Em 2014, um antigo navio de cruzeiro deve ser ancorado a 12 milhas da costa de São Francisco, na Califórnia, em águas internacionais. Hospedados nas pequenas cabines que servem de escritórios em alto-mar com acesso a internet de alta velocidade cerca de mil empreendedores de diferentes partes do mundo vão viver por meses na embarcação.
A iniciativa exótica é uma oportunidade para empresários estrangeiros realizarem o sonho de administrar suas startups ao lado do Vale do Silício, um dos maiores polos de tecnologia do mundo, mesmo sem ter um visto de trabalho. O navio Blueseed, como é chamado, é um projeto que mobiliza empreendedores desde 2011. A iniciativa adota o princípio do Seasteding, movimento que defende a criação de cidades flutuantes e que tem como entusiasta o investidor Peter Thiel, cofundador do PayPal.
Um dos responsáveis pelo Blueseed é Dan Dascalescu, um ex-desenvolvedor de software do Yahoo e embaixador do movimento Seasteading. “Os oceanos são o único lugar que os governos não controlam, o que nos permite testar novas formas de organização social”, disse Dascalescu.
Os fundadores do Blueseed também querem driblar a dificuldade para obter visto de negócios nos Estados Unidos, em um momento em que a reforma nas leis de imigração - que prevê a criação de um visto para startups estrangeiras - enfrenta dificuldades para ser aprovada no país. “Neste momento o Blueseed é a melhor solução para a falta de vistos a empreendedores”, diz Dascalescu.
Para embarcar no navio, basta ter o passaporte e visto de turismo, que no caso dos brasileiros garante três meses de permanência. Quem ficar na embarcação por mais tempo pode precisar de um documento chamado Advance Parole, uma autorização para pessoas sem visto válido retornarem ao território após viagem internacional.
Uma balsa vai garantir o deslocamento diário de ida e volta ao Vale do Silício, que pode ser alcançado em 30 minutos. Até agora 1,4 mil empreendedores de 68 países se candidataram para morar e trabalhar no navio. São mil vagas disponíveis. Eles vão pagar a partir de US$ 1,2 mil por mês por uma cabine com capacidade para quatro pessoas. Inicialmente, o navio tinha previsão de zarpar em 2011, mas o projeto foi adiado por causa da complexidade.
Entre os candidatos estão 15 brasileiros. Um deles é Adriano Telles, da startup Dia de Feira, que vendia cestas de frutas e fechou as portas recentemente. “O processo para conseguir visto de negócios é muito burocrático”, diz. “A vantagem do confinamento é a troca de ideias e experiências com pessoas que têm o mesmo ideal.”
Outro brasileiro inscrito no projeto é Felipe Pires, do aplicativo de mensagens VoteChat, que abriu um escritório na Índia. “Esse projeto atende as pessoas com um apetite grande por risco”, diz. Já os fundadores da Easy Taxi desistiram de embarcar. “Acho que o Blueseed é um projeto legal para empresas 100% de tecnologia. Já para o nosso negócio, que depende de sair na rua para validar o produto, não teria como aprender estando em alto mar”, diz Tallis Gomes, fundador da empresa.
O Blueseed recebeu US$ 9 milhões de investidores privados e de fundos como a Bit Angels, que apoia startups que usam a moeda Bitcoin. Para sair do papel precisa de US$ 28 milhões. O navio Island Escape, que fez cruzeiros na costa brasileira, é um dos candidatos para ser usado. “Vamos recondicionar um navio já existente porque é a forma mais eficiente de iniciar o projeto”, diz Dascalescu. A meta é construir uma estação flutuante no futuro. No ano que vem, um comitê deve escolher as empresas que vão embarcar. Enquanto isso, o grupo busca outros investidores e negocia com autoridades para minimizar os riscos legais.