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Cesar vive de resolver problemas

Maior empresa do polo, com faturamento de R$ 59,6 mi, Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife não cansa de se reinventar

Jacques Waller
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Jacques Waller
Publicado em 16/08/2012 às 16:18
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Mais do que identificar problemas para solucioná-los, parece que o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar) gosta mesmo é de criar problemas para poder reinventar a si mesmo, seus clientes e os próprios negócios que gera. A instituição nasceu em 1996 no Centro de Informática (CIn) da UFPE, com a intenção de reter os profissionais que, na época, estavam indo para o exterior atrás de trabalho.

Hoje, o Cesar é a mais antiga e a maior empresa do Porto Digital, com 584 funcionários, faturamento de R$ 59,6 milhões e ainda filiais em São Paulo (SP), Sorocaba (SP) e Curitiba (PR). Um caminho de sucesso, mas que requereu reformas, remendos e sacrifícios que ainda hoje estão sendo trabalhados.

“Se você subir em um prédio alto e olhar para o Cesar, vai ver uma grande lona preta lá. Preferimos investir nas pessoas que na recuperação do telhado”, conta o superintendente da empresa, Sérgio Cavalcanti. A lona, algumas paredes descascadas e um banheiro que ele mesmo admite ser inadequado são pendências na estrutura física que deverão ser endereçadas assim que outra reforma, a do prédio do Cesar Brum, também no Bairro do Recife, terminar. “Hoje nós podemos fazer reformas. Temos dinheiro para isso. Mas somente em 2010 pudemos respirar e, no ano passado, pagamos nossas dívidas”, diz Cavalcanti.

As palavras do executivo são carregadas de alívio. O gestor lembra que a partir de 2007 a empresa sofreu um baque com a crise econômica, que afetou profundamente os negócios do principal cliente do Cesar. “Nós já vínhamos num processo de diversificação da nossa carta de clientes, mas dependíamos muito deles. E isso influenciou bastante o jeito como trabalhamos hoje”, conta o superintendente. O tal jeito a que ele se refere diz respeito a projetos curtos, com dois meses de duração, e 60 clientes ativos. “Temos reunião toda semana com cada um deles.”

Mas a criação (ou identificação) de problemas e a paixão por solucioná-los também ditou a evolução interna da companhia. Um exemplo claro foi o início da dinamização dos contratos, quando os desenvolvedores do Cesar começaram a rodar de projeto em projeto, tudo para fazer o conhecimento fluir e tornar os engenheiros mais capacitados. “Mas aí acabou que todo mês o engenheiro tinha que mudar de equipe. Eles começaram a ficar sem referências, sem um norte. Foi aí que criamos nosso programa de monitoria”, diz Cavalcanti.

Hoje, assim que entram, desde o estágio, os contratados são relacionados a um dos profissionais mais antigos, como o designer H.D. Mabuse ou o professor do CIn Paulo Borba.

Para entrar na empresa, aliás, é preciso encarar um verdadeiro vestibular. Além de haver concorrência de 35 candidatos por vaga (foram mil currículos recebidos este ano), os profissionais que são contratados devem possuir o que eles mesmos chamam de “DNA do Cesar”. “Hoje nós preferimos formar um profissional desde o estágio a contratar gente de fora. Pouca gente se adapta ao nosso jeito de trabalhar”, diz Cavalcanti.

Esse DNA, segundo alguns dos funcionários, envolve um certo despojamento, uma liberdade e, ao mesmo tempo, um senso de responsabilidade para com a comunidade. “Sei que muitos dos que trabalham no Cesar não estão aqui por causa do salário. E muitas vezes o profissional sai daqui para ganhar o dobro e, com seis meses, volta. Nós praticamos uma liberdade que a gente nem percebe”, conta Cavalcanti. Ele lembra de uma vez em que um funcionário entrou em sua sala para cobrar uma reforma no banheiro. “Isso não acontece em lugar nenhum”, comemora.

Mas nem tudo são benefícios. Mesmo com tantas aparentes vantagens, o Cesar tem sofrido um tipo de apagão de mão de obra bem mais complexo do que a simples falta de técnicos. “Estamos sentindo a falta de empreendedores. Não tem gente no mercado que queira criar negócios. Esses cursos de empreendedorismo que existem por aí são ótimos, mas só para quem já tem esse impulso de empreender”, diz. E criar novos negócios é o primeiro item na lista de projetos da companhia para um futuro próximo.

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