Putin, Lula, Bolsonaro e o vício em poder que maltrata e atrasa um país
O poder é difícil de alcançar, mas também vicia. E justamente por ser difícil de alcançar, ao preencher o vazio que ali existe, fica quase impossível se livrar dele.
O presidente Russo, Vladimir Putin, é o que se pode chamar de viciado em poder. Diferente do tempo em que se davam golpes de Estado com uso da força militar, o ex-agente da KGB, que manda no país há quase 22 anos, faz isso usando a Constituição com a constância necessária para nunca deixar o Kremlin.
Alguém pode dizer que, "ao menos as coisas vão bem por lá". Vão?
Como a imprensa não é livre e os cidadãos são controlados e tem ligações que podem ser ouvidas o tempo todo, fica difícil saber.
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Conversar, ao telefone ou pela internet, com qualquer pessoa que more no país, é uma comédia trágica, pelo malabarismo que se percebe no interlocutor, preocupado em não parecer que está criticando a "mãe Rússia", ou pior: Putin. Quem tiver oportunidade de uma conversa assim, observe.
Putin faz o que faz, altera a constituição, persegue e prende opositores, porque é viciado no poder que adquiriu.
A ditadura, no Brasil, também teve momentos de bons resultados na economia e de muita popularidade. Mas, as consequências foram muito piores. Os militares assumiram o poder para fazer uma transição, ficaram 20 anos. Porque o poder vicia.
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o príncipe dos sociólogos, democrata do primeiro time, se submeteu a uma eleição válida, é preciso reconhecer, mas também mudou a constituição para tentar ficar mais quatro anos como presidente. Porque o poder vicia.
Bolsonaro, que se elegeu prometendo acabar com a reeleição, mudou de ideia assim que foi eleito. Ao ponto de abandonar o governo e assumir a gestão de um palanque para a própria reeleição desde janeiro de 2019. Agora, o atual presidente toma atitudes que custam a vida de pessoas, porque precisa pensar na reeleição e não em remédios impopulares para uma crise causada por um vírus.
E o que dizer de Lula (PT)? Depois de tentar por 12 anos, o petista assumiu como presidente em 2002. Fez de tudo para manter-se no poder enquanto governou. Quando terminou o primeiro mandato, virou candidato à reeleição, apesar de ter sido o maior crítico de FHC quando a reeleição foi criada. Até defender o impeachment do tucano ele defendeu. Uma vez no cargo, as prioridades são outras e alimentar o vício é mais importante.
São incontáveis as histórias sobre como Lula falava aos mais próximos que Dilma Rousseff (PT) seria só uma ponte para um terceiro e quarto mandato dele próprio, Lula. Em 2014, antes de a ex-presidente partir para a reeleição, Lula esteve num evento em Recife. Na época, reclamou para quem quisesse ouvir que deveria ser o candidato, mas Dilma não queria desistir de maneira nenhuma. Chamou ela de "teimosa" e para alguns comentou que ela "tinha se apegado ao poder", que "queria provar algo". Mas o combinado era que ela passaria quatro anos e ele voltaria em seguida.
Por que Dilma insistiu? Viciada em poder. Ficou no cargo, mentiu aos brasileiros sobre a economia para garantir a reeleição. Só foi derrubada por um impeachment.
Agora, Lula quer voltar. Para um terceiro mandato. O momento é de uma fragilidade imensa, com o atual presidente cometendo um erro atrás de outro e mais de 320 mil mortes assolando o país. Lula, se fosse um líder e não um viciado, poderia estar ajudando a conduzir um novo nome, alguém que fosse a marca do equilíbrio necessário ao país, e não o dele próprio, que é um condutor de tensão. Mas, ele é viciado.
Fernando Henrique, que já agiu para manter o poder antes, hoje abre mão disso em nome do futuro. Fala-se que poderia até apoiar Lula, se isso "consertar as coisas". É um viciado em recuperação? Talvez.
Todo vício é construído a partir de um vazio. A busca pelo preenchimento desse vazio, seja com drogas, bebidas, jogo ou qualquer outra atividade, é o que edifica o vício. Depois que se deixa construir um prédio em zona de risco, fica difícil tirar quem mora ali e derrubar a estrutura.
O poder é difícil de alcançar, mas também vicia. E justamente por ser difícil de alcançar, ao preencher o vazio que ali existe, fica quase impossível se livrar dele.
Em toda história de vício, há o viciado e há os que sofrem em seu redor. Familiares e amigos terminam vítimas das consequências.
Nesse caso, quando o viciado é presidente ou aspirante a presidente do Brasil, quem mais sofre são os brasileiros.