Coluna Cena Política

Geraldo Júlio, Paulo Câmara, Bolsonaro e o lockdown em Pernambuco

É preciso que cada gestor ou aspirante a gestor preocupado com a campanha eleitoral ponha a mão na consciência e se pergunte: "eu posso salvar mais vidas mesmo que coloque meu futuro político em risco, vale a pena?".

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 08/05/2020 às 11:08 | Atualizado em 08/05/2020 às 11:25
O governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). Foto: Andrea Rego Barros / PCR
Paulo Câmara e Geraldo Julio - FOTO: O governador Paulo Câmara (PSB) e o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB). Foto: Andrea Rego Barros / PCR

Depois de um dia inteiro de confusão sobre a possibilidade de se decretar lockdown em PE, o prefeito Geraldo Júlio (PSB) se pronunciou em vídeo. O gestor da Capital trouxe verdades incontestáveis. Sim, a culpa de toda a desunião do poder público em suas esferas, no meio de uma pandemia, é de Jair Messias Bolsonaro (sem partido). Não é uma questão ideológica, é prática. O presidente incentivou para que as pessoas fossem às ruas, assumiu a defesa de quem queria seguir rotinas anteriores, como se nada estivesse acontecendo, levantou bandeiras negacionistas e lançou soluções fáceis para um problema que ultrapassa os limites da imaginação em dificuldade. Foi como incentivar as pessoas a atravessar uma grande avenida fora da faixa de pedestres, reclamando que a tinta para pintar o chão no asfalto sairia muito cara.

Dito isto, agora, recorro ao calendário para observar uma coisa. A decisão do STF dando aos Estados e Municípios a autonomia para decidir sobre tudo o que se relacionasse com o combate a pandemia aconteceu em 15 de abril. Passaram-se 23 dias em que o Governo do Estado e as Prefeituras tiveram garantidos seus legítimos direitos a abrir, fechar e prender quem descumprisse ordens.

A verdade é que nesse período a circulação de pessoas nas ruas aumentou e pouco foi feito. Na avenida Beira Rio, na Madalena, fitas isolando o local, com acesso proibido por decreto estadual, foram colocadas. Da minha varanda observo a movimentação. As pessoas passam por baixo e vão fazer seus exercícios. Há policiamento no local. Gestores estaduais e municipais moram na área. E, curioso, ninguém é nem orientado a voltar pra casa.

E nem estamos falando de uma comunidade mais humilde, porque lá é ainda pior e não existe nenhum tipo de ação mais efetiva para colocar as pessoas de volta para casa e nem para orientar sobre como elas podem sobreviver ficando em casa, sem trabalhar.

O episódio das filas nas agências da Caixa Econômica é um exemplo. Quanto tempo se perdeu discutindo até na Justiça de quem era a responsabilidade? O resultado? Pessoas que estiveram naquelas aglomerações podem estar mortas daqui a 15 dias ou um mês, quando apresentarem sintomas e precisarem de hospitais. Em que a briga ajudou?

Quando um não quer, dois não brigam, nem se amam. Mas não impede que cada qual siga com suas convicções e com seu trabalho.

Geraldo está certo, não é hora de fazer política, mas é hora de ser sincero, mesmo que a sinceridade traga contrariedade pública. É hora de chamar os prefeitos, mesmo que virtualmente, e apresentar os números que foram apresentados aos chefes de poderes estaduais. Números duros e difíceis de encarar, mas são a realidade.

Se não é possível unir-se com o Governo Federal, que cumpram o atual e capenga pacto federativo e mandem dinheiro por obrigação. Aqui, é preciso unir-se com empresários conscientes e humanos, cientistas, pesquisadores, médicos, gestores municipais e trabalhar sem pensar em política, sem pensar em eleição.

É preciso inclusive que cada gestor ou aspirante a gestor preocupado com a campanha eleitoral ponha a mão na consciência e se pergunte: "eu posso salvar mais vidas mesmo que coloque meu futuro político em risco, vale a pena?”.

Cada cabeça tem uma resposta para isso.

Mas a resposta certa é uma só.

 

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