TECNOLOGIA

Apple adiciona emoticons para agradar a todos

Abaixo-assinado de internautas funcionou. Agora há carinhas de asiáticos, negros, latinos e casais gays

Mariana Mesquita
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Mariana Mesquita
Publicado em 12/04/2015 às 8:00
Ilustração: Ronaldo Câmara/Editoria de Artes
Abaixo-assinado de internautas funcionou. Agora há carinhas de asiáticos, negros, latinos e casais gays - FOTO: Ilustração: Ronaldo Câmara/Editoria de Artes
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Tá feliz? Tá triste? Tá com sono? Os emojis, aqueles “bonequinhos” que demonstram emoções e são cada vez mais utilizados nas conversas nas redes sociais e no WhatsApp, vêm tendo sua importância simbólica cada vez mais reconhecida. E após receber várias críticas dos usuários norte-americanos sobre a falta de representação de minorias em seu “banco de carinhas”, com direito a abaixo-assinado capitaneado pela cantora Miley Cyrus, a empresa Apple lançou, na última quarta-feira (8), a versão iOS 8.3 de seu sistema operacional para iPhone, iPad e iPod Touch, trazendo 300 novos emojis representando negros, asiáticos, latinos e casais homossexuais, entre outros ícones.

“São recursos que chegam para somar, acrescentar algo a nosso arsenal de comunicação. Considero essa mudança interessante, porque amplia a possibilidade de se mostrar às pessoas em sua diversidade, de ter várias formas de expressão do ser humano”, analisa o psicólogo clínico Igor Lins Lemos, que é pesquisador sobre dependências tecnológicas.

Ele destaca que, embora alguns grupos se sintam mal representados, afirmando que certas imagens tendem a criar estereótipos (ao utilizar, por exemplo, uma dançarina de vestido vermelho para simbolizar uma mulher latina), as “carinhas” teriam uma função positiva, ajudando a estabelecer a empatia, a emoção da conversa.

“Há pesquisas comparando as reações das pessoas que receberam mensagens com e sem emoticons, e o grupo que se comunicou só por texto teve um resultado mais pobre do que aquele que utilizou figuras. Quando você escreve bom dia e coloca uma carinha sorrindo, quem recebe tem a tendência de reconhecer internamente a expressão da felicidade”, explica. Especialista em cybercultura, o professor do curso de comunicação da UFPE, André Vouga, é outro defensor da novidade. “Ela traz uma pluralidade interessante”, avalia, para na sequência afirmar que esse aumento de diversidade seria mais amplo e democrático se o sistema da Apple não fosse tão fechado. “Em outros sistemas, como o Android, cada usuário ou comunidade tem a liberdade de produzir a sua própria imagem, a forma que deseja utilizar para ser representado”, pontua.

MARKETING

Representantes dos grupos “beneficiados” pela novidade elogiam a iniciativa, mas entendem-na como ação de marketing. “É uma jogada inteligente para agradar aos consumidores e, com isso, tentar vender mais os produtos da marca”, resume o ativista LGBT Jair Brandão, que coordena a organização não-governamental Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero. “Claro que é muito importante que uma empresa tenha a preocupação de incluir a todos, respeitando as diversas identidades sexuais e etnias. Mas o fato é que a inclusão vai além disso. Vivemos num sistema capitalista, onde quem tem um iPhone 4, quer comprar o 5, o 6, quase como se fosse uma mania. Seria bom que a Apple pensasse também em criar preços inclusivos”, provoca.

Já o sociólogo e servidor público Eduardo Oliveira, militante histórico do Movimento Negro, diz que trabalhar com a diversidade deveria ser o ponto de partida de qualquer empresa, mas que isso não é o usual. “Citar os novos emojis talvez até pareça algo simples demais, mas não é. Seria maravilhoso que isso não tivesse sido gerado por pressão, por uma demanda da sociedade. Acho que é uma ação no campo simbólico que pode trazer muitas reflexões, especialmente para o Brasil, um País extremamente diversificado e onde a questão do fenótipo sempre foi muito forte. Se você não usa esse recurso para agir positivamente, fica muito difícil agir para mudar nosso imaginário. Nós somos ainda o país da televisão sueca, onde não é normal entrar num hospital e ver um médico negro. Por isso, infelizmente, essas pequenas ações de caráter simbólico são muito mais importantes do que deveriam ser”, comenta.

DECEPÇÃO
Usuário de iPad e MacBook, Eduardo baixou o novo sistema operacional no dia em que a nova atualização foi disponibilizada no Brasil. “Me atraí inicialmente pela possibilidade de ter o sistema em português”, confessa. “Depois, me disseram que tinha essa gama de tons de pele nos bonequinhos, mas eu fui procurar e não achei. Fiquei meio decepcionado, e imagino se essa mudança não faz parte do pacote destinado ao Brasil. Embora as multinacionais tenham políticas de diversidade em seus países de origem, quem faz a Apple no Brasil são os brasileiros, e aqui se acha que não é necessário tratar disso seriamente, que vivemos num paraíso racial”, critica.
De acordo com a empresa, as mudanças vão ser lançadas de forma gradual entre os usuários, o que pode fazer com que alguns consigam ter acesso às novidades antes dos outros.

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