Em 2020, Marília afirmava que “prefeitura não é pirulito pra dar de presente a menino”. Hoje, ela diz que, “apesar de jovem, João é maduro”. Dentre todas as declarações de Marília Arraes (SD) entre 2020 e 2022, há apenas um ponto de convergência: João Campos (PSB) tem pouca idade. Tudo bem que a expressão mudou, já que em 2020 ele era “menino” e em 2022 é “jovem”. Mas, absolutamente, todo o contexto desse texto mudou também.
O Recife vivenciou, há dois anos, uma campanha de nível rasteiro como poucas vezes se viu, turbinada pelo fato de que os dois são primos e disputavam a cidade como se fosse parte de um espólio familiar, uma coisa grotesca. O “menino” João venceu a eleição e, agora que Marília precisa do apoio de Lula (PT) e Lula está com o PSB, o “menino” virou “jovem”. Mais que isso, virou um “jovem maduro” com quem ela fez as pazes num acordo que pode envolver cargos ocupados hoje pelo PSB, incluindo o futuro da prefeitura do Recife.
Nos bastidores, Daniel Coelho (Cidadania), que é aliado de Raquel Lyra (PSDB), já estaria espalhando que quer disputar a prefeitura da capital em 2024. O PSB, com João Campos como principal interessado, estaria partindo para a necessária urgência de esquecer as mágoas familiares e todos os impropérios trocados no passado em permuta pela sobrevivência do único trunfo que o PSB pode ter com a mudança na cadeira do Palácio do Campo das Princesas: o Recife.
No grupo de Marília, não há nomes naturais para a prefeitura como no de Raquel. A irmã da candidata, Maria Arraes, poderia ser uma opção caso tivesse alcançado votação melhor. Ela só teve 16 mil votos na capital. Daniel teve mais que o dobro disso.
O jovem João, que não é menino, está sendo pragmático e pensando em seu próprio futuro e no futuro do PSB.
O que fica disso tudo é a sensação de que todo militante partidário é, na verdade, um bobo manipulado para brigar pelos candidatos que lhe animam à rinha, de acordo com a cotação do dia nos interesses de um partido ou de uma pessoa, nunca pelo estado.
Nesse ponto, Marília acaba também se identificando bastante com o PSB. Os socialistas eram criticados por ela, inclusive, durante todo o primeiro turno, por fazerem as pazes ou serem inimigos do PT de acordo com o interesse da vez.
O PSB, de acordo com o que ela falava, não surpreende. A surpresa agora é a própria Marília.
Elefante na sala
Durante a coletiva que reuniu Lula (PT) e os primos reconciliados João Campos (PSB) e Marília Arraes (SD), ninguém perguntou sobre o “elefante na sala”: Cadê Paulo Câmara (PSB) e Danilo Cabral (PSB)?
Os dois estavam no café da manhã, no hotel, mas não chegaram ao local da entrevista. Também não estavam no evento de rua. Comeram a tapioca do café e “sumiram” depois. Na chegada ao local da entrevista também chamou a atenção Marília ter desembarcado depois da comitiva. Parecia que tentava evitar uma foto com João (o que não evitou depois).
Numa das respostas seguintes, contou que perdeu o elevador em que Lula desceu e, por isso, chegou atrasada.
João "alheio"
Chamou a atenção também a expressão de João Campos. Na coletiva ele não falou e apenas balançava a cabeça às afirmações de Lula. Em seguida, na caminhada, posicionou-se na carroceria da caminhonete atrás de Lula. Há momentos em que todos estão vibrando sobre o carro e a expressão do prefeito do Recife é indiferente, como se estivesse em outro plano.
Um derrotado e um rejeitado
É cruel, mas o que se comenta é que não seria bom nem para Marília e nem para Lula serem acompanhados por Paulo Câmara, por causa da alta rejeição, ou por Danilo Cabral, devido à derrota recente. Lula ainda saiu na foto com eles logo cedo. Marília nem isso.
Se for verdade que esse foi o motivo, expõe um constrangimento impressionante da candidata com o apoio recebido do PSB neste segundo turno. Além disso, seria uma incoerência de Lula, que tanto pediu votos para Danilo até poucos dias atrás.
O problema da política é endeusar o humano e desumanizar o fracasso.
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