É um erro acreditar que o resultado de uma eleição se dá apenas pedindo votos ao eleitor e somando números. Eleições vitoriosas são construídas na conexão entre uma boa história e uma necessidade coletiva. Necessidades coletivas vão além do básico. Comida, emprego, saúde, educação e segurança se acompanham de um segundo plano de vontades do eleitorado, como o desejo de mudar os rumos de um estado ou de um país.
As duas campanhas estaduais que chegaram hoje à urna foram as que melhor se conectaram com o sentimento do pernambucano cansado com o PSB no primeiro turno.
Mas, a candidata que chega à frente, segundo as últimas pesquisas, é a que complementou a satisfação desse sentimento, já que a adversária tem ligações com os socialistas, por laços familiares. E, mesmo que não tivesse, a campanha de Marília Arraes pesou a mão na escora de Lula e PT, num estado em que o mínimo de 30% do eleitorado rejeita ambos. Esses 30% significam cerca de 1,5 milhão votos.
Conectar-se com os eleitores, sejam eles bolsonaristas ou não, é o que vence uma eleição desse tipo. Procurar o que une a todos e não investir na polarização que os separa era a chave dessa eleição de segundo turno entre os pernambucanos. Se as pesquisas se confirmarem com uma vitória de Raquel Lyra (PSDB), esse terá sido o seu trunfo.
Sendo assim o resultado, Marília terá errado três vezes. Primeiro por não ter conseguido essa conexão com o eleitor pernambucano, apostando que a descida da polarização nacional seria uma regra em todos os estados, independente da realidade local. Segundo, por não ter entendido que era preciso mudar a direção quando o imponderável se apoderou da eleição local, com a morte do marido de sua adversária. E terceiro quando não foi capaz de usar um discurso que lhe ajudasse a captar todo o voto lulista disponível no estado. O ex-presidente petista aparece com 73% na última pesquisa local. Marília chegou a 46%.
Lula e Bolsonaro
No plano nacional, Lula e Bolsonaro dormiram sem ter muita certeza do que os espera neste domingo. Não foi um sono tranquilo, porque qualquer resultado deverá alterar a vida deles e de seus grupos para sempre. No caso do petista, uma derrota deixará o PT sem um sucessor, tendo que começar do zero a trajetória que teve início em 1989 e transformou Lula no que ele é hoje. Não é pouco, goste-se ou não dele, e não é algo fácil de se construir.
Não adianta acreditar que ele pode ser candidato outra vez. Na campanha atual, o ex-presidente já tem problemas para provar que está em plena forma física ao exercício rigoroso da presidência. Terá 80 anos completos daqui a quatro anos e virá de uma derrota (caso assim seja).
Com Bolsonaro, o problema não é a idade, mas o tempo de serviço. Apesar de muitos acreditarem que o bolsonarismo é algo que veio para ficar, há uma certa precipitação na ideia. O bolsonarismo existe, hoje, como contraponto ao lulopetismo e como movimento de base para um presidente que está há três anos e dez meses no poder.
Se Bolsonaro perder, alguns bolsonaristas de hoje se transformarão apenas em “conservadores” amanhã. O termo personalista deverá se perder com o tempo. Não faltará quem queira assumir o bastão desse grupo dito conservador, mas é certo que o bolsonarismo, como culto a uma pessoa, tende a esfriar.
Alguns menos envergonhados até seguirão o poder presente (com Lula presidente) e se colocarão arrependidos como “novos petistas”. Pode parecer agudo agora, mas sempre acontece. O movimento bolsonarista estar baseado em partidos que certamente mudarão de lado, como o PP, o PL e o Republicanos, é uma senha para todos os que dependem do poder e gostam de viver em sua sombra..
Bolsonaro e Lula dormiram (ou não) esta última noite sem saber o que acontecerá caso vençam a disputa. Caso percam, eles sabem muito bem o que acontece e é isso que lhes tira o sono.
Vitória do PSB
Caso vença a eleição em Pernambuco com mais de 70% dos votos, como as pesquisas estão mostrando (73% no Ipec), Lula terá que agradecer ao PSB e não a Marília Arraes.
Danilo Cabral (PSB) rodou o estado pedindo votos para o petista nos últimos dias. João Campos (PSB) também se esforçou bastante e Paulo Câmara (PSB) deu estrutura para que a votação de Lula crescesse.
Nas pesquisas, Marília Arraes aparece com pouco mais de 40%, que é a soma do que ela e Danilo tiveram no primeiro turno. O crescimento se deu no trabalho feito no segundo turno. Se Lula cresceu e ela apenas absorveu a votação do PSB, o crescimento dele veio do trabalho dos socialistas que, ao menos, poderão comemorar algo este ano.
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