Cena Política

Danilo: O escolhido pelo PSB não foi a primeira opção, nem a segunda. Foi o que encaixou

Ele estava na fila. Não era o preferido de ninguém, e isso talvez tenha sido sua maior sorte. Paulo Câmara (PSB), o governador e condutor do processo, queria o secretário José Neto. A família Campos queria Tadeu.

Igor Maciel
Cadastrado por
Igor Maciel
Publicado em 11/02/2022 às 19:11 | Atualizado em 14/02/2022 às 17:18
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
O deputado Danilo Cabral (PSB) - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Leitura:

Escolhido para ser o candidato ao governo de Pernambuco pelo PSB, Danilo Cabral (PSB) não foi unanimidade.

Na verdade, não era a primeira opção. Nem a segunda.

Não é que os outros não queriam, mas a exclusão deles foi resultado de uma briga interna no partido.

O escolhido estava na fila. Não era o preferido de ninguém, e isso talvez tenha sido sua maior sorte. Paulo Câmara (PSB), o governador e condutor do processo, queria o secretário José Neto.

Zé Neto

Zé Neto foi favorito por um tempo, mas esbarrou no desejo contrário de Geraldo Julio (PSB) e de parte da família Campos (não João, explico à frente). Sobre Geraldo, um socialista antigo explicou, brincando, o motivo de ele ter implicado com o colega secretário: "ciúme de homem é coisa terrível".

Geraldo Julio

O secretário de Desenvolvimento Econômico Geraldo Julio, ex-prefeito do Recife, era o candidato natural. Ninguém discutia isso. Quando avisou que não iria disputar, jogou um problema no colo dos socialistas. O problema tornou-se ainda maior porque ele não queria, mas não parou de interferir no processo.

"E ainda ficou com um joguinho, fazendo charme, dizendo que não ia e dando a entender que queria", comenta outro socialista.

Apesar de não aceitar a convocação para ser candidato, bateu o pé para que não fosse Zé Neto. Acredita-se que ele viu na escolha do governador uma possibilidade muito concreta de perder poder interno no partido.

Para entender, hoje, dentro do PSB, quatro pessoas exercem grande influência nacional: Carlos Siqueira, o presidente nacional, Geraldo Julio, o ex-secretário Antônio Figueira e o prefeito do Recife, João Campos. O acordo com o PT está fortalecendo muito Paulo Câmara, que pode virar ministro, nesse círculo. E se ainda fizesse um de seus melhores amigos como sucessor, os outros poderiam perder espaço.

A explicação do cenário interno de poder do PSB é importante para entender Danilo Cabral. Chegaremos em breve nele.

Tadeu Alencar

Como contraponto a Zé Neto, surgiu o nome de Tadeu Alencar (PSB). Tadeu veio como sugestão da família Campos. O problema era a ligação dele com a própria família. O filho do deputado federal é casado com a filha de Eduardo e Renata Campos. A proximidade traria de volta todas as críticas à hereditariedade que usam as famílias reais como paralelo, algo que já ocorreu em 2020, no Recife.

Sobrou Danilo

O deputado federal, o escolhido, nasceu em Surubim, no Agreste, e está na Câmara Federal desde 2011. Antes disso, foi vereador do Recife, entre 2005 e 2009.

A biografia do deputado no site da Câmara Federal é curiosa pela quantidade de licenças que pediu ao longo de seus mandatos.

Sempre cumprindo missões para o PSB.

Ao todo, o sistema da Casa registra nove vezes em que Danilo deixou o exercício como deputado para assumir secretarias em Pernambuco, voltando sempre para participar de alguma votação importante e retornando para o governo em seguida. Nos primeiros dois mandatos, passou mais tempo em Pernambuco do que em Brasília no cargo para o qual havia sido eleito.

Secretarias

Na secretaria estadual de Cidades e depois na de Planejamento, cumpriu ordens, mas gerou insatisfação com prefeitos. A maior reclamação era que o secretário não os recebia pra conversar e não tinha "sensibilidade com os problemas dos municípios".

