Paulo Câmara (PSB) é o governador até o dia 31 de dezembro. O comando formal da caneta que decide, porém, não pode ser utilizado sem critério e transparência para ações que terão repercussão futura. Ele sabe disso e seus secretários também, os membros da transição idem.
O tema não deveria ser motivo de polêmica numa sala cheia de gente adulta. Por isso surpreende que seja necessário ficar questionando decisões tomadas nessa reta final de governo, com repercussão até em equipamentos estaduais como Espaço Ciência, num acordo entre estado, prefeitura e uma entidade privada.
O caso do terreno doado para a implantação de um datacenter e instalação de um cabo submarino chamou a atenção da equipe de transição e, agora, também do Ministério Público de Contas (MPCO). A procuradora-geral, Germana Laureano, em entrevista à Rádio Jornal, mencionou uma série de questionamentos sobre a doação.
O grupo de transição do futuro governo Raquel Lyra (PSDB), liderado pela vice, Priscila Krause (Cidadania), quer acesso aos detalhes dos contratos e às licenças ambientais.
O curioso é que o projeto envolve a prefeitura do Recife ainda na gestão de Geraldo Julio (PSB). Hoje, Geraldo está como secretário de Desenvolvimento Econômico. Em 2020, no fim de sua gestão municipal, Geraldo anunciou com Paulo Câmara a construção do datacenter e a implantação dos cabos. Na reportagem, publicada em novembro daquele ano no site da própria prefeitura, fala-se num investimento de mais de R$ 300 milhões.
O objetivo era resolver tudo em 2021 e iniciar a operação em janeiro de 2022. O atraso é natural nesse tipo de empreendimento, acontece. Mas fica o questionamento pela pressa para resolver tudo rápido. Quase dois anos e, agora, bate essa agonia?
Afinal, qualquer compromisso que exista entre esta atual gestão e a empresa parceira poderá ser cumprido no próximo ano, ou não?
Vale dizer que o empreendimento é muito importante, tem potencial para faturar mais de R$ 300 milhões por ano quando chegar à maturidade e promete melhorar a estabilidade e a velocidade da internet na cidade. Projetos assim, aliás, precisam ser valorizados e se multiplicar. A falta de agilidade, inclusive, foi um dos grandes problemas dessa gestão. Se tivesse sido implantado, mesmo, em janeiro deste ano, quanto de benefício já não poderia estar sendo aproveitado?
O que tem causado estranheza é a pressa para, de última hora, tentar resolver em 30 dias o que não foi resolvido em oito anos.
Essa impressão, aliás, tem se tornado recorrente. Não fazem 10 dias que a secretaria de Geraldo Julio tentou criar um grupo de trabalho para "atuar na implantação de projetos estruturadores". Era uma equipe para planejar o futuro de um estado em cerca de 40 dias. Se conseguissem, seria um assombro de eficiência.
Com a péssima repercussão, a secretaria acabou desistindo da iniciativa “ousada”. Na época, a polêmica do Grupo de Trabalho relâmpago gerou reclamações dentro do próprio governo, nos bastidores. “Quando Geraldo inventa de fazer algo, dá nisso. Era melhor ter ficado de férias”, soltou um socialista.
Transição
Uma transição não é fácil para ninguém. Quem vai entrar sente que está invadindo. Quem vai sair, sente-se excluído, visto pelas costas. Ninguém confia em ninguém, nem para administrar a temperatura do ar-condicionado da sala ou para tomar um cafezinho. Se não houver um mínimo de previsibilidade e transparência com as atividades, tudo começa a parecer armadilha, tudo começa a parecer esqueleto em armário, mesmo quando não é.
Gestões públicas são complexas e todo mundo é adulto. Fará bem se todos seguirem agindo de acordo com isso.
Voltando
Esta semana, a governadora eleita, Raquel Lyra, estará de volta a Pernambuco após uma imersão na Universidade de Oxford. Espera-se que a equipe de transição seja ampliada nos próximos dias com a criação de grupos temáticos para discutir diretrizes do futuro governo em áreas como Educação, Saúde e Segurança.
Além de Raquel, outros pernambucanos viajaram para Oxford, todos a convite da Fundação Lemann, como o deputado eleito Mendonça Filho (UB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
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