Na tarde da segunda-feira (13), quando ainda estava se preparando para ir à festa de aniversário do PT, o presidente Lula (PT) recebeu um conselho: era melhor parar de falar tanto em Campos Neto.
As críticas ao presidente do Banco Central por causa da taxa de juros estavam evidenciando o criticado e tendo efeito contrário ao que o petista esperava. Ao invés de desacreditá-lo, estavam promovendo-o.
Um dos pontos do argumento foi a entrevista ao programa Roda Viva, que começou a ser anunciada com muita expectativa para a mesma segunda-feira.
Lula concordou e, durante a festa do PT, não falou mais no presidente do Banco Central. Mas, o PT seguiu no ataque.
Há uma regra básica na construção de ambiente político: “falar mal de alguém é dar um endereço à oposição”.
Tirando quem trabalha na área econômica ou se informa minimamente sobre o país, o que, infelizmente, não é a maioria dos brasileiros, ninguém sabia quem era Roberto Campos Neto até os petistas, no ímpeto de arranjar um bode expiatório para quando a economia não decolar, terem tentado vestir no centrado gestor do BC a fantasia de “adversário do país”.
Hoje, todo mundo que viu TV e ouviu rádio nas últimas semanas, mesmo que tenha sido enquanto esperava começar a novela, futebol, ou quem procurava um meme nas redes sociais, descobriu que ele é alguém de quem “Lula não gosta”. E isso o credencia de alguma maneira.
A estrutura de Campos Neto como figura pública acabou reforçada com a entrevista, porque ele se mostrou equilibrado ao ponto de agradar qualquer um que o enxergasse afastado de algum viés ideológico também.
Se Lula e o PT continuarem falando nele, não vai demorar para alguém lançá-lo candidato à sucessão do próprio Lula em 2026. O mandato do presidente do BC termina em 2024.
Na entrevista ao Roda Viva, Campos Neto falou com desenvoltura sobre todos os assuntos que lhe foram colocados, sem nenhum tipo de irritação, nem mesmo quando foi questionado sobre ter ido votar com uma camisa amarela, já no exercício do cargo atual, do qual se espera independência.
Disse que tem relações pessoais com integrantes da gestão anterior e espera ter essas mesmas relações com a gestão atual. Na prática, está disposto a trabalhar com todos e isso não interfere nas decisões que toma na liderança do BC.
Ele chegou a enumerar ocasiões em que foi pressionado pelo governo Bolsonaro e não cedeu. Lembrou que subiu a taxa de juros no ano eleitoral, em 2022, mesmo sabendo que isso seria ruim para a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e, mesmo sob pressão, sustentou a decisão.
Falou também sobre a tentativa de uso eleitoral do PIX, quando bloqueou a oportunismo eleitoral bolsonarista e deu entrevistas atestando que o formato de pagamento que é sucesso no Brasil foi trabalho do Banco Central e não da gestão que comandava a presidência.
“Fui criticado, mas nunca de forma pública e pessoal”, arrematou, fazendo questão de diferenciar o que está enfrentando agora, mas sem ampliar o atrito.
A estratégia do PT de rivalizar com o presidente do BC como justificativa para os resultados econômicos que não devem aparecer nem tão cedo, está saindo pela culatra.
E esse talvez seja o motivo da irritação insana de alguns petistas que chegaram, como fez Gleisi Hoffmann (PT), ao ponto de dizer que “mesmo tendo mandato, ninguém é imexível”.
Coisa de gente cega ao óbvio: Lula também está na presidência por mandato e não por representação divina. Lula também não é imexível, caso o país se descontrole economicamente. E quem tenta evitar isso é Campos Neto. Gostem ou não.
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