Cena Política

Aliados de Lula estão torcendo para que as manifestações em Cuba terminem. E rápido

O ex-presidente ser obrigado a defender o indefensável, fingindo uma democracia em Cuba, enquanto reclama de ameaças à democracia brasileira, está perturbando quem faz os cálculos eleitorais no partido.

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Igor Maciel

Publicado em 16/07/2021 às 10:34 | Atualizado em 16/07/2021 às 10:39
Análise
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O ex-presidente Lula (PT) começou a se manifestar sobre os protestos contra o governo em Cuba, como se não houvesse motivo para falar do assunto.

Quando alguém tenta minimizar um tema sensível, está fugindo dele.

 

 

Depois, começou a jogar a culpa por tudo o que acontece na ditadura da ilha nos EUA. Outra fuga.

 


Agora, a coluna do Estadão traz que aliados dele no PT torcem para que as manifestações terminem logo e não seja necessário falar de novo.

Começou a ficar difícil dizer que "há democracia" num lugar em que a internet foi cortada e entrevistas são interrompidas com prisões, ao vivo.

O que mais chama atenção é que Lula perde a mão quando fala das ditaduras chinesa e cubana. Nesse episódio da ilha, chegou a dizer que se não fossem os EUA, Cuba seria uma Holanda. 

O problema de Lula é querer vender o supérfluo para ignorar que o "cliente" nem tem o básico.

Os cubanos não querem viver na Holanda, querem comer. Nada mais simples.

>>>Protestos em Cuba evidenciam contradições de Lula e do PT. Ditadura é boa se for de esquerda?

Sobre o assunto, Ciro Gomes (PDT) foi ao Twitter e gravou vídeo criticando o embargo dos EUA, mas também a ditadura cubana e a "política externa do PT". Disse que "o PT, no Brasil, se acocora para o mercado" e que tenta compensar isso defendendo ditaduras de esquerda no exterior.


Tirando a parte em que tenta ganhar alguns votos da esquerda, concordando que o problema de Cuba é o embargo dos EUA, Ciro está correto.

>>>Protestos em Cuba: narrativas e verdades

Os EUA tem culpa, mas não são os únicos responsáveis pelas dificuldades cubanas. O professor José Arlindo Soares, em mensagem à coluna, pontuou bem:

"Não é que não se deva condenar o longo bloqueio econômico dos EUA. Porém, uma questão que pouca gente fala é o motivo de a ajuda colonial da URSS nunca ter conseguido estimular uma economia sustentável que conseguisse contornar as restrições americanas. Muitos países continuaram comercializando com Cuba. O México e a Espanha, por exemplo. A questão é que eles não ampliaram a suas oportunidades porque preferiram viver das Transferências da URSS. Como hoje, inclusive, uma boa parte da renda da população vem da transferência de cubanos residentes nos EUA", disse.

Para quem quiser entender o quanto a fala acima está correta, basta ver o documentário "Cuba e o cameraman", disponível em serviços de streaming. 

O filme acompanha Fidel Castro, e também três famílias afetadas pela sua política, através do olhar atento do fotógrafo Jon Alpert, que com uma uma câmera portátil realizou um retrato detalhado do país comunista em três décadas.

No documentário é possível ver a euforia e as "realizações" do governo Castro com o dinheiro que chegava e a tragédia da miséria quando a "mesada" terminou, com o fim da URSS, e Fidel não tinha preparado o país para sobreviver sozinho.

A esquerda brasileira precisa sustentar a ideia estapafúrdia de um mundo em que China e Cuba são democracias.

E cometem absurdos verbais para manter a falácia.

Lula já disse, em outra ocasião, que a Venezuela tinha democracia até demais.

Para defender o governo nas manifestações atuais, a vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, chegou ao ponto de dizer que na ilha não há repressão aos manifestantes, comparando com outros locais em que a polícia reprime protestos com violência.

Esqueceu que no governo do qual ela própria faz parte, a PM atacou manifestantes há algumas semanas.


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