Marília Arraes (SD) foi responsável por desequilibrar o jogo no primeiro turno ao ponto de enfraquecer o PSB na eleição em Pernambuco. Já Raquel Lyra (PSDB), no segundo turno, pode ter enfraquecido muito a importância dos socialistas junto a Lula (PT) no estado.
O PSB buscou apoio petista como se dependesse disso para viver e acabou derrotado na primeira parte da eleição. Ainda lambendo as feridas, todos no PSB sabiam que o futuro do grupo dependia de uma grande participação na vitória de Lula no segundo turno. Paulo Câmara, Danilo Cabral e João Campos, principalmente, sabiam que precisavam ser protagonistas de uma votação ainda maior do que Lula já havia tido para, assim, ganharem força num eventual terceiro governo petista.
Se Lula tivesse crescido sua votação e esmagado Bolsonaro em Pernambuco, poderiam cobrar a fatura mais à frente.
Com o resultado das urnas, apesar da esperada vitória lulista em Pernambuco, um dado chamou a atenção: Bolsonaro cresceu mais do que Lula na segunda fase. Enquanto o petista teve um acréscimo de menos de 90 mil votos, Bolsonaro cresceu mais de 160 mil. Nos bastidores do PT, inclusive, atribuiu-se o crescimento de Lula a Marília Arraes e não aos socialistas. O que se fala é que o PSB não agregou em quase nada.
E o que chama mais atenção, fortalecendo essa tese, é que Lula, candidato a presidente, teve menos votos do que Raquel Lyra, candidata a governadora, em toda a Região Metropolitana, apesar da pressão para que a polarização fizesse efeito em Pernambuco. Juntando todo o eleitorado da RMR, dominada pelo PSB por tantos anos, Raquel teve 1.448.425 votos. Já o presidente eleito conseguiu 1.344.397 votos nos mesmos municípios.
Na maior cidade do estado, a capital, comandada por João Campos (PSB), Lula teve 558.690 votos e Raquel teve 632.450 votos.
No estado, Lula só teve mais votos do que Raquel devido à vantagem no Sertão, em municípios nos quais Marília tinha hegemonia.
Baseado nesses números, dá para tirar duas conclusões. A primeira é que Marília foi mais importante para Lula do que o PSB nessa eleição.
Não significa, porém, que isso a torne essencial para o lulismo no estado, fazendo oposição à governadora e se preparando para ser a “candidata de Lula” outra vez.
O motivo é, exatamente, a conclusão seguinte: Raquel teve mais votos do que o presidente Lula em quase todas as cidades com o maior número de habitantes do estado. Ele terá que dialogar com ela, não fazer oposição ferrenha.
Caso contrário, o PT, que não sobrevive há muitos anos sem a ajuda do PSB, pode definhar por aqui.
O motivo?
Há alguns dias, a coluna falou sobre a relação entre Raquel Lyra e João Campos. Fontes apontaram uma “ausência de simpatia crônica” da governadora eleita pelo prefeito do Recife.
O que sempre se comentou foi que a relação ruim que ela tinha com Paulo Câmara (PSB) se deu porque ele é considerado o responsável pelo episódio em que Raquel foi proibida de ser candidata à prefeitura de Caruaru. Por isso, saiu do PSB e foi pro PSDB. Na época ela reclamava que foi praticamente expulsa da sigla. Ninguém sabe, porém, qual a origem da indisposição com o filho de Eduardo Campos.
Mas, um leitor atento da coluna, que trabalhou no governo por muito tempo, lembrou um fato daquele ano de 2016 que pode dar uma pista.
Quando ainda lutava para ser candidata à prefeitura pelo PSB, Raquel tentou marcar audiência com Paulo várias vezes e sempre recebia uma negativa por telefone. Determinada, começou a bater à porta do governador, tentando pessoalmente uma conversa e dizendo que não sairia do Palácio sem uma reunião. Também terminou sendo impedida e tomava verdadeiros “chás de cadeira” no local aos olhos de todos.
Detalhe é que o chefe de gabinete de Paulo Câmara (PSB), naquela ocasião, responsável pelo acesso de qualquer um ao governador, era um jovem com bastante força dentro do PSB e do Palácio, começando sua carreira numa função pública já com muito prestígio.
Ele se chamava João Campos.
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