Muito vulneráveis atualmente, os smartphones podem se transformar no próximo alvo favorito dos hackers, que se aproveitam da negligência e da inocência dos usuários ao usar o aparelho.
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"O mercado de celulares é regido pela inovação e se concentra sobretudo em ter as novas funcionalidades ligadas ao marketing mais do que na segurança e no respeito à vida privada", analisa James Lyne, entrevistado durante o Mobile World Congress que termina nesta quinta-feira em Barcelona.
Responsável pela segurança global na Sophos, Lyne responsabiliza os fabricantes pela sensibilização insuficiente dos consumidores. Apenas 40% deles utiliza um código PIN.
Na apresentação do Galaxy S6 no domingo em Barcelona, a Samsung insistiu na aparência, na recarga sem fio e na qualidade de sua câmera fotográfica, mas apenas se referiu à proteção antivírus.
Por isso, explicou à AFP Tanguy de Coatpont, diretor-geral da Kaspersky Lab France, "vivemos com os smartphones o que experimentamos com os computadores há 15 anos".
"Cada vez há mais problemas de segurança porque com sua potência se transformam em pequenos computadores, conectados permanentemente", acrescentou.
O estudo mais recente dessa empresa especializada em antivírus mostra que 28% dos usuários ignoram tudo ou quase tudo sobre os aplicativos, o que favorece os cibercriminosos.
O mais surpreendente é que 26% das pessoas consultadas eram conscientes dos riscos, mas não se preocupavam. Esta irresponsabilidade transformou os smartphones nos últimos 2 anos em alvos fáceis dos hackers.
Segundo a Alcatel-Lucent, 16 milhões de pessoas foram vítimas destes ataques em 2014.
"Estamos em crescimento por volume as vezes superiores a 400% de trimestre em trimestre", mas falta muito para que os números se aproximem dos ataques aos computadores, diz David Grout, diretor para Europa do Sul da Intel Security.
"É um vetor de risco cada vez mais importante porque os hackers têm ao alcance de suas mãos várias informações pessoais (...) principalmente financeiras", acrescenta.
Poucos modelos seguros
Seja os modelos básicos ou os de alta tecnologia, os celulares de geração não foram fabricados pensando em segurança, salvo a rara exceção de um modelo como o Blackphone 2, apresentado na segunda-feira em Barcelona.
Como o modelo anterior, lançado em 2014, este smartphone protege em teoria seu proprietário dos ciberataques e da vigilância das agências de espionagem.
Por mais de 600 dólares, o último celular da empresa Silent Circle permite fazer chamadas ou enviar mensagens cifradas a um smartphone clássico. Trabalha no mesmo mercado que a BlackBerry, voltada especialmente para empresas, expostas a maiores ataques, pois os aparelhos de seus funcionários não estão protegidos.
Neste mercado, o grupo francês CS Communication et Systèmes apresentou em Barcelona uma solução baseada em um cartão de memória micro-SD que deve ser inserido no aparelho para proteger as conversas e o envio de dados.
"Os ataques acontecem principalmente no Android, uma plataforma muito aberta que domina mais de 80% do mercado", diz De Coatpont.
Mas o sistema operacional da Apple, o iOs, apesar de ser considerado mais seguro que o da Google, também não está imune.
"No último mês, no Reino Unido, a versão do iPhone para o aplicativo de encontros gays Grindr foi pirateada", revela Sean Sullivan, investigador na F-Secure. Os hackers esperam que as vítimas não denunciem suas atividades para não revelar sua orientação sexual, acrescenta.
"Se fez necessário que um vírus tão potente como o Cryptolocker de 2013 fosse lançado na versão celular para criar um impacto na opinião pública", diz Sullivan, se referindo a esse software feito na Rússia.
Este vírus restringia o acesso a parte do sistema do computador e pedia um resgate para o proprietário para recuperação. Agora ele já pode afetar também os celulares.
Mesmo pagando, suas vítimas teriam uma possibilidade muito pequena de recuperar seus dados.
Hoje os especialistas recomendam a instalação de antivírus que controlem a navegação na internet e o download de aplicativo apenas em plataformas oficiais.