Cena Política

Para fazer justiça, que tal o PSB tirar Paulo Câmara e Geraldo Júlio do "depósito"?

O apagamento do governador e do ex-prefeito na campanha de 2022 é uma falta de respeito com o eleitor e uma injustiça com Danilo.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 16/09/2022 às 13:40
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Paulo Câmara (PSB) e Geraldo Julio (PSB) - FOTO: Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
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O título de candidato com maior rejeição em Pernambuco, até o momento, grita sobre a memória de um eleitor que não está disposto a deixar passar sem punição as promessas feitas pelo PSB nos últimos anos.

Danilo Cabral (PSB) talvez seja somente a vítima sobre quem recai o ônus do tempo e das palavras que se perderam nas campanhas anteriores de Pernambuco e do Recife. Mas, ser o mais rejeitado por causa do PSB, numa eleição em que Bolsonaro (PL) é que deveria ser o maior peso a se carregar, traz verdades que nem o planejamento socialista, ao que parece, previu antes da eleição.

O PSB contava com uma nacionalização completa da campanha, para facilitar o engodo. Caso essa nacionalização vingasse, bastava ter o apoio de Lula (PT) contra Bolsonaro e a vitória estava garantida.

Com o foco na eleição federal, a rejeição de Paulo Câmara seria diluída e pouco importaria. Para quem tentasse usá-la, Danilo responderia algo que já ensaiou algumas vezes: “o candidato sou eu, não Paulo”. Bastava esconder o governador e o outro socialista mal avaliado, o ex-prefeito do Recife, e ficaria tudo bem.

Poderia ter funcionado, mas três fatores atrapalharam. O primeiro e mais óbvio foi Marília Arraes (SD), que abraçou os votos lulistas em Pernambuco e limitou o aproveitamento do socialista desse potencial.

O segundo foi o posicionamento de uma candidata que não é bolsonarista, lembrando, hora sim e hora também, a gestão ruim do atual governador. Raquel Lyra (PSDB) não apoia Lula, mas também não apoia Bolsonaro. Ela é apenas o retrato fiel de uma ex-gestora municipal (de Caruaru) que foi vítima do que alguns chegam a chamar de “perseguição governista”. Ela lutou para sobreviver e fazer uma boa administração, “apesar de Paulo”. Miguel Coelho (UB), até certo ponto, também se encaixa aqui.

O terceiro fator não é nenhuma surpresa. Anderson Ferreira (PL) é o candidato de Bolsonaro e tem uma parcela do eleitorado. A surpresa de verdade é a rejeição dele ser mais baixa que a de Danilo, o que embola o cenário completamente.

Apagamento

Nesse contexto difícil para o candidato do governo, Paulo Câmara e Geraldo Julio (PSB) foram apagados da história, como se nunca tivessem existido, mas não saíram da cabeça do eleitor.

Danilo perde Lula, Paulo fica sendo lembrado pelos prejudicados nos últimos oito anos e Anderson joga os bolsonaristas e o “antipetismo” sobre ele. É uma tempestade perfeita, e terrível.

Não faz muito tempo, escrevi que o PSB estaria assumindo um risco muito grande, caso decidisse pelo “caminho mais fácil”, o de esconder Paulo e Geraldo, ao invés de reabilitá-los politicamente. Reabilitando, você cria uma vacina. Escondendo, assume a defensiva.

O leitor pode argumentar agora: “deu certo em 2020, no Recife”. É verdade que deu certo quando se escondeu Geraldo ali, mas o fator Lula tinha outro peso, não havia cinco candidatos competitivos como agora, o antipetismo ajudou João Campos (PSB) contra Marília ao invés de atrapalhar e, algo essencial, João é um herdeiro político de uma gestão lembrada como “eficiente”. Danilo só é visto como mais um indicado (igual a Paulo e Geraldo).

Nem uma pintura

Se a identificação de Danilo é com dois "postes" e não com uma herança política, por que não se reforçou os "postes" anteriores, dando a eles uma pintura amistosa, ao invés de recolhê-los ao depósito?

Seria injusto dizer que não há nada que Paulo tenha feito que não mereça alguns segundos no guia eleitoral.

Seria injusto dizer que não há nada feito por Geraldo para ser mostrado na propaganda do PSB.

É injusto com o próprio Danilo, já que o partido tenta vendê-lo escondendo suas vendas anteriores, porque elas não deram certo aos olhos dos compradores.

E é mais injusto ainda com a população pernambucana, que acredita na conversa socialista de falso embasamento prático, há anos, e agora o PSB esconde o que ofereceu anteriormente, como se o “cliente” fosse um bobo que só serve para ser ludibriado em anos eleitorais, mas que não tem o direito de receber uma prestação de contas pelo que comprou antes.

Sugestão

A campanha é curta, mas ainda há tempo para o PSB fazer justiça.

Uma humilde sugestão: um programa inteiro com Danilo, Paulo e Geraldo juntos, conversando amistosamente sobre os últimos anos, trocando impressões sobre as gestões deles e mostrando ao eleitor que o PSB não vende palavras vazias.

É também uma questão de respeito com os pernambucanos. Fala-se que toda ideia boa, a princípio, parece ruim. Vai que dá certo?

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