Cena Política

A hora de demonstrar seu próprio tamanho na equipe econômica do governo Lula

Confira a coluna Cena Política desta quinta-feira (16)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 16/02/2023 às 0:01
 Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Simone Tebet ao lado Fernando Haddad em coletiva sobre contenção de despesas - FOTO: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Quando Simone Tebet (MDB) e Geraldo Alckmin (PSB) foram confirmados no ministério de Lula (PT), seus nomes tiveