Picanha, cerveja...

Eleição propositiva será inviabilizada se vingar a polarização Lula x Bolsonaro. Populismo é a ordem

Mantido o cenário de Lula x Bolsonaro, não teremos uma real discussão sobre o futuro do Brasil. Vai ser a eleição da picanha, da cerveja, das armas e da religião e sobre quem é menos bandido

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Igor Maciel

Publicado em 11/03/2021 às 11:04 | Atualizado em 11/03/2021 às 12:17
Análise
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O problema da entrada de Lula (PT) na campanha eleitoral de 2022, tema já tratado aqui, é que a polarização entre dois populistas acaba engolindo qualquer discurso pragmático de uma terceira via de centro.

É difícil, no Brasil de cultura política pouco desenvolvida, vender um discurso equilibrado enquanto dois candidatos falam de picanha, cerveja, armas, formato da Terra e religião.

Bolsonaro e Lula seriam apenas caricatos num país com sobriedade democrática. Mas, democraticamente, não somos sóbrios.

A primeira consequência direta está nos arredores. À esquerda e à direita, candidaturas ficam, praticamente inviabilizadas.

Ciro Gomes (PDT), por exemplo, é o primeiro prejudicado. Chamado de "mal educado" e "metido a professor de Deus", por Lula, Ciro tende a ficar isolado novamente. Se Lula, preso, convenceu o PSB a abandonar o cearense em 2018, sendo candidato, é difícil imaginar o que pode fazer.

Luciano Huck, que ainda nem havia decidido se seria candidato e flertava com a centro direita e a centro esquerda alternadamente, por ser bastante conhecido do grande público, até poderia construir um discurso, mas tende a ficar esvaziado, exatamente por não se colocar à direita, nem à esquerda.

Sergio Moro atrapalharia Bolsonaro, tirando dele o discurso contra a corrupção. Mas também ficaria esvaziado, como ficaram os candidatos que levantaram sua bandeira nas eleições municipais.

Ao centro, João Doria (PSDB), Amoêdo (Novo), Mandetta (DEM), serão como pesos mortos.

E, o principal, qualquer desses candidatos, para participar do jogo e ter alguma chance, precisará descer ao nível dos dois polos populistas, ou ficará à margem, como ficou Alckmin (PSDB) em 2018.

Todo mundo vai ter que "vender cerveja e picanha".

A única coisa certa é que, mantido o cenário de Lula x Bolsonaro, não teremos uma real discussão sobre o futuro do Brasil. Vai ser a eleição da picanha, da cerveja, das armas e da religião e sobre quem é menos bandido.

Não é bom, como nunca foi. Mas estamos acostumados, infelizmente.

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