Há derrotas que são vitórias e vitórias que são derrotas. Fossem apenas o que são, o mundo não seria dinâmico como é. O próprio resultado das eleições, por si, não foi apenas um resultado. O TSE conseguiu causar um problema em algo que era muito simples ao centralizar a apuração e fez a divulgação dos números empacar como não se via desde que as cédulas eram em papel. O TSE venceu a entrega dos números, mas foi derrotado em sua agilidade e vai dar margem para todo tipo de questionamento absurdo e insensato sobre a segurança das eleições, desnecessariamente.
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No Recife, o resultado trouxe muitas derrotas vitoriosas e vitórias derrotadas. João Campos (PSB), por exemplo, foi o vitorioso mais derrotado do 1º turno. Não que não mereça o primeiro lugar. Mas, porque esperava uma votação ao menos 10 p.p. acima do que alcançou. O problema de ter terminado com pouco mais de 9 mil votos acima da prima, Marília Arraes (PT), e apenas 29% do votos válidos, o coloca sob uma pressão absurda, que os socialistas não esperavam e não deveriam ter deixado existir. Porque uma campanha com mais de 400 candidatos a vereador pedindo votos para Campos em sua coligação, contra a do PT, que tinha pouco mais de 50 candidatos a vereador e na qual nem todos pediam votos para Marília, deveria ter tido um resultado mais expressivo.
Uma campanha com o maior volume de dinheiro da disputa, com R$ 7,5 milhões contra R$ 2,5 milhões da petista, deveria ter resultado muito mais elástico do que os 29% que alcançou contra quase 28% dela.
Marília ficou em segundo lugar, mas venceu e, agora, o exército de candidatos a vereador de João Campos sai de "folga" e não vai mais pedir apoio para ele como pedia antes.
E o senador Humberto Costa (PT), e seu grupo dentro do partido? Conseguiu ver o PT ir ao 2º turno, mas acaba derrotado, porque Marília provou que foi a escolha acertada da direção nacional.
A eleição teve mais vitórias derrotadas e derrotas vitoriosas ainda. O trio formado por Jair Bolsonaro (sem partido), Delegada Patrícia (Podemos) e Daniel Coelho (Cidadania) terminou em quarto na eleição, com 14% dos votos válidos. Se o objetivo fosse mesmo tirar o PSB e o PT do poder que exercem há 20 anos, como diziam insistentemente, até poderia ser considerada uma derrota. No entanto, ficou claro em vários movimentos, desde a formação da aliança inicial até a entrada de Bolsonaro no jogo, que o objetivo principal era impedir Mendonça Filho (DEM) de ir ao 2º turno e, talvez, virar prefeito vencendo o PSB.
Seja por vingança pessoal, birra, ou por maquinação política, o fato é que todos acabaram conseguindo o que queriam. É que, quando Bolsonaro entrou na campanha, fez com que a candidatura de Patrícia ficasse inviabilizada pela rejeição, mas conseguiu que ela parasse de perder votos para Mendonça. O cálculo, sobre a fina flor do orgulho ferido: "já que não posso ganhar, ele também não ganha".
Da parte de Bolsonaro, engana-se quem pensa que ele está preocupado com o Recife, com Patrícia ou se o PSB e o PT vão disputar a prefeitura. A preocupação do presidente, visando 2022, é somente evitar um crescimento ainda maior do DEM de Mendonça nas capitais brasileiras. Patrícia e Daniel foram usados, sabendo que estavam sendo usados, porque esse uso também atendia aos interesses deles.
Há uma preocupação de Bolsonaro porque já se entendeu que o DEM está crescendo em todo o país e que a eleição de 2022 deve marcar um retorno ao centro. O próprio presidente já está mudando suas atitudes e buscando partidos mais centrais como o PP e o PTB. O problema é que DEM e PSDB não aceitam Bolsonaro como aliado e o crescimento deles prejudica os bolsonaristas. No Recife, ao menos, a candidatura da Delegada Patrícia conseguiu ajudá-lo. E Daniel, querendo ou não, acabou participando dessa ajuda ao presidente.
E Mendonça Filho perdeu, mas também ganhou bastante. Porque depois de ter sido o candidato ao senado mais votado no Recife em 2018, terminou esta eleição com 200 mil votos na cidade e viu o DEM vencer em cidades importantes para ele, com aliados muito próximos ocupando as prefeituras de Bezerros e Belo Jardim, por exemplo. O sacrifício que fez em 2018, abrindo mão de tentar a reeleição à Câmara Federal, pode ter valido a pena para que ele amplie uma votação em 2022 se quiser voltar à Brasília. Mas, independente disso, 200 mil votos no Recife o coloca como uma das maiores forças da oposição no Estado.
Ele pode até não ser candidato ao governo, mas ganhou o direito de ser ouvido no futuro. E, em política, muitas vezes, ter o direito de ser ouvido é mais importante do que ter o direito de falar, porque para falar basta ter voz, ou um partido, mas pra ser ouvido é preciso ter consistência e passar credibilidade. São condições extremamente diferentes, que separam quem faz história de quem apenas participa dela.
Marília e Campos vão protagonizar uma das disputas mais acirradas da capital, com muito em jogo, inclusive o futuro de PSB e PT. Mas, vai ficar a impressão de que o futuro do Recife foi colocado em segundo plano para que o recifense escolha entre os "últimos oito anos" ou "os doze anos anteriores". E isso não é uma vitória.
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