Xepa

Ao buscar centrão, Bolsonaro escolheu o caminho certo na hora errada. E isso muda tudo

Quando você está no início do mandato e sua popularidade permite, é possível escolher entre os partidos aliados aqueles que mais se identificam com o seu propósito. Quando você está desesperado, como Bolsonaro, pega o que oferecerem.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 01/06/2020 às 11:46 | Atualizado em 01/06/2020 às 11:48
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BOLSONARO Reprovação do presidente registrou novo aumento, puxado pela pandemia - FOTO: PR

Não há problema em fazer articulações com partidos políticos no Congresso e oferecer participação no Governo. O presidencialismo de coalizão utilizado bem por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula (PT) no passado (métodos à parte) foi o que deu estabilidade política ao País. Não por acaso, foram os únicos presidentes nos últimos 30 anos que conseguiram cumprir seus mandatos, do início ao fim, sem um impeachment.

Bolsonaro, inicialmente, decidiu que não ia seguir esse caminho, criminalizou a coalizão, chamou de toma-lá-dá-cá, ligou à corrupção. Isso desde a campanha. Somente agora resolveu mudar de ideia.

Quando justifica porque está buscando esse novo caminho, agora que “mudou de ideia”, argumenta que é necessário esse diálogo e alguns lembram, como eu fiz no início deste texto, os exemplos de FHC e Lula.

Mas não tem comparação. E explico: formação de base governamental precisa ser feita de forma ampla logo no início. Querer colocar algo na base de uma construção, quando até o telhado já está pronto, gera atritos e pode fazer ruir o edifício.

Com o passar das semanas e a mudança de rumo, os deputados bolsonaristas que já estavam ali vão vendo o discurso se afastar do que eles defendiam e alguns acabam se identificando menos com a gestão para não desagradar seus eleitores. Vão se afastar.

O momento da coalizão também diz muito sobre quem terá mais poder na relação. Uma coisa é oferecer espaços quando se está assumindo, saindo de uma eleição vitoriosa, com índices altos de aprovação. Você indica, você manda e todos farão o que for possível para estar com você. Quando a busca por apoio acontece em uma crise, com risco de impeachment e antigos aliados lhe abandonando, você apenas obedece. Nesse caso, numa emergência, o centrão salva, mas é quem manda.

E tem o problema de material. Quando você está no início do mandato e sua popularidade permite, é possível escolher entre os partidos aliados aqueles que mais se identificam com o seu propósito. Quando você está desesperado, como Bolsonaro, pega o que oferecerem.

E é por isso que figuras como Valdemar Costa Neto (PL) e Roberto Jefferson (PTB) saem das profundezas de seus afastamentos morais para um protagonismo surpreendente. O centrão não é formado apenas por figuras abjetas. Há quadros moderados e opções variadas para escolher quando você tem poder de negociação.

Mas quem chega tarde, pega a "xepa".

Bolsonaro escolheu o caminho certo, da coalizão, na hora errada.

E isso muda tudo.

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