Cena Política

Os desafios dos que tomam posse hoje, escrevendo a História e calçando sapatos adequados

Confira a coluna Cena Política deste domingo (1º)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 01/01/2023 às 0:01
REPRODUÇÃO
Raquel Lyra (PSDB) e Lula (PT) - FOTO: REPRODUÇÃO

Hoje é o primeiro dia dos próximos quatros anos, dentro de um ciclo de mudanças no Brasil e em Pernambuco.

Em Brasília, um governo marcado pela polêmica mais do que pelas realizações acabou. Entrou um presidente escolhido não por ser um ponto de equilíbrio, mas por ser um contraponto ao que havia, o que não é boa receita.

A posse que acontece hoje é marcada por temores dos dois lados do balcão, certamente.

Enquanto os brasileiros temem uma nova escalada de denúncias de corrupção, culminando em crises políticas e econômicas, como aconteceu nos primeiros 13 anos do petismo, o próprio Lula (PT) terá um compromisso com sua própria biografia e lutará para escrever nela novos capítulos que possam suplantar o período em que ficou preso e foi condenado por corrupção.

Ele teme, e tem razão, não ser capaz de promover transformações suficientes para isso em quatro anos. Seria mais fácil, caso sua vitória tivesse acontecido no primeiro turno ou se a diferença no segundo turno tivesse sido grande.

Passada a eleição, é possível que Bolsonaro não tenha mais o apoio de nem metade dos 58 milhões de eleitores que lhe endereçaram o voto em outubro passado. Mas, para Lula, isso não importa, porque a vitória apertada, quando quase perdeu a disputa, conseguindo só 0,9% acima da metade dos votos, vai assombrá-lo por quatro anos.

Ele terá 80 anos ao fim do mandato e sua saúde já debilitada hoje, após enfrentar e vencer um câncer, pode cobrar o preço das décadas, não lhe permitindo a reeleição.

Então, é preciso viver esse mandato como se fosse o último. Para reforçar a importância disso para ele, é preciso lembrar: Sarney teve momentos de grande popularidade, mas só é lembrado pela rejeição no fim do mandato. Fernando Henrique (PSDB) salvou a economia do país, mas é lembrado pela crise que culminou com sua alta rejeição no segundo mandato.

Ninguém lembra que Collor é o responsável pela abertura econômica do Brasil, ninguém lembra que Bolsonaro foi o presidente sob o qual se aprovou uma boa e necessária reforma da Previdência, ninguém lembra que Michel Temer (MDB) pacificou o país após um impeachment.

Lula tem 53 anos de vida pública, desde que iniciou seu trabalho no Sindicato dos Metalúrgicos, mas esses próximos quatro anos, e não seus dois primeiros mandatos, é que vão determinar como ele irá entrar nos livros de História para a posteridade.

Pernambuco

Por aqui a mudança também sopra com vigor. Há uma boa dose de juventude e outra boa dose de tradição nessa ventania.

Quem toma posse neste domingo como governadora de Pernambuco é uma mulher de 44 anos, bastante jovem e com uma carreira em plena ascensão, dada a movimentos que surpreendem os políticos mais antigos e que, ainda assim, não deixam de apoiá-la, como se ainda estivessem tentando decifrá-la.

Mas também toma posse a filha de um ex-governador e sobrinha de um ex-ministro, de uma família tradicional que entrou na política no final dos anos 1950 para não mais sair.

Ao seu lado, como vice, uma jornalista cuja juventude também é um fator importante, mas que também é filha de um ex-governador e ex-prefeito do Recife.

Quando juventude e tradição se unem, forma-se a ponte necessária para o futuro.

Conservadorismo virou um “palavrão” depois que Bolsonaro foi presidente, mas a base dele, longe de ser religiosa, é formada exatamente pela capacidade de unir o novo e o antigo, em equilíbrio, para avançar.

Ninguém chega longe sem usar a experiência da tradição e os resultados que ela promove. É bom correr descalço, mas não se vai longe, por isso usamos sapatos, criados por alguém do passado. Usar sapatos é ser conservador, mas é assim se chega adiante.

Raquel terá um desafio maior, porque pega um estado com muitos problemas para resolver e soluções para administrar. O desafio será ainda maior por não ter priorizado a articulação política na formação do governo.

A gestão começa deixando em segundo plano alguns atores importantes na aprovação de projetos que podem ser importantes ao longo do percurso.

Acompanhar o comportamento desses grupos ao longo das próximas semanas será importante para entender até que ponto eles estão dispostos a aceitar a juventude de Raquel e Priscila e até que ponto elas duas estão dispostas a jogar o jogo da tradição.

Somente se houver entendimento teremos avanço. Os pés dispostos no governo vão precisar de sapatos para ir mais longe. Nenhum dos lados pode esquecer isso.

Pausa

A eleição de 2022 foi atípica porque começou em 2019. Nos últimos meses, a apoteose dessa tensão eleitoral permanente cobra seu preço e obriga ao descanso.

Este colunista sairá de férias e retorna no dia 1º de fevereiro, já para acompanhar a eleição da Mesa Diretora da Alepe.

Até a volta!

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