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Geração de energia em Pernambuco

Não se pode continuar fingindo não saber que o uso de combustíveis fósseis na geração elétrica e em outras atividades, constitui a principal causa do aquecimento global

Heitor Scalambrini Costa*
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Heitor Scalambrini Costa*
Publicado em 09/04/2012 às 10:43
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Analisando o Balanço Energético de Pernambuco-BENPE (1998 foi o último ano disponibilizado) e informações mais recentes, verifica-se que apesar das fontes renováveis (hidreletricidade, carvão vegetal, lenha, álcool e bagaço de cana) ainda contribuírem com a maior parcela na oferta total de energia; estes energéticos vêm, ano a ano, reduzindo sua contribuição. Por sua vez, as fontes não renováveis (derivados do petróleo e gás natural), vêm aumentando sua participação, mostrando assim que a prioridade ao longo dos últimos anos foi, e é de incentivar os combustíveis “sujos” para atender a demanda energética do Estado.

Não se pode continuar fingindo não saber que o uso de combustíveis fósseis na geração elétrica e em outras atividades, constitui a principal causa do aquecimento global. No mundo, é a cadeia produtiva da energia, dependente fundamentalmente dos combustíveis fósseis, a responsável por 70% das emissões do principal gás de efeito estufa (GEE), o CO2.

Estudos  mostram que se as previsões de instalação de termelétricas no País, contidas no Plano Decenal de Expansão de Energia forem cumpridas, promoverão um aumento de 172% nas emissões de GEE em relação ao ano de 2008. E ai Pernambuco tem muito a contribuir.

No faraônico Complexo Industrial e Portuário de Suape está sendo implementado um polo de termelétricas a combustíveis fósseis. Já estão em funcionamento a UTE TermoPernambuco (grupo Neoenergia) no município de Ipojuca, que possui uma potência instalada de 532 MW, consumindo 2 milhões de m3/dia de gás natural e liberando 5.000 ton/dia de CO2; a UTE TermoCabo (grupo EBrasil) localizada no distrito industrial do município do Cabo de Santo Agostinho, conectada ao Sistema Interligado Nacional, com uma potência instalada de 50 MW, consumindo aproximadamente 250 ton/dia de óleo combustível e emitindo 800 ton/dia de CO2 (encontra-se no modo hot standby - pronta para operar), e a termelétrica Suape II (grupo Bertin), localizada no Cabo de Santo Agostinho, com  380 MW de potência instalada consumindo 2.000 ton/dia de óleo combustível, com emissão diária de 6.000 toneladas de CO2, quando em funcionamento.

Já a termelétrica Suape III (grupo Bertin), cujo protocolo de intenção foi assinado entre o empreendedor, e o Governo do Estado em 13/09/2011, considerada a maior do mundo, terá uma potência de 1.452 MW, e está planejada para operar com óleo combustível, com consumo estimado de 8.000 ton/dia e emissão de 24.000 ton/dia de CO2 , com inicio de operação para 2013; e a termoelétrica da Refinaria Abreu e Lima com óleo combustível, prevista com uma potência de 200 MW e com um consumo em torno de 1.000 ton/dia de óleo e emissão de 3.200 ton/dia de CO2.

A potência total deste parque de termelétricas será de 2.612 MW, e caso todas funcionem simultaneamente serão emitidos, segundo nossas estimativas, aproximadamente por dia, 40.000 toneladas de CO2 para a atmosfera. Para o atendimento destas usinas está prevista no acordo para construção de Suape III, uma unidade de armazenamento de óleo combustível de 200.000 toneladas.

Consumir óleo combustível e gás natural nas termelétricas significa devolver para a atmosfera, sob a forma de gases e particulados, uma massa enorme de carbono, de compostos de enxofre e de óxidos de nitrogênio, que foram retirados da Terra há milhões de anos. É uma imensa quantidade de carbono e compostos químicos que serão jogados na atmosfera, constituindo-se em uma agressão ao meio ambiente e contribuindo com as mudanças climáticas, com consequências inevitáveis a saúde das pessoas.

Além destas emissões, todo o receio de desastres com vazamentos e derramamento de petróleo/derivados em Suape é plenamente justificável. O alerta é necessário visto que, tais acidentes estão ocorrendo com frequência assustadora no Brasil, e atingiriam ecossistemas marítimos, colocando em xeque o futuro de comunidades costeiras que vivem da pesca; além de afetar as atividades turísticas da região, já que a menos de 10 km de Suape está localizado o balneário de Porto de Galinhas e de outras lindas praias do Litoral Sul pernambucano. Derramamentos e vazamentos de óleo afetariam drasticamente toda aquela região.

Do lado da saúde pública estas termelétricas já contribuem e contribuirão ainda mais para as emissões de gases extremamente perigosos como os óxidos nitrosos, compostos de enxofre, monóxido e dióxido de carbono (CO2) e metais pesados. Os atuais sistemas de filtragem e monitoramento, muito embora eficazes reduzindo as emissões, permitem que as quantidades destes produtos jogados na atmosfera sejam suficientes para aumentar a probabilidade de ocorrer doenças, particularmente as respiratórias, nas populações do entorno de Suape. Quanto ao gás CO2 não existe nenhum sistema de filtragem eficaz. Logo, é ou não é, para no mínimo,  preocuparmos com que está ocorrendo naquela região a menos de 50 km do Recife?

*Heitor Scalambrini Costa é professor da Universidade Federal de Pernambuco

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