Papai Noel, talvez, acabe sendo responsabilizado por Marcos do Val no fim da série de declarações que o senador começou a dar sobre ter sido coagido a armar uma arapuca para Alexandre de Moraes.
Cada vez que vai repetir o relato sobre o episódio em que teria sido convidado a dar um golpe, lá em dezembro antes da posse de Lula, a conversa muda um pouquinho. Parece história de criança que começa falando em monstro no quarto e se termina descobrindo que não passava de uma mancha na cortina.
O bom velhinho daquele natal vai acabar levando a culpa e sendo preso por incitar um golpe de estado, porque Marcos do Val começou dizendo que o autor da ideia era Bolsonaro, com o ex-deputado Daniel Silveira e até o GSI.
Disse, inclusive, que somente cinco pessoas sabiam de tudo: eles três e mais dois generais não especificados.
Horas depois, a versão mudou. Do Val passou a sustentar que deduziu que o GSI estivesse envolvido, mas que não foi algo verbalizado.
Depois, reduziu a versão em outra entrevista, afirmando que Bolsonaro estava na sala, mas que não disse nenhuma palavra.
Ele também afirmou que iria renunciar ao mandato de senador, mas depois disse que não pretendia mais renunciar.
Da primeira versão para a última, somente a participação ativa de Daniel Silveira ainda está de pé. Talvez porque seja o mais inofensivo de todos, preso hoje pela Polícia, ou porque o senador Marcos do Val é um trapalhão, inconsequente, que precisava chamar a atenção para si de alguma maneira e resolveu jogar no ventilador algo que não calculou a extensão.
A cada entrevista que dá, Do Val parece mais atrapalhado, desdizendo o que disse e sem saber como tapar o buraco das afirmações que retira.
Vai acabar culpando o Papai Noel, que não será preso. Nem Alexandre de Moraes ousaria se meter com o bom velhinho.
O que há por trás
Pelo que se comenta em Brasília, a ideia do senador conversador (que coincidentemente está trocando o Podemos pelo PL de Bolsonaro esta semana) nunca foi prejudicar o ex-presidente.
A teoria é que seria, na verdade, uma tentativa de provocar uma CPI no Congresso para investigar as alegações dele (Do Val).
Nesta CPI, a participação de Alexandre de Moraes no episódio seria questionada, porque Do Val afirma que estava em contato com o ministro do STF todo o tempo, e Moraes “seria impedido” de atuar no julgamento dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro, por suspeição.
Seria um jeito de afastar Moraes alegando que ele estava "trabalhando para prejudicar o então presidente".
Mais uma maluquice, claro.
Em tempos de rarefação de sanidade, não é de se surpreender se tiver sido essa mesmo a intenção do senador.
A estranheza na interinidade
Fernando Dueire (MDB), que exerce o cargo de senador devido ao afastamento de Jarbas Vasconcelos (MDB) por motivos de saúde, surpreendeu votando e fazendo questão de declarar sua escolha no candidato Rogério Marinho (PL) para a presidência da Casa Alta.
Acontece que o MDB orientou voto em Rodrigo Pacheco (PSD) e o voto de Dueire em Marinho, no contexto da atuação histórica de Jarbas Vasconcelos, causou estranheza (pra dizer o mínimo).
Para o eleitor que votou em Jarbas para Senador, é como se alguém da oposição a Jarbas estivesse apertando os botões, e não alguém que foi eleito como suplente no mesmo diapasão que o ex-governador e hoje senador sob licença.
Não podia
“Como assessor de Jarbas em suas administrações, posso dizer que Dueire não podia aproveitar uma interinidade para contrariar toda a tradição política e coerência de Jarbas, acrescentando que o MDB recomendou o voto em Pacheco”, declarou o sociólogo José Arlindo Soares.
Nem precisava
Além do voto, a preocupação de Dueire em anunciar sua escolha e tentar justificá-la é curiosa. Ele não precisaria ter feito isso, já que o processo é feito em votação secreta.
Comprometer-se com o legado do senador eleito na chapa de 2018, publicamente, foi uma escolha do senador em exercício.
Ele fez questão que todos soubessem em quem ele estava votando.
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