Cena Política

O poder de quem estreia: para não acabarem isolados, políticos evitam apostar contra Raquel Lyra

A preocupação em não faltar à governadora, enquanto não estiver claro se ela dará muito certo ou não, foi demonstrada na reunião que ela convocou com os deputados esta semana.

Igor Maciel
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Publicado em 04/02/2023 às 0:01
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Raquel Lyra (PSDB), Miguel Coelho (UB) e Anderson Ferreira (PL) - FOTO: DIVULGAÇÃO

Pouca gente lembra, por ter sido há 16 anos, mas o início do governo Eduardo Campos também foi cheio de incertezas. Na época, toda a base política dominante do estado foi alterada e isso causou insegurança entre os partidos.

Há uma desconfiança natural com toda quebra de paradigma, porque quem já está no poder tende a ser conservador, enquanto os fora dele são revolucionários de ocasião.

O governo Eduardo começou com dificuldades, principalmente na área de segurança. Quem apostou contra a nova gestão acabou sendo atropelado, depois, por medidas que conseguiram combater os índices de violência.

E isso é apenas um exemplo.

No período que separou o “Eduardo Campos eleito” do “Eduardo Campos quase unânime”, personalidades políticas atacaram a gestão por toda dificuldade que aparecia. Estes sofreram bastante depois e só foram conseguir novos espaços no poder com muito custo e com o passar de vários anos.

Essas coisas ensinaram os políticos de 2023 a serem mais cautelosos.

Explica-se, assim, o motivo de um Eduardo da Fonte (PP), mesmo tendo recebido muito menos espaço e atenção do que sua bancada de oito deputados estaduais na Alepe recomendaria, andar dizendo que é importante “confiar na governadora Raquel Lyra (PSDB)” e que deve trabalhar para que “tudo corra bem”.

Explica também a nova bancada que está para ser formalizada na Alepe: a dos “Independentes”. A ideia, inicialmente, é que ela receba deputados do PL, União Brasil e Solidariedade, mas nada está completamente definido ainda.

Se for confirmada essa formação, teríamos dois partidos de ex-candidatos derrotados no primeiro turno da última eleição e o partido da candidata derrotada no segundo turno.

Acontece que Anderson Ferreira (PL) e Miguel Coelho (União Brasil) apoiaram Raquel na segunda parte da eleição. Anderson foi mais discreto, Miguel foi desmedido no apoio e ambos tiveram pouca ou nenhuma atenção na hora de receber espaços na gestão.

Miguel ainda teve que ouvir de Raquel, num discurso, na cerimônia de diplomação em dezembro, o que muitos acharam que foi uma indireta sobre “pensar mais em cargos do que na população”.

Os dois, Anderson e Miguel, teriam motivos para rumar à oposição, mas não o fizeram.

Primeiro porque a popularidade da governadora mantém-se alta neste primeiro mês e ir de encontro a isso é afastar-se até dos próprios votos.

Segundo porque pode ser que o governo dê muito certo, como aconteceu com Eduardo, e o orgulho do presente os faça lamentar no futuro. Foram pelo caminho do meio, da precaução, como Eduardo da Fonte. É uma posição inteligente.

Tão inteligente que nem o Solidariedade de Marília Arraes ousou mergulhar na oposição por enquanto. Quer ter, antes, certeza de que não ficará completamente isolado como ficou a oposição a Eduardo no passado.

Não é por outra coisa que o PSB também está tão dividido. Até quando é para defender o legado socialista dos últimos anos, o deputado Sileno Guedes (PSB), presidente estadual da sigla nesse período, soa um tanto isolado, como se a voz dele saísse de uma sala vazia.

O PSB fez a maior bancada, mas tem parlamentares (não poucos entre os 13) que não querem nem ouvir falar em fazer oposição. Como isso será administrado na bancada socialista será algo interessante de se acompanhar.

A preocupação em não faltar à governadora, enquanto não estiver claro se ela dará muito certo ou não, foi demonstrada na reunião que ela convocou com os deputados esta semana.

Numa sexta-feira, dia em que os deputados costumam já estar em suas bases, dos 49 parlamentares, apenas três faltaram, e fizeram questão de justificar, bem justificado. O encontro era um tipo de “after” para a eleição da mesa diretora em que a vontade de Raquel foi respeitada, embora ela não tenha interferido diretamente, e o presidente da Casa foi escolhido com 49 dos 49 votos possíveis.

À frente da Alepe ficará Álvaro Porto (PSDB), do mesmo partido que a governadora. O PSDB fez só três deputados estaduais, mas o PSB com 13 eleitos e o PP com 8 nem ousaram “bater chapa”.

Ao fim da reunião da sexta, um integrante do Governo Raquel, questionado como o encontro tinha repercutido, estava animado: “Muito bom.”

E completou, lembrando as acusações que ela recebia na campanha, por causa do relacionamento com a Câmara de Vereadores de Caruaru: “Pra quem dizia que ela não tinha diálogo com o legislativo, começou até bem”.

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