Cena Política

Cena Política: Na formação do governo, Raquel só vai escolher que tipo de problema contratar

Passada a eleição, as atenções se voltam para a formação do governo e há quem cometa o mesmo erro de tentar adivinhar o secretariado montado pela governadora eleita, baseado em regras políticas que, se não foram obedecidas pela tucana até o momento, ninguém deveria acreditar que virão a ser.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 06/11/2022 às 0:01
BRUNO CAMPOS/ JC IMAGEM
Raquel Lyra, governadora eleita de Pernambuco 30.10.2022 - FOTO: BRUNO CAMPOS/ JC IMAGEM
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No plano nacional, Raquel Lyra (PSDB) foi uma exceção, não a regra. Ela não se rendeu à polarização e fez campanha, todo o tempo, focando nas necessidades de Pernambuco. Venceu assim. Exceção porque, no Brasil, somente ela e Eduardo Leite (PSDB-RS) conseguiram isso.

Passada a eleição, as atenções se voltam para a formação do governo e há quem cometa o mesmo erro de tentar adivinhar o secretariado montado pela governadora eleita, baseado em regras políticas que, se não foram obedecidas pela tucana até o momento, ninguém deveria acreditar que virão a ser.

A formação do secretariado, porém, será um desafio para Raquel Lyra, porque há uma expectativa resistente de que ela seguirá a tradição política, compondo o governo com aqueles que lhe deram apoio durante a campanha.

Quem acompanhou as gestões dela em Caruaru deve achar graça. Ela não costuma fazer isso.

Em 2016, quando venceu Tony Gel (na época pelo MDB) pela prefeitura de Caruaru, Raquel contou com o apoio de José Queiroz (PDT) e Wolney Queiroz (PDT) no segundo turno. Pela declaração de voto, esperavam ter espaços na gestão que começava em 2017 no município.

Receberam um agradecimento, não tiveram o que esperavam em cargos e foram para a oposição.

A então prefeita fez uma gestão bem aprovada e foi reeleita com mais de 60% dos votos na eleição seguinte. Então, deu certo.

Raquel optou por montar um time técnico, levou nomes do Recife (outra polêmica por lá) e olhando para os dias de hoje não dá pra dizer que deu errado. A ex-prefeita pode ser acusada de não fazer o que se espera dela no meio político, mas dizer que deu errado como gestora municipal é impossível. Tudo bem, até aí.

Mas num governo estadual é diferente. O cenário de interesses é ampliado e não dá para trabalhar sem aliados. Há características no relacionamento com a Alepe que também são diferentes.

No Recife, uma cidade já mais complexa que Caruaru, buscando uma gestão moderna e técnica, João Campos (PSB) adotou o meio termo entre a gestão e a política tradicional. Ele chamou os aliados que o apoiaram, determinou um espaço para cada, pediu uma lista com três nomes e impôs critérios, como formação na área relacionada, era preciso ter mulheres entre os indicados e eles deviam ter experiência, entre outras coisas.

O prefeito conversou com cada nome antes de escolher, numa seleção comum em setores privados.

Não que a prefeitura do Recife seja, hoje, um grande exemplo de realizações, mas a culpa não é do time formado. Pode servir de modelo.

Um dos grandes problemas de Raquel fazer igual ao que fez em Caruaru vai ser a relação com a Alepe e isso se dá pelo mau costume criado pelo PSB nos últimos 16 anos.

Desde Eduardo Campos, com poucas exceções ao longo das legislaturas, a Assembleia se tornou um anexo do Palácio do Campo das Princesas. Os partidos iam sendo atados e aproximados através de cargos na administração pública, de um jeito que ficava difícil existir uma voz forte na oposição.

Essas siglas (algumas apoiaram Raquel no segundo turno), hoje, podem não ter o mesmo tratamento e, sendo assim, vão reagir como através de seus deputados? Como a governadora eleita vai aprovar medidas essenciais e trabalhar a governabilidade na insatisfação desses grupos?

Pode apostar, não é fácil ignorar que eles existem. Inclusive porque têm bancadas expressivas na Alepe.

Para ilustrar o desafio, basta dizer que Paulo Câmara (PSB) passou metade dos seus oito anos tentando se livrar de uma sigla que lhe apoiava, mas dava trabalho na mesma medida. Quanto mais irritado com a insensatez dos representantes do tal partido, mais tinha que ceder para não ver o governo ser prejudicado.

Existem aliados, com seus prejuízos relacionados, que podem ser mais implacáveis do que inimigos cruéis.

Quando voltar da merecida folga com a família, nesta segunda-feira (07), Raquel terá que decidir que tipo de problema ela vai contratar na formação do governo. Se vai bancar o choque de realidade, ignorando a maior parte dos aliados de ocasião que nem acreditavam nela até o segundo turno, ou se vai buscar um meio termo, uma composição não rendida aos interesses das siglas, mas equilibrada.

O certo é que haverá insatisfações, por causa da forma como alguns partidos se acostumaram a sobreviver em Pernambuco. Mudar a posição do ventilador não é fácil em tempos de muito calor. Sempre vai ter alguém reclamando. 

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