Para quem está pensando em comprar um carro importado é bom se apressar. As constantes variações no dólar ameaçam o mercado dos automóveis estrangeiros. O risco é que os fabricantes que importam seus produtos baseados na moeda norte-americana repassem para o consumidor pelo menos parte da alta que o dólar vem sofrendo nas últimas semanas. A cotação no câmbio oficial ultrapassou os R$ 3,15 na semana passada e, no paralelo, pode ser encontrado até por R$ 3,40. É o maior valor do dólar em 10 anos. A boa notícia é que essa crescente do dólar ainda não atingiu a maioria dos modelos importados vendidos no Brasil. A má notícia é que isso pode acontecer a qualquer momento.
O professor de economia da UFPE, João Policarpo, diz que o câmbio é muito volátil, ou seja, a cotação da moeda pode baixar a qualquer momento, mas a tendência é que isso não aconteça. “A economia americana está fortalecida. Isso faz o dólar subir no mundo todo”. A consequência é que importar produtos (incluindo automóveis) fica mais caro e o resultado é que o preço vai estourar na mão do consumidor. “Pode não ser imediato, mas o repasse deve ser feito, nem que seja parcialmente”, afirma o professor.
Muitos sabem que os fabricantes trabalham com uma margem de variação cambial. O problema é que o dólar subiu mais que as previsões e certamente obrigou as empresas a rever valores. A reportagem do JC entrou em contato com lojas que vendem carros importados no Recife. Apenas a Mercedes-Benz confirmou o repasse para alguns modelos da linha AMG, a de superesportivos. Mesmo assim, em índices menores do que a alta do dólar. Os reajuste variaram de 3% a 6%, dependendo do modelo. Leônidas Cardoso, gerente-comercial do grupo Rodobens, revenda Mercedes-Benz no Recife, diz que o restante da linha Mercedes não foi afetado e que a marca está fazendo o possível para não reajustar preços por conta do dólar.
“O momento não é de aumentos. A marca está utilizando seus estoques para segurar os preços, mas não sabemos até quando”, revela. O mesmo discurso tem José Augusto Pontual, diretor de vendas da Audi no Recife. “O dólar ainda não impactou os preços. Mas isso não quer dizer que os próximos lotes de carros terão os mesmos valores. A política de preços é determinada pela marca que importa os carros oficialmente”, diz Pontual. Marta Queiroz, gerente de vendas da Rota Premium que representa as marcas Jaguar e Land Rover na capital pernambucana, informa que a alta do dólar também não afetou os preços. Ela lembra que os carros vendidos por ela são fabricados na Inglaterra onde o impacto do dólar é menor. Apesar da afirmação, ela reconhece que o aumento não está descartado.
A relutância dos importadores em aumentar os preços tem uma explicação. As 28 marcas de automóveis e comerciais leves vinculadas à Associação Brasileira das Empresas Importadoras (Abeifa) registraram queda de 22,9% no mês passado, no comparativo com janeiro último. Em relação aos resultados de fevereiro de 2014 a queda foi ainda maior: 32,5%.