Um exercício comum e quase sempre involuntário para quem anda nas ruas do Recife é ficar com as mãos cheias de santinhos. Se alguém se preocupar em prestar atenção nos santinhos vai perceber que os candidatos da Frente Popular não estão pedindo votos para Danilo Cabral (PSB) como se imaginava que aconteceria.
Há material gráfico até de candidatos do próprio PSB que nem mencionam o candidato ao governo do grupo. Quando tem, é um nome pequeno, num cantinho da peça publicitária.
Em algumas dessas publicidades são distribuídas as chamadas "colas". Trata-se de uma lista com os candidatos e seus números. A coluna teve acesso a alguns em que o nome dos deputados estadual e federal estão preenchidos, mas governador, senador e presidente contém apenas um espaço em branco. Um dos fatores que trabalhavam com a expectativa de crescimento de Danilo diziam respeito ao “exército” de candidatos nas ruas, casando o voto com o candidato ao governo e até agora o movimento é muito frio.
No PSB há um vazio na organização desse exército. Sileno Guedes, que sempre fez isso como presidente do PSB, está cuidando da própria candidatura. Geraldo Julio (PSB), figura certa na coordenação das últimas campanhas socialistas, está completamente afastado dessa articulação. João Campos (PSB) tem uma prefeitura para cuidar, além de gastar bastante tempo em eventos esportivos ultimamente.
O outro João
Com isso, a coluna apurou que a iniciativa de ajudar Danilo estaria partindo de João Paulo (PT). Sim, o ex-prefeito do Recife, há alguns dias, dividiu a cidade em 20 áreas, reuniu militantes em cada um desses setores e os colocou para pedir votos por Danilo.
O PSB até estaria prometendo arregimentar grande estrutura para a reta final da eleição, com objetivo de fazer o candidato crescer mais entre 3 e 5 pontos, indo para o segundo turno. Por enquanto é só promessa. Até lá, Danilo caça com João.
A culpa pelo voto útil
O voto útil em Lula (PT) tem um culpado: Bolsonaro (PL). E não apenas por ser o adversário a ser batido, mas por ações equivocadas que foram sendo tomadas pelo presidente ao longo dos últimos meses. Os estrategistas da campanha perceberam há alguns meses que era preciso pacificar o discurso, para dar ideia de estabilidade democrática.
Com isso, pretendiam mostrar que não há ameaça com Bolsonaro no poder. Em paralelo, pretendiam divulgar os resultados econômicos do governo que, acreditemos ou não em sua manutenção pós-eleição, hoje são bons. Com a melhora da economia e Bolsonaro oferecendo um ambiente político mais estável, a possibilidade de um segundo turno disputado voto a voto era imensa. Foi esse plano, inclusive, o que manteve os líderes do centrão ao lado do presidente, porque havia expectativa de poder.
Não foi assim
Saindo do plano para a realidade, a campanha não conseguiu vender a melhora da economia e Bolsonaro não conseguiu dar demonstrações de estabilidade política. O eleitor olha para o cenário econômico e enxerga algo superficial que vai acabar ao fim da eleição. O que Dilma Rousseff (PT) fez em 2014, quando baixou gasolina e energia elétrica para ser reeleita e quebrou a economia em seguida, não ajuda. Quanto mais desconfiado, mais o eleitor demora para agradecer. E, completando o cenário ruim, como acreditar que a bonança econômica vai se manter após outubro se Bolsonaro seguiu insistindo na “guerra política”?
As manifestações do sete de setembro só foram boas para quem já votava no presidente. Quem viu de fora, enxergou um acirramento do clima belicoso que leva à instabilidade. O presidente continuou se envolvendo em polêmicas com mulheres e acirrando as discussões. Por isso a rejeição não baixa e o plano ameaça naufragar. O voto útil só virou uma campanha lulista porque o ambiente permitia. O povo está cansado, querendo acabar com a instabilidade eleitoral logo. E no naufrágio próximo o centrão salta. Ciro Nogueira (PP) ameaçou abandonar o ministério da Casa Civil e depois recuou com a repercussão ruim. Fala-se que o presidente do PL de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, também já abriu “conversas” com petistas sobre uma “convivência harmoniosa no futuro”.
E a culpa é do próprio Bolsonaro e de sua campanha.
Comentários