A eleição de Pernambuco está tomando um rumo meio decepcionante. Virou uma roda gigante que gira sem parar, mas não chega a lugar algum. Um cachorro correndo atrás do rabo, sem nunca alcançar.
No primeiro turno quase não havia proposta, porque “era necessário tirar o PSB”. Conseguiram. O PSB perdeu a eleição por fadiga de material e esta se deu por não conseguir encontrar soluções para os problemas que surgiram ou foram criados ao longo de quase duas décadas.
O futuro para o qual as duas candidaturas ainda em voga apontam é continuarmos sem discutir soluções. No segundo turno, o que se fala é sobre quem seria o “candidato a presidente bom” e quem seria o “candidato a presidente mau”.
Como todas as campanhas têm estrategistas e eles são treinados para direcionar os discursos com foco no que o eleitor espera, deduzimos que o eleitor pernambucano é um estúpido, despreocupado com a própria situação (improvável) ou que os outrora marqueteiros (eles não gostam mais de serem chamados assim) decidiram esquecer Pernambuco para ter menos trabalho explicando.
É que quanto mais rasa for a discussão, menos neurônio será preciso queimar e menos dinheiro se gasta. Do ponto de vista do jogo eleitoral e financeiro da campanha, dá pra entender. Se você quiser apresentar propostas robustas, precisa gastar verba contratando gente que pensa para elaborar aquilo. Construir soluções para gargalos do estado demanda especialistas.
Ao invés disso, “arengar” é bem mais barato e algo que todo mundo aprende desde criança. Então, viva a arenga nas eleições. E Pernambuco que se vire pra encontrar espaço na pauta.
Varejo e atacado
Ao contrário do que se imaginava no fim do primeiro turno, Lula (PT) não limitou o segundo turno a buscar votos em estados mais equilibrados, onde precisava buscar vantagem. O petista está seguindo um roteiro para ampliar a votação no Nordeste e pesquisas mostram que ele pode conseguir. Em Pernambuco, onde estará nesta sexta-feira (14), o petista passou dos 65%.
Da mesma forma, Bolsonaro (PL) não abandonou estados do Nordeste, onde tem votação mais baixa e rejeição muito alta. Ontem, foi ele quem visitou Pernambuco. No caso do atual presidente, há uma possibilidade de ele conseguir crescer sua votação no Nordeste. Apesar da rejeição, ele ainda conseguiu ganhar 1,3 milhão de votos a mais do que em 2018 na região.
Como precisa muito de novos votos para ultrapassar Lula, o presidente está vindo buscar no lugar que há pouco tempo era considerado improvável de ele conseguir algum apoio extra. Depois que passou o primeiro turno e muitos deputados ligados à direita foram eleitos, o sentimento de que algo mais pode sair daqui para ajudar cresceu.
Em Pernambuco, o candidato mais votado para a Câmara Federal é bolsonarista e o mais votado para a Assembleia Legislativa também. Com o fim da primeira parte da campanha, Miguel Coelho (UB), que disputava o governo e não pedia votos para o presidente, declarou voto em Bolsonaro. Outros eleitos, como Mendonça Filho (UB), também declararam voto em Bolsonaro para o segundo turno.
No Recife, a preocupação é aumentar a votação com os evangélicos, por isso ele recebeu pastores durante a visita. Diferente do que se imaginava, não havia uma multidão na Avenida Boa Viagem para ver o presidente. Pelo contrário, faltou gente para ocupar o espaço reservado.
Membros da campanha porém justificaram: "ele veio pelo atacado, não pelo varejo".
E a foto?
Na visita de Lula ao estado, inclusive, a expectativa não é para o discurso do ex-presidente, nem para a quantidade de pessoas nas ruas. O que todo mundo quer saber é se e em que momento Marília Arraes (SD) e Paulo Câmara (PSB) estarão juntos e como será a foto.
Marília havia dito que nunca se juntaria com o PSB. Agora, estão no mesmo palanque de Lula, com o PSB declarando voto nela. A “salvação lulista” tem sido sempre acompanhada de percalços. Danilo Cabral (PSB) que o diga. Marília agora sabe.
Ela, inclusive, teria sido obrigada a fazer as pazes com João Campos (PSB) há alguns dias.
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