Ser o primeiro a ser entrevistado numa sabatina não ajuda, porque você nem tem a oportunidade de assistir seus adversários antes para saber como se portar.
Mas, isso dificilmente mudaria a estratégia inicial de todo candidato que passa pelo treinamento do PSB quando vai ser candidato majoritário: falar muito e sem pausas, para não dar tempo aos entrevistadores de aprofundar perguntas.
É um jeito de deixar tudo superficial e não ser muito questionado sobre realizações (ou sobre a falta delas).
Danilo Cabral (PSB) sorteado para ser o primeiro, começou seguindo o roteiro. Perguntado sobre infraestrutura, decidiu antes falar do próprio currículo. E o fez, claro, sem dar pausas entre as frases.
Quando começou a ser questionado, porém, o candidato socialista não se furtou a responder e nem tentou ignorar os interlocutores, como os colegas costumavam fazer. Surpreendeu bem. Experiência no Congresso Nacional, nessas horas, ajuda.
Danilo está acostumado a falar, ser interrompido, interromper e ainda assim manter linhas de raciocínio sem irritação e sem fugir do assunto. Geraldo Julio (PSB) e Paulo Câmara (PSB), que nunca foram parlamentares, sempre tiveram dificuldade com isso. É um ponto positivo.
Agora, se a forma agrada, o problema é o conteúdo. E não é só culpa de Danilo. Porque é quando entra em jogo toda a dificuldade para se manter o poder por 16 anos e, ainda assim, propor mais quatro.
Herança
A herança negativa do PSB é muito consistente. Não é de “ouvir falar”, nem é fruto puro e simples de intrigas políticas.
Os gargalos da administração do estado nos últimos anos estão no dia-a-dia das pessoas por tempo demais para serem relativizados. E aí, para castigo do candidato, não existe uma proposta que ele faça que não possa ser rebatida com “vocês já prometeram isso antes e não fizeram”.
É cruel, mas não há como fugir. Se a proposta, como foi feita, é duplicar a BR 232 de São Caetano até Serra Talhada, imediatamente se lembra que as gestões do PSB não terminaram a BR 104, não fizeram a BR 423 e nem recuperaram a própria BR 232 no trecho entre Recife e Caruaru.
Sem falar em todas as outras rodovias menores que sofrem pela ausência do estado.
Desafio
Como vender que vai fazer uma obra de R$ 3 bilhões (estimado para duplicar a rodovia até Serra Talhada), se não se conseguiu arranjar R$ 300 milhões para tentar salvar o trecho Recife-Caruaru? O mesmo vale para outras propostas, como é o caso da mobilidade na Região Metropolitana.
Como prometer que as coisas vão ser resolvidas se o próprio candidato foi secretário das Cidades, ficou à frente dos projetos da Copa do Mundo e quase nada saiu do papel na época?
O futuro presta contas
O problema do grupo no poder ou do candidato que o representa é que qualquer futuro recebe questionamentos de seu próprio passado. É possível pedir paciência uma vez, duas, receber novas chances.
Mas a paciência vai diminuindo a cada eleição e cada uma fica mais difícil.
Danilo vai conseguir reverter isso mudando a opinião das pessoas com a habilidade que traz da experiência no Congresso para convencer seus pares? Difícil dizer.
Mas, o cansaço público com os socialistas é algo palpável nesse momento. O que faz a missão de Danilo ser muito mais difícil do que foi a de Paulo Câmara (PSB) em duas eleições.
Bolsonarista longe de Anderson
O segundo sabatinado na Rádio Jornal foi Wellington Carneiro (PTB). O candidato ao governo declarou-se bolsonarista. Ele é pastor e demonstrou divergência com Anderson Ferreira (PL), o candidato de Bolsonaro.
Perguntado sobre o motivo de não estar no palanque apoiando o escolhido do presidente, apresentou Anderson como uma escolha apenas pragmática e formal de Bolsonaro.
E criticou o ex-prefeito de Jaboatão pela gestão municipal na cidade metropolitana. Afirma que a população não está satisfeita com o atual candidato ao governo.
Marília Arraes à direita
A justificativa, de que Anderson é apenas uma escolha partidária de Bolsonaro por causa dos arranjos partidários, é parecida com a de Marília Arraes (SD) quando se refere a Danilo Cabral como candidato de Lula (PT).
Na prática é: “ele diz uma coisa, mas o coração diz outra”.
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