Se existe uma certeza sobre a formação da sociedade brasileira é que foram necessários vários estágios até que a verdadeira alma nacional se tornasse perceptível em suas particularidades. Nada aconteceu de uma hora para outra como, também, nada foi planejado. O meio termo entre o planejado e o susto criou o Brasil.
Viver entre o planejado e o susto é o que nos dá, provavelmente, a capacidade de sobreviver em qualquer situação e de não conseguir levar adiante qualquer projeto separatista. Todas as nossas revoluções planejadas pela independência ou buscando divisão territorial deram errado e terminaram em sofrimento. Todas as revoluções planejadas por uma República também deram errado.
No fim, o Brasil se fez independente numa sequência de empurrões do destino ao encontro de Dom Pedro I e virou República quando Pedro II, praticamente, entrou em acordo com um de seus marechais mais monarquistas e fiéis. Até se criou a fantasia de chamar isso de "revolução". Não foi.
Exceto pela isolada resistência portuguesa na Bahia até 1823, podia-se dizer que quase não se derramou sangue em nenhum dos dois momentos históricos.
Nossas vitórias importantes, que trouxeram o país até o ponto em que estamos, sempre aconteceram, não com uma cisma revolucionária, mas encontrando e mantendo o povo unido. O desembainhar da espada sempre foi quase uma obrigação formal apenas para ilustrar quadros.
A curiosidade é ainda mais interessante se você puser na conta a abolição da escravatura. Os acontecimentos sobre a terra brasileira foram empurrando a situação, politicamente, até que a Lei Áurea fosse assinada. Nos EUA, esses mesmos episódios se deram às custas de muito sangue, em guerras que dividiram o país por mais de uma vez ou em processos dolorosos de sofrimento e humilhação coletiva. Situações que permanecem até hoje em forma de mágoa difícil de curar, por mais que os anos se acumulem.
Esta semana é o corredor final para um novo momento do Brasil. Você deve pensar: o que há de novo em voltar a ser governado pelo PT de Lula ou continuar sendo governado por Bolsonaro (PL)? Há vários motivos para acreditar que ao fim desta semana, ao fim da apuração, teremos um momento de transição para um novo estágio, desses a que sempre fomos empurrados, entre o plano e o susto, desde o início do que já foi a Terra de Santa Cruz e hoje se conhece como Brasil.
A economia interna demandará sacrifícios que a externa não terá condições de amenizar. As medidas que forem tomadas podem definir o quanto vamos demorar a nos recuperar. E a nossa capacidade de união será testada, principalmente como resultado de um processo político que já dura anos e está corroendo a base da sociedade brasileira enquanto fingimos não perceber. A divisão política do país entre dois grupos antagônicos tende a dificultar qualquer tipo de solução para nossas crises presentes e futuras. A única certeza é que se continuarmos divididos, sofreremos mais.
As mágoas que surgem e vão sendo nutridas pela divisão são difíceis de curar, como já vimos nos EUA. Esse antagonismo já ajudou a matar pessoas durante a pandemia no Brasil, quando o país se dividiu ao invés de se unir. Todos erraram, seja em sua ignorância ou em seu orgulho, seja em sua visão tacanha sobre o futuro e sobre a ciência ou na visão alargada e gananciosa sobre interesses pessoais e políticos. Mas todos sofreram.
As famílias estão divididas, com seus integrantes repetindo frases de campanha eleitoral como os que professam uma fé cega de afeição, respeito e empatia. É assim que se constrói um país e se enfrenta a desdita? Não. Assim, apenas se perde o que o povo brasileiro tem de mais valioso que é sua boa sina de viver entre o plano e o susto, cativo de sua própria união.
Quem quer que vença a eleição, precisa ter a humildade para unir o país. Por um motivo simples: De outro jeito, não dá certo.
Cada brasileiro tem duas obrigações no próximo domingo. A primeira é fazer sua escolha, de consciência livre, pensando no melhor para o país de acordo com suas convicções. A segunda é assumir o compromisso de união para enfrentar os desafios que se aproximam e que não são poucos.
Debate
Hoje tem debate da TV Jornal com as candidatas ao governo do estado. Com a diferença que as pesquisas vêm mostrando, com vantagem para Raquel, Marília deve ir para o ataque com o objetivo de se aproximar. O debate será mediado por Anne Barreto, com participação
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