A “solução Tebet” da campanha eleitoral, transformou-se no "problema Tebet” da formação do governo. A senadora ficou em terceiro lugar na campanha de 2022 e foi essencial para Lula (PT) vencer a disputa, por mais que a militância petista tenha corrido às redes sociais para diminuir o papel dela no processo eleitoral.
Tebet foi essencial porque não ficou apenas na transferência distante de votos. Ela foi às ruas, enfrentou locais onde Lula nem entrava para não ser vaiado.
Quer falar de quem não influenciou nem um voto para o petista, fale de Ciro Gomes (PDT). O cearense declarou apoio sem citar o PT e sem mencionar o nome de Lula. Não viajou a Paris, mas poderia ter ido e não faria falta.
Tebet teve 4 milhões de votos no primeiro turno e o presidente eleito venceu o adversário com uma diferença menor que 2 milhões de votos.
No segundo turno Bolsonaro (PL) cresceu 7 milhões de votos e Lula só cresceu 3 milhões.
Mas, se a frieza matemática não for suficiente para um coração ainda sincero, então é preciso lembrar que durante o segundo turno, quando Lula não conseguia cumprir as agendas, Alckmin e Tebet o substituíram.
Fizeram isso no MS em mais de uma ocasião, onde além de problemas com agenda se temia que o petista fosse vaiado porque era um estado essencialmente bolsonarista.
Fizeram isso, ela e o vice, também nas viagens pelo interior de São Paulo, onde o PT vai mal, mas o MDB de Tebet e o PSDB, que já foi a casa de Alckmin, ainda têm bastante acesso.
Os votos que Tebet e Alckmin "cataram" nesses lugares em que Lula nem entrava fizeram diferença.
Se, ainda assim, a importância da senadora não é considerada por você, então ao invés de um coração sincero a avaliação é feita pelo coração militante. E não há argumento perfeito que descortine a lógica em um coração militante.
Vale para petismo e bolsonarismo, que nesse ponto não se diferenciam.
Agora, a movimentação desses militantes, robôs e humanos, nas redes sociais, tem chamado a atenção. E parece tudo bem orquestrado. O PT apanhou bastante do bolsonarismo, mas parece ter aprendido direitinho.
A máquina de moer reputações segue funcionando a todo vapor, agora à esquerda. Um exemplo prático: Lula marcou uma conversa, na sexta-feira passada, com Simone Tebet. Ia discutir a posição dela no ministério.
A solução ficou para este domingo e talvez só seja anunciada nesta próxima semana. Mas, assim que a reunião foi marcada, o nome de Tebet foi parar nas primeiras posições em menções no Twitter.
Ao clicar e acompanhar o conteúdo, via-se que o discurso das contas que escreviam contra ela tinha mais ou menos a mesma estrutura vocabular e os mesmos argumentos: algo como “quem ela pensa que é para ficar escolhendo ministério e não aceitar o que oferecem?”.
Até os “xingamentos” são semelhantes e vão da relação da senadora com o agronegócio até ao voto dela contra Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Claramente, o objetivo é queimar a imagem dela com os eleitores da esquerda. Esse discurso, claramente, foi construído na mesa de Gleisi Hoffmann (PT) para pressionar a senadora a aceitar um cargo de menor expressão política, como o ministério do Planejamento, que ela já recusou.
Por que isso? Gleisi tem sido apontada como o José Dirceu dessa gestão, ajudando a montar o ministério de acordo com os interesses do PT.
Assim como Dirceu em 2002, quando sonhava ser presidente em 2010, Gleisi sonha com a oportunidade de ser ungida na eleição de 2026, ou 2030, como candidata à presidência, sucessora de Lula.
Há quem acredite que se Tebet assumir um ministério com grande articulação política, torna-se imbatível numa eleição futura, por ter como unir o discurso de gênero, o da economia liberal e a sensibilidade social.
Por isso ela queria o Ministério do Desenvolvimento Social e, por isso, o PT fez um carnaval para que ela fosse vetada na pasta, já que Lula estava inclinado a indicá-la, em agradecimento pelo que ela fez na campanha.
O leitor pode memorizar isso para cobrar depois: Gleisi Hoffmann vai dar muito trabalho nos próximos meses e anos. Vai gerar muitas crises, forçando a demissão de ministros que ameaçarem o projeto dela e do PT de se manter no poder custe o que custar.
Gleisi será o nome por trás da maioria das crises dentro do governo Lula 3, como vem sendo chamado. E, agora, como já aprendeu muito com os erros do passado, pode ser que não termine como Dirceu.
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