Cena Política

Marília Arraes se isolou no primeiro turno e não deu ao eleitor a oportunidade da aproximação

Bem antes da tragédia no dia da eleição, Raquel enfrentava debates com adversários e deu ao público a oportunidade de se identificar com ela. Isso conta.

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Igor Maciel

Publicado em 11/10/2022 às 17:31 | Atualizado em 11/10/2022 às 18:55
Análise
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Resultados de pesquisa para o governo estadual confirmam o ambiente que se formou no meio político desde que Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (SD) passaram ao segundo turno. Raquel está com 61% e Marília com 39% em votos válidos, na Real Time Big Data, por exemplo.

A queda da neta de Arraes nas últimas horas antes do pleito que a levaram a terminar com 23%, quando a expectativa de alguns ultrapassava os 40%, transpareceu perda de tração de Marília e terminou beneficiando Raquel. A ex-prefeita de Caruaru, agora, vive uma “Jornada de Herói” bem fundamentada.

Para quem não sabe, a Jornada do Herói é uma fórmula utilizada pela maioria dos roteiristas em filmes de sucesso e está presente em quase toda narrativa mítica que conquista a atenção do público. Originalmente é uma sequência de 12 etapas seguidas pelo personagem. As principais são o “chamado” (que o herói inicialmente não aceita, mas é obrigado pelas circunstâncias), as “provas, os aliados e os inimigos” (o que dá pra resumir em um primeiro turno inteiro, incluindo a pré-campanha), seguida pela “grande provação”, até alcançar o “triunfo” (uma vitória eleitoral).

Se em roteiros de marketing isso já tem um efeito poderoso, imagine se essa história for construída por elementos reais, sem nenhum tipo de fabricação, com a provação sendo tão grande e tão genuína que faça o eleitor sentir um pouco daquele pesar e “querer superar junto com ela”. Por isso as pesquisas não surpreendem e devem preocupar a adversária.

A maior dificuldade de Marília, nesse ponto da eleição, é não ter passado por qualquer provação que se compare às de Raquel, não apenas pela tragédia no dia da eleição, mas por todo o percurso anterior.

Por causa da vantagem que tinha no primeiro turno, a candidata se fechou numa redoma, mal falava com a imprensa fora de um ambiente controlado, não participou de nenhum debate e se preservou até de ser atacada pelos oponentes. Por nunca ter sofrido nada, faltam agora elementos de solidariedade do eleitor para com ela. Raquel esteve em todo esse processo do qual Marília se afastou, enfrentando, sozinha, três homens em oito debates. No fim, é essa a imagem que diferencia as duas.

Em 2020, de tanto ser atacada com notícias falsas e por enfrentar o PSB praticamente sozinha pela prefeitura do Recife, Marília recebeu elementos para ter alguma solidariedade do eleitor. Agora, até isso parece ter se invertido. Nesta terça-feira (11), a campanha de Raquel Lyra denunciou que pessoas ligadas à equipe de Marília estavam espalhando notícias falsas para atacar a ex-prefeita.

Não existe certeza em pesquisa que resista à verdade das urnas e o primeiro turno provou isso. Lula virá a Pernambuco e dará apoio à Marília e pode ajudar, mas o ex-presidente sabe que dá pra brigar com todo mundo, menos com o eleitor. Todos estão curiosos para saber o tom do discurso. Porque boa parte dos eleitores dele também votou em Raquel no primeiro turno.

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