Cena Política

Transnordestina em Pernambuco ameaçada por arranjo entre Ceará e Piauí no governo Lula

Querem cancelar o ramal de Suape na ferrovia para garantir que os benefícios fiquem entre eles. E o trecho de Pernambuco seria inviabilizado.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 09/02/2023 às 0:01
TLSA
Trecho da Transnordestina abandonado Salgueiro PE - FOTO: TLSA

Quando formou seu ministério, Lula (PT) deu indícios de que não estava fazendo questão de contemplar Pernambuco, principalmente porque seu candidato no primeiro turno foi derrotado (Danilo Cabral) e a do segundo turno perdeu também (Marília Arraes).

Ao invés disso, as pastas de maior prestígio ocupadas por nomes do Nordeste, foram destinadas ao Ceará, Piauí e à Bahia. Nesses lugares os governadores eleitos com boa margem eram lulistas.

A relação com Raquel Lyra (PSDB) não é um problema, é bom que se diga. Qualquer um que conheça a história dos grupos políticos de Pernambuco sabe que ela está longe de ser uma crítica mordaz do presidente. Tanto que ele também nunca fez qualquer crítica a ela, inclusive na campanha.

Os arranjos que estão sendo feitos na Esplanada dos Ministérios para a Transnordestina, e que praticamente excluem Pernambuco da obra, porém, parecem ser resultado da influência que o Ceará e o Piauí, principalmente, têm sobre o governo Lula com seus ministros.

Querem cancelar o ramal de Suape na ferrovia para garantir que os benefícios fiquem entre eles. E o trecho de Pernambuco seria inviabilizado.

Você pode estar se perguntando sobre os ministros pernambucanos no governo que poderiam defender o estado.

Com todo respeito à capacidade de ambos, Luciana Santos (PCdoB) e André de Paula (PSD) são indicações partidárias em pastas muito específicas.

A influência junto a Lula é menor do que entre ministros que estão em setores estratégicos como Integração Nacional, Educação, Casa Civil e Infraestrutura, onde estão os outros nordestinos.

José Múcio é um pernambucano que está numa pasta de grande influência, mas já "carrega outras pedras" no ministério da Defesa nesse início de governo.

O governo Raquel Lyra ainda estuda uma solução para que o trecho de Suape da ferrovia seja finalizado em Pernambuco.

A reunião em que a proposta de excluir o estado foi feita à governadora e aos auxiliares foi tensa, esta semana.

Uma pessoa presente chegou a dizer que havia um tipo de indignação mal disfarçada entre os representantes do Piauí e Ceará por Pernambuco não estar aceitando ser excluído. "Como se fosse um absurdo não querer ser prejudicado".

A ideia dos cearenses e piauienses com seus ministros passaria por uma articulação feita a partir do Consórcio Nordeste, mas a decisão final deverá ser do governo Lula.

E aí, será preciso fazer uma pergunta ao pernambucano que senta, hoje, na cadeira de presidente da República: é no governo dele que o estado natal será prejudicado dessa maneira, como não foi nem mesmo durante a gestão de Bolsonaro (PL)?

Outra: Lula vai assumir a responsabilidade publicamente ou vai fingir que não está sabendo de nada?

E para a bancada pernambucana: haverá a mesma indignação que houve no governo Bolsonaro quando a possibilidade de tirar Pernambuco da Transnordestina foi levantada pela primeira vez? Algum deputado ou senador vai ficar revoltado e ameaçar ir pra briga como aconteceu no ano passado?

E a reforma?

O presidente Lula tem defendido que a indústria brasileira precisa que o Banco Central baixe a taxa de juros para crescer. Por isso, chamou atenção a fala do ex-ministro e ex-senador Armando Monteiro Neto (PSDB), hoje na Rádio Jornal, quando defendeu que isso é importante, mas não é prioridade para o setor.

Armando foi presidente da Confederação Nacional da Indústria e fez questão de ser claro sobre a polêmica, claramente fabricada por Lula: “a prioridade da economia hoje é a Reforma Tributária, não a queda na taxa de juros”.

O ex-senador, que já foi ministro de Lula, disse, inclusive, que o presidente poderia fazer um exercício de memória para chegar ao primeiro de seus governos, quando o BC não era independente e sofria influência do petista.

“Vai lembrar que chegou a aumentar a taxa de juros até mais de 20% para estabilizar a economia, naquela época”, disse. 

Realmente, em 2003, no primeiro trimestre do governo Lula, a taxa de juros chegou a 26,5%. Depois, a taxa foi baixando de acordo com as medidas que o governo ia tomando e com as respostas do mercado. Foi algo feito com responsabilidade, 20 anos atrás.

Hoje a taxa está em 13,75% e Lula resolveu que esse é "o problema do mundo", mesmo sem ter ainda feito nenhuma sinalização para mostrar que vai agir de forma responsável com a economia e sem nenhum tipo de reforma. Nem mesmo a nova âncora fiscal que vai substituir o teto de gastos é conhecida ainda.

A receita de estabilidade, para evitar descontrole inflacionário, Lula já conhece. E isso só reforça que essa conversa de brigar com o BC por causa da taxa de juros não passa de encontrar um bode para colocar na sala quando começarem a reclamar das outras questões que o governo não está conseguindo resolver.

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