A competência de Lula na construção de um personagem garante a polarização que não faz bem ao Brasil
Teremos o Brasil na polarização populista de sempre: o "jogo do contente" coletivo em que todo mundo acha que ganha, quando todos estão perdendo.
O personagem de Lula (PT) para a próxima eleição foi apresentado. E, gostando ou não dele, é preciso admitir que o ex-presidente seria um ótimo redator de novelas.
Criar e recriar "jornadas de herói" usando a si mesmo é uma especialidade dominada por poucos.
Na jornada de herói clássica, o personagem acredita que já deu sua contribuição para o mundo e pensa em se aposentar, mas uma grande injustiça ou necessidade o convoca novamente e ele é obrigado a enfrentar grandes dificuldades para salvar o dia novamente.
Lula tentou se afastar, mas "foi perseguido e suportou". Levou "chibatadas" e "não tem mágoas de quem segurou o chicote", mas está livre e, agora, "vai lutar para salvar o país de Bolsonaro".
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Basicamente, essa foi a construção do personagem feita pelo ex-presidente em seu pronunciamento, após ter sido liberado para disputar eleições.
Junte a isso o blazer, a barba e o cabelo aparados e o porte de "estadista" pop que fala a verdade, "mas tem responsabilidade".
Lula pretende se mostrar como opção viável para que o centro desembarque do governo Bolsonaro com segurança de que terá benefícios. Precisa ser opção segura para o mercado, prometendo ter responsabilidade com a economia e, ao mesmo tempo, manter a base do discurso utópico de esquerda que sustentaria uma frente eleitoral.
Não é fácil, mas Lula faz com que seja.
O problema de ele fazer isso tão bem é que ficou claro, nesta quarta-feira (10), que teremos o Brasil na polarização populista de sempre: o "jogo do contente" coletivo em que todo mundo acha que ganha, quando todos estão perdendo.