Cena Política

Tendência é que PSB de Pernambuco e Marília Arraes não tenham destaque no governo Lula. A derrota tem seu preço.

Confira a coluna Cena Política deste domingo (18)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 18/12/2022 às 0:01
GUGA MATOS/JC IMAGEM
Visita do candidato a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva em Recife. Ele participou de ato com a candidata ao governo de PE, Marília Arraes entre outros políticos, acompanhou também o prefeito do Recife João Campos. - FOTO: GUGA MATOS/JC IMAGEM

Pode não ser de propósito, mas os grupos que perderam a eleição nos seus estados, em outubro, estão recebendo menos atenção na formação do ministério do governo Lula (PT). O argumento da presidente do PT, Gleisi Hoffmann para negar espaços ao PSB, alegando que "o partido só fez 14 cadeiras na Câmara e não poderia exigir muito", parece ser mais amplo do que a frase sugere. Isso vale, principalmente, para o Nordeste.

A queda na cotação de Paulo Câmara (PSB) para ocupar um ministério poderia ser explicada só pela divisão interna entre os socialistas, mas o fato de o PSB nacional não ter conseguido emplacar ninguém, ainda, mostra que o problema é mais complexo. E, não, Flávio Dino (PSB) no Ministério da Justiça não conta. Foi escolha pessoal de Lula e nem era indicado pelo partido.

Dino, porém, serve de exemplo porque o grupo dele saiu vitorioso no Maranhão. Ainda, no Nordeste, o Ceará, onde o grupo do ex-governador Camilo Santana (PT) saiu vitorioso, vive a expectativa apenas de saber se o próximo a ocupar o ministério da Educação será o próprio Camilo ou sua vice, a atual governadora Izolda Cela. Provavelmente será Camilo.

Quer mais? Caberá a Camilo Santana e ao governador cearense eleito, Elmano de Freitas (PT) a indicação do próximo presidente do Banco do Nordeste. Paulo Câmara, que era cotado para o BNB, também não estará lá. O escolhido será, provavelmente, alguém do Ceará.

E se o BNB ficar com o Ceará, a Sudene deve caber a alguém da Paraíba, onde a esquerda também venceu.

O ex-governador do Piauí, Wellington Dias (PT), cujo grupo saiu vitorioso da eleição estadual, deve ficar com o Ministério do Planejamento.

Quer saber outro estado do Nordeste que já tem ministro confirmado? Bahia. Rui Costa (PT), que foi governador duas vezes e elegeu o sucessor numa disputa que chegou a ser vista como impossível, comandará a Casa Civil de Lula.

Quer mais? Em Alagoas, Renan Filho (MDB), que elegeu seu sucessor no estado vizinho a Pernambuco, está sendo cotado para uma pasta na gestão petista.

E em Pernambuco? Bom, Marília Arraes (SD) chegou a vender nos bastidores que poderia ser ministra do Turismo. Aqui na coluna já havíamos alertado que a relação dela com o PT era ruim e, mesmo se o SD tivesse a pasta, haveria resistência a ela. Acabou que a pasta do Turismo está praticamente acertada para Pedro Paulo (PSD-RJ), aliado do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e que venceu a eleição para a Câmara.

Pedro Paulo é uma indicação de Gilberto Kassab, o presidente do PSD que talvez tenha sido a figura política mais vitoriosa nessa eleição. Lula venceu o Brasil e não levou São Paulo. Bolsonaro ficou com São Paulo e não ganhou no Brasil. Já Kassab é aliado da vitória em São Paulo e no Brasil.

Ter aliados que venceram é prioridade para Lula. Marília e Paulo Câmara, com seus grupos políticos, foram derrotados e acabaram sendo postos de lado. Essa é a verdade.

Chegou-se a falar em Luciana Santos (PCdoB), por exemplo, para um ministério menor na cota do partido. Nem para isso há mais garantia. Mesmo Marília, Luciana e o PSB tendo apoiado o petista no estado, quem venceu aqui, com larga vantagem, foi o PSDB de Raquel Lyra (PSDB).

Uma das perguntas que um gestor faz antes de escolher seus ministros é: eu tenho isso para lhe dar, como você pode me ajudar? O Ceará, o Maranhão, o Piauí, a Paraíba, Alagoas e a Bahia deram boas votações a Lula e, o mais importante, saíram vitoriosos. Todos esses grupos comandam gestões estaduais pelos próximos quatro anos e terão força política própria, inclusive na próxima eleição municipal, quando Lula precisará expandir a esquerda pelas prefeituras para conter o avanço do bolsonarismo e não ficar na corda bamba em 2026.

A lógica é que se você vai almoçar com alguém que tem seu próprio dinheiro, a conta do almoço pode ser rachada. Mas, se você leva pra almoçar alguém que está numa situação pior que a sua, ao fim da refeição a conta será toda sua também. Fica mais caro.

No Ceará, no Maranhão, no Piauí, na Paraíba, em Alagoas e na Bahia, as máquinas estaduais trabalharão para eleger prefeitos e terão a ajuda dos ministros indicados por Lula, existe um fluxo de apoio.

Em Pernambuco, João Campos (PSB) é quem precisará de ajuda petista (o mesmo PT que ele maltratou na eleição passada) para sobreviver e não terá nada para oferecer.

O que o PSB e Marília Arraes terão para oferecer a Lula no estado, em termos de distribuição de verbas para fazer a esquerda ampliar o número de prefeituras? Sobrenomes e álbuns de recordações, não resolvem a vida do PT em 2024.

O mundo político é um “pouquinho” mais pragmático que isso.

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