Antes de anunciar Danilo, o governador Paulo Câmara conversou com alguns prefeitos no Palácio, para testar a recepção ao nome. No geral, a coluna apurou que não houve grandes reclamações, apenas um alerta para que ele buscasse se aproximar mais dos municípios, "diferente de quando era secretário".

Dependente de sindicatos para garantir votos, Danilo perdeu poder eleitoral nos últimos anos. O fato de ter sido eleito e ter forte base eleitoral no interior, onde nasceu, mas não ter exercido plenamente seus primeiros mandatos, acabou o afastando dos eleitores. A chance de ele não ser reeleito em 2022, com ao fim das coligações, era grande.

Ao invés disso, virou candidato a governador.

Precisa de Lula, sim

A aposta maior e essencial para garantir sua eleição é o apoio de Lula (PT).

Em reserva, uma fonte no Palácio do Campo das Princesas admite que o PSB depende muito do PT este ano e nenhum candidato do partido conseguirá se eleger sem o ex-presidente no palanque.

E, aí, surge outra polêmica.

Danilo, deputado, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). O PT costuma dizer que não dá pra perdoar quem participou do "golpe". Não será surpresa se descobrirmos que perdão é uma "questão de perspectiva" eleitoral.

E a Justiça

Danilo teve problemas com as contas quando foi secretário também. Em 2017, o TCE-PE multou e julgou irregulares as contas dele, pela época em que foi secretário estadual das Cidades, entre 2011 e 2014.

Na época, Danilo foi responsável por obras como os corredores de Transportes Públicos de Passageiros Norte-Sul e Leste/Oeste, além do Ramal de Acesso à Cidade da Copa, aquela que nunca existiu, e também o Terminal Integrado Cosme e Damião.

Segundo o Tribunal, a secretaria pagava para uma empresa acompanhar as obras, mas a fiscalização "terceirizada" ou não existia ou não era adequada.

Na época, Danilo tentou se defender, mas o TCE apontou que ele havia sido alertado das irregularidades e não as corrigiu: "Justamente como gestor máximo da Secretaria, poderia e deveria ter atuado para apurar a pertinência ou não dos achados apontados pelos técnicos desta Casa", disse a relatora Teresa Duere.

A secretaria das Cidades, na época, foi responsável pelas obras da Copa que, como se sabe, ou não saíram do papel ou tiveram resultado prático pífio.

Em 2020, outro problema, a ministra Rosa Weber, do STF, autorizou a abertura de um inquérito para investigar o deputado pernambucano e mais nove parlamentares por suspeita de uso irregular da cota para atividades ligadas ao mandato. A suspeita é de prática de peculato (apropriação de recursos públicos).

Os investigadores da PGR dizem que a empresa contratada atua com "laranjas" e que as notas fiscais tinha inconsistências. Os parlamentares, incluindo Cabral, teriam contratado a empresa para serviços de divulgação do mandato.

O deputado chegou a explicar que contratou eles para produzir um material e que ele foi feito e distribuído corretamente.

É importante lembrar que o julgamento coube recurso e, hoje, o deputado tem certidões negativas atualizadas, tanto do TCE quanto do TCU, atestando que não há qualquer pendência relacionada a ele, nem no período em que foi secretário, nem no período em curso, no qual exerce o cargo de deputado federal.

Apesar de estar fora de cargos em comissão desde 2016, quando passou a se dedicar ao mandato, Danilo terá levantada toda a sua atuação nas três secretarias estaduais que ocupou (já foi secretário de Educação antes de ser deputado também).

A escolha foi justificada, já no fim do processo de afunilamento como tendo o critério político. Um "outsider" não teria vez nesse momento. É o que dizem.

Mas, dos 12 anos como deputado, Danilo passou seis ocupando cargos técnicos. Com o acréscimo de ter histórico com a Justiça, resquícios que serão explorados pela oposição.

Melhor assim

A oposição, aliás, pode até perder a eleição, mas comemorou a escolha. "De Zé Neto ninguém ia ter o que falar. Danilo tem", comentou um membro ligado à pré-campanha de Raquel Lyra (PSDB).

Comentários

Últimas notícias