Acompanhando uma entrevista de Lula (PT) nos últimos dias, chamou atenção o tom inicial das perguntas feitas pelos jornalistas.
Quem desembarcasse no Brasil naquele exato momento acharia que a eleição já terminou e que o ex-presidente petista era, na verdade, já o presidente eleito.
Queriam saber quais ministérios seriam recriados e quem poderia ocupar esses cargos, por exemplo.
O tom das perguntas só mudou quando o próprio Lula disse que não podia falar de formação de ministério porque ainda tinha uma eleição pela frente.
Depois da reclamação do ex-presidente, as perguntas voltaram para o campo da possibilidade.
Muito se tem falado nos últimos meses sobre o salto alto dos petistas, dando a vitória como certa no mês de outubro e já fazendo planos para a divisão de cargos. Foi na mesma época em que Sergio Moro (UB) desistiu de ser candidato a presidente e Bolsonaro (PL) voltou a subir.
Os petistas tomaram um susto e começou um movimento interno para que todos descessem do salto, porque a eleição estava longe de acabar.
O problema é que esse clima de “vitória certa” também contamina a imprensa. Fica visível em algumas entrevistas, fica notório em reportagens, e preocupa.
O atual governo é ruim, é uma fábrica de caos, mas o grupo bolsonarista tem força, está presente nas eleições e é competitivo ao ponto de isolar figuras como Ciro Gomes (PDT), com longa história política no país.
Agir com a certeza de que esse grupo já perdeu antes de a eleição começar não é apenas desrespeito, mas também ingenuidade.
Nunca é demais lembrar, o jornalismo é um setor que também estava cheio de certezas em 2018.
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