Cena Política

Cena Política: O que está na conta do acordo entre Marília Arraes e o PSB

Confira a coluna Cena Política deste sábado (15)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 15/10/2022 às 0:01
Bruno Campos/JC Imagem
Luciana Santos (PCdoB), Marília Arraes (SD), Lula (PT), Humberto Costa (PT), João Campos (PSB) e Sebastião Oliveira (Avante), em coletiva concedida na Fetape, no Recife - FOTO: Bruno Campos/JC Imagem
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Em 2020, Marília afirmava que “prefeitura não é pirulito pra dar de presente a menino”. Hoje, ela diz que, “apesar de jovem, João é maduro”. Dentre todas as declarações de Marília Arraes (SD) entre 2020 e 2022, há apenas um ponto de convergência: João Campos (PSB) tem pouca idade. Tudo bem que a expressão mudou, já que em 2020 ele era “menino” e em 2022 é “jovem”. Mas, absolutamente, todo o contexto desse texto mudou também.

O Recife vivenciou, há dois anos, uma campanha de nível rasteiro como poucas vezes se viu, turbinada pelo fato de que os dois são primos e disputavam a cidade como se fosse parte de um espólio familiar, uma coisa grotesca. O “menino” João venceu a eleição e, agora que Marília precisa do apoio de Lula (PT) e Lula está com o PSB, o “menino” virou “jovem”. Mais que isso, virou um “jovem maduro” com quem ela fez as pazes num acordo que pode envolver cargos ocupados hoje pelo PSB, incluindo o futuro da prefeitura do Recife.

Nos bastidores, Daniel Coelho (Cidadania), que é aliado de Raquel Lyra (PSDB), já estaria espalhando que quer disputar a prefeitura da capital em 2024. O PSB, com João Campos como principal interessado, estaria partindo para a necessária urgência de esquecer as mágoas familiares e todos os impropérios trocados no passado em permuta pela sobrevivência do único trunfo que o PSB pode ter com a mudança na cadeira do Palácio do Campo das Princesas: o Recife.

No grupo de Marília, não há nomes naturais para a prefeitura como no de Raquel. A irmã da candidata, Maria Arraes, poderia ser uma opção caso tivesse alcançado votação melhor. Ela só teve 16 mil votos na capital. Daniel teve mais que o dobro disso.

O jovem João, que não é menino, está sendo pragmático e pensando em seu próprio futuro e no futuro do PSB.

O que fica disso tudo é a sensação de que todo militante partidário é, na verdade, um bobo manipulado para brigar pelos candidatos que lhe animam à rinha, de acordo com a cotação do dia nos interesses de um partido ou de uma pessoa, nunca pelo estado.

Nesse ponto, Marília acaba também se identificando bastante com o PSB. Os socialistas eram criticados por ela, inclusive, durante todo o primeiro turno, por fazerem as pazes ou serem inimigos do PT de acordo com o interesse da vez.

O PSB, de acordo com o que ela falava, não surpreende. A surpresa agora é a própria Marília.

Elefante na sala

Durante a coletiva que reuniu Lula (PT) e os primos reconciliados João Campos (PSB) e Marília Arraes (SD), ninguém perguntou sobre o “elefante na sala”: Cadê Paulo Câmara (PSB) e Danilo Cabral (PSB)?

Os dois estavam no café da manhã, no hotel, mas não chegaram ao local da entrevista. Também não estavam no evento de rua. Comeram a tapioca do café e “sumiram” depois. Na chegada ao local da entrevista também chamou a atenção Marília ter desembarcado depois da comitiva. Parecia que tentava evitar uma foto com João (o que não evitou depois).

Numa das respostas seguintes, contou que perdeu o elevador em que Lula desceu e, por isso, chegou atrasada.

João "alheio"

Bruno Campos/JC Imagem
Caminhada de Lula (PT) com Marília Arraes (SD) no centro do Recife - Bruno Campos/JC Imagem

Chamou a atenção também a expressão de João Campos. Na coletiva ele não falou e apenas balançava a cabeça às afirmações de Lula. Em seguida, na caminhada, posicionou-se na carroceria da caminhonete atrás de Lula. Há momentos em que todos estão vibrando sobre o carro e a expressão do prefeito do Recife é indiferente, como se estivesse em outro plano.

Um derrotado e um rejeitado

É cruel, mas o que se comenta é que não seria bom nem para Marília e nem para Lula serem acompanhados por Paulo Câmara, por causa da alta rejeição, ou por Danilo Cabral, devido à derrota recente. Lula ainda saiu na foto com eles logo cedo. Marília nem isso.

Se for verdade que esse foi o motivo, expõe um constrangimento impressionante da candidata com o apoio recebido do PSB neste segundo turno. Além disso, seria uma incoerência de Lula, que tanto pediu votos para Danilo até poucos dias atrás.

O problema da política é endeusar o humano e desumanizar o fracasso.

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