Cena Política

Cena Política: O ministro Haddad, o ministro Múcio e o folclore com João Campos

Confira a coluna Cena Política desta terça-feira (29)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 29/11/2022 às 0:01
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Fernando Haddad e Lula - FOTO: Reprodução
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Deve existir um Fernando Haddad (PT) que somente Lula (PT) conhece. E somente Lula acredita que ele é a melhor opção para o ministério da Fazenda.

Porque o Fernando Haddad que todo mundo conhece perdeu quase todas as eleições que disputou e na única vitória obtida, numa época em que Lula elegia qualquer poste em qualquer posto, fez um trabalho tão ruim que não conseguiu a reeleição na sequência.

Mais ou menos do jeito que Bolsonaro (PL) perdeu a última disputa na urna.

O que explica Haddad como principal ministro de um terceiro governo Lula, numa pasta com a qual ele não tem qualquer afinidade, com um histórico duvidoso que não entrega qualquer tipo de confiança ao mercado e que não inspira apoio, possivelmente, na maior parte da população?

O único motivo possível é que Lula quer ser o próprio ministro da Fazenda, sem intermediários, porque encurtar o espaço entre os desejos do presidente eleito e a realização deles é algo em que Haddad se sai muito bem.

Ele deixou de ser presidente da República em 2018 porque, entre outras coisas, ia semanalmente à carceragem da Polícia Federal em Curitiba para ouvir os desejos de Lula e colocá-los em prática na campanha, mesmo que os desejos fossem diametralmente opostos à realidade que a campanha eleitoral impunha naquela época.

Haddad tinha um apelido dentro do PT que era xingamento para eles e esperança para o resto do Brasil. O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação era chamado de “Tucano petista”, por defender que o partido precisava se reformular e se modernizar, apontando para uma economia mais liberal.

Com o tempo, entretanto, rendeu-se à necessidade de sua própria sobrevivência interna, defendendo a mesma pauta dos colegas, apesar do pouco brilho de sempre.

Sim, é preciso dizer isso. Haddad nunca demonstrou ser brilhante, um ponto fora da curva, uma ilha no oceano de generalismos petistas, nada disso. Haddad sempre vendeu a pose de equilíbrio e só isso destaca alguém dentro de um PT conhecido por ser um saco de gatos. Mas é só isso.

A verdade é que sua principal virtude no ambiente lulista é ser obediente a Lula. E isso é um problema para todos aqueles que apoiaram o petista imaginando que haveria algum tipo de filtro entre o que ele dizia na campanha e o que faria caso fosse eleito.

Um filtro com a experiência e a credibilidade de Henrique Meirelles era o mínimo que se esperava. Precisava ser alguém que colocaria panos quentes no alvoroço quando Lula dissesse que iria explodir a saúde fiscal do país. Haddad não é esse cara.

O ex-ministro da Educação é o sujeito que vai tentar convencer a todos, com olhos baixos de resignação, que “se Lula está dizendo que é certo, aquilo é certo”.

Engana-se quem acredita que o problema do discurso do provável futuro ministro da Fazenda na Febraban, que fez a Bolsa cair e o Dólar subir, há alguns dias, foi o conteúdo.

Ele não falou nenhum absurdo. O problema do discurso foi o autor dele. Ao estar ali, todo mundo percebeu que Lula estava sinalizando para ele como chefe na pasta da Fazenda. E todo mundo entendeu que Lula resolveu eliminar qualquer tipo de filtro entre ele, os petistas mais radicais, e a economia do país.

O desafio de Haddad será surpreender. Coisa que, até hoje, com ou sem cargo público, ele nunca conseguiu.

Ele é só um

O pernambucano José Múcio Monteiro passou a segunda-feira (28) sendo o principal cotado para o Ministério da Defesa. É civil, como prometeu Lula (PT), mas não é de esquerda, como pediram os militares.

Há alguns meses, numa conversa informal, quando Múcio estava sendo cotado para disputar o governo de Pernambuco pelo PSB, o ex-presidente do TCU chegou a falar sobre o ensaio que os socialistas fizeram para que ele disputasse o cargo de Paulo Câmara (PSB).

Na época, relatou a ponderação feita por um amigo dele: “Múcio, você já foi líder do governo e ministro de Lula, tem um currículo imenso e nunca foi acusado de nada errado. Vai entrar numa campanha agora?”. Ele recusou a possibilidade, na época.

A coluna soube que ele já foi convidado uma vez para o ministério da Defesa, nesta transição, mas desconversou. O papo, até então, estava no nível do PT.

Agora, porém, Lula (PT) teria entrado pessoalmente na conversa para convencer o ex-aliado.

O ex-ministro é conhecido em Brasília por ser uma ponte natural entre mundos ideologicamente antagônicos. É um raro caso de alguém que circula da direita para a esquerda, e vice-versa, sem provocar atritos de qualquer ordem.

É o que o governo Lula mais precisa na Defesa e em todos os outros ministérios. O defeito de Múcio talvez seja o irremediável fato de ser uma pessoa só. 

Perigo do folclore

Quase ninguém prestava muita atenção à agenda de Bolsonaro (PL), até que ele perdeu a eleição, parou de trabalhar, e todo mundo passou a contar cada um de seus compromissos oficiais.

No Recife, quase ninguém prestava muita atenção na agenda de João Campos (PSB). Mas, com o tempo, percebeu-se que ele viaja demais e os compromissos fora do estado têm sido bem frequentes. Bolsonaro está em fim de mandato, mas João está na primeira metade.

Mesmo assim, o prefeito tem intercalado passagens pela cidade que governa, enquanto integra a comissão de transição de Lula em Brasília ou circula por São Paulo, onde mora a namorada.

Nos últimos dias, viajou para a Inglaterra participando de um curso pela Fundação Lemann, nada demais.

Porém, quando desembarcou de volta no Recife, avisou logo que estava saindo em recesso até o dia 4 de dezembro.

Mesmo com tudo justificado, chama atenção.

O risco para o socialista é virar folclore.

FHC (PSDB), quando presidente, viajava tanto que ganhou o apelido de “Viajando Henrique Cardoso”. Depois do apelido, por mais que ficasse no Brasil, a realidade já havia perdido para a piada. E isso não tem volta.

João está na primeira década de sua carreira política. Alguém precisa orientá-lo a ficar mais no Recife.

Porque o folclore pode ser implacável no médio e no longo prazo.

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