Motocicleta é um veículo perigoso. Você pode se apaixonar por ela e aí não tem jeito. A paixão vai te deixar mouco aos conselhos contrários da família e dos amigos. Talvez, você até tome gosto por viajar em duas rodas e acabe preferindo andar em bando, com gente vestida de preto e que cultua imagens de caveiras. Nada vai poder afastar você do objeto amado, nem mesmo um acidente grave. Foi o que aconteceu com Luiz Rodolpho Cavalcanti. Ele é o melhor exemplo de quem considera a motocicleta não apenas um meio de transporte, mas sim uma filosofia de vida.
Rodolpho passou a maior parte dos seus 49 anos em cima de uma moto, paixão que desenvolveu com os primos, pai, avô e mãe, todos motociclistas. “Desde o final dos anos 70, quando ganhei uma Yamaha RD 50, aos 12 anos de idade, minha vida é adrenalina e vento no rosto”, diz o motociclista. São, portanto, 37 anos pilotando motos de vários tipos e cilindradas. No entanto, não entram nesta conta os dois anos que Luiz Rodolpho passou se recuperando do grave acidente que quase lhe tirou a vida.
“Foi no dia 22 de janeiro de 1989. Não tem como esquecer”, ele relembra. Um Opala avançou o sinal fechado em um cruzamento da Avenida Recife, Zona Sul da Cidade, e atingiu em cheio a moto que Rodolpho pilotava. Ele conta que da moto restou apenas o motor. Quanto a ele, ficou três dias em coma induzido e teve a perna direita praticamente arrancada pelo impacto da batida. “A tíbia se partiu em 12 pedaços e a cabeça do fêmur ficou destruída, junto com a bacia”, lembra o piloto. Os médicos conseguiram reimplantar o membro e tiveram que reconstruir a bacia e parte da coluna do piloto utilizando cerâmica e titânio. Ao todo foram necessárias 19 cirurgias e um longo período de reabilitação.
Hoje, Rodolpho consegue ficar de pé e caminha com dificuldade. De vez em quando utiliza bengala, muletas e cadeira de rodas para se locomover. Mas é em cima de uma moto onde se sente melhor. Enquanto ainda se recuperava do acidente, mesmo com a perna engessada, ele decidiu voltar a pilotar. A mãe entrou em desespero e ameaçou até bater no filho para fazê-lo desistir da ideia. A moto com a qual ele se acidentou, uma Honda CB 400 que era o sonho de consumo dos jovens na época, havia sido um presente dela.
Como ele convenceu a família de que tinha de voltar a pilotar? Não convenceu até hoje, diz sorrindo. Um dos motivos que ele alega para querer tanto voltar a sentar num banco de moto é que sente pânico quando está dentro de um automóvel. “É sério. Passo mal quando dirijo ou quando vou de carona num carro. Me sinto preso”, explica. Rodolpho nunca voltou a caminhar normalmente por conta das sequelas do acidente, mas voltar a andar de moto o fez sentir-se vivo novamente. Até que em 2011, ao tentar renovar a carteira de habilitação, foi reprovado na perícia médica.
Ele conta que se desesperou até que o médico o liberou para pilotar motos do tipo triciclo, ou seja, que não dependesse da força das pernas do piloto para se manter de pé quando parada. “Imediatamente comecei a pensar no side-car”, explica o motociclista, se referindo ao carrinho lateral que se acopla na moto. No início, ele utilizou um daqueles modelos feitos para carregar carga, como botijões de gás e garrafões de água mineral. Adaptou o side-car a sua Suzuki Intruder 125. No ano passado veio o desejo de ir mais longe: comprar a tão sonhada Harley-Davidson. “Queria uma moto maior e achei que estava na hora de ter uma Harley”, diz Rodolpho. O modelo escolhido foi a Forty-Eight, de 1.200 cilindradas. Adaptar um side-car a uma moto grande não foi fácil.
Tudo teve de ser construído artesanalmente e ainda ter a aprovação do Inmetro para a moto poder ser emplacada pelo Detran. No final, deu tudo certo e Luiz Rodolpho até ganhou o patrocínio de uma marca de bebidas para desfilar com sua Harley de três rodas por aí. O que faz na companhia da esposa, Izabel Cristina, com quem viaja e participa de encontros de motociclistas. “A moto é uma máquina de fazer amigos. Pra mim é tesão e é vida.”, resume.