Cena Política

Lula adota tom mais agressivo para agradar eleitores adeptos do "Bolsonaro merece". Mas assusta eleitores de centro

Uma cortina branca desfocada atrás do ex-presidente, a roupa dele, também branca, contrastavam com as falas que em nada lembram o "Lula paz e amor" de 2002 e 2006.

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Igor Maciel

Publicado em 29/04/2022 às 11:36
Análise
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Para quem não percebeu, é bom atentar, a entrevista de Lula à Rádio Jornal marcou uma mudança na estratégia do petista para a campanha.

O discurso mudou e, principalmente, o tom das falas se tornou muito mais incisivo. Nas redes sociais, há comentários percebendo um "tom raivoso".

A entrevista, transmitida também pelas redes sociais em vídeo, teve um cenário planejado especialmente para esse tom mais agressivo.

Uma cortina branca desfocada atrás do ex-presidente, a roupa dele, também branca, contrastavam com as falas que em nada lembram o "Lula paz e amor" de 2002 e 2006.

O ex-presidente sabe que não pode ser sutil lidando com Bolsonaro (PL).

O eleitor de Bolsonaro, que não vota em Lula neste momento, gosta de políticos que usam essa "energia".

Já o eleitor do próprio Lula, pode ser conquistado com o tom mais agressivo, porque há nesse meio um sentimento de "Bolsonaro merece".

O problema é que para ser eleito, Lula precisará do eleitor do centro e precisará de apoio do mercado produtivo. Esse eleitor, formador de opinião e responsável por boa parte do PIB brasileiro, teme um Lula raivoso, que pareça vingativo.

Vale lembrar que, respondendo a uma pergunta do comunicador Geraldo Freire sobre perdoar ou não Palocci, o ex-presidente adotou uma fala de revolta, afirmando que foi inocentado de todas as acusações.

Não tocou no nome do ex-ministro, que adorava mas o delatou.

O ex-presidente acredita, erroneamente, na hipótese de que os eleitores não bolsonaristas e não lulistas correrão para ele quando só existirem as duas opções. É uma aposta arriscada e ninguém melhor do que Lula deveria saber disso. Em 2006, com o mensalão nas costas, o petista convenceu de que não valia a pena votar em Alckmin como argumento de que era melhor ficar com algo que o eleitor já conhecia.

Se não conseguir entregar nenhum tipo de garantia de que não vai agir como um adolescente, com raiva, o eleitor de centro e moderado pode acabar pensando se não é melhor, entre duas opções ruins, ficar com a atual, que foi obrigado a aguentar por quatro anos e até já se acostumou. A pose de "injustiçado" pode funcionar para boa parte do eleitorado. Para ser eleito, é bom repetir, Lula vai precisar da outra parte.

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