A questão da empresa aérea que interrompeu a distribuição de revistas em seus voos depois que o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), Flávio Bolsonaro (PL), reclamou, incomodado com uma capa ruim para o pai, é preocupante.
Não pelo fato em si, mas pela estética antes só vista em períodos de exceção, nos quais a imprensa livre só é uma boa parceira se agradar o ambiente político vigente.
Não é algo surgido agora e não diz respeito a uma ditadura, em específico.
Hoje, o problema é o cancelamento, dentro de um clima eleitoral belicoso.
Uma empresa de investimentos, que contratava e divulgava pesquisas eleitorais, passou por isso recentemente. Alguns números não agradaram os bolsonaristas, então houve boicote.
Na pandemia, empresários que concordaram com Bolsonaro sobre não fechar o comércio foram boicotados pelo restante da população.
Tem gente que até hoje não entra em determinadas lanchonetes ou academias de ginástica por causa disso.
Em alguns casos, foi preciso haver retratação. No caso da empresa de investimentos, as pesquisas rarearam.
Agora, a empresa aérea segue o mesmo roteiro.
Mesmo sem declarar apoio nenhum, qualquer desconfiança de que há alguma preferência desencadeia uma profusão de ameaças e perseguições.
O problema é estético, porque não se tratam de decisões fundamentadas em convicções objetivas, mas na necessidade de não ter convicções para poder sobreviver.
Quando é preciso não ter convicções para continuar existindo, estamos à margem do precipício.
Igual a futebol
Estamos falando de algo como a democracia tomando o mesmo caminho que toma o futebol no Brasil e em outras partes do mundo. A paixão pelo futebol sempre existiu entre os brasileiros e sempre foi motivo de acaloradas discussões, mas isso foi tomando proporção devastadora quando entraram em cena as torcidas organizadas funcionando quase como gangues, obrigando à ausência de convicção explícita alheia.
Como se manifesta a necessidade de não ter convicções no futebol e como se compara com a política? Experimente vestir a camisa de um clube e estar sozinho dentro de um ônibus, a caminho do estádio. No caminho entram integrantes de uma torcida adversária. Casos de violência no futebol em situações análogas a essa são frequentes. Isso afasta as pessoas dos estádios. Isso afasta as pessoas da política.
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