“Atualmente, a única experiência com interatividade que temos é a busca por mais informações. É algo que as emissoras enviam e que pode ser acessado localmente. Não temos nada de interatividade real no Brasil e para que isso aconteça é preciso ampliar o PNBL”, destaca o pesquisador. O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) prevê conexão de 1 Mbps a R$ 35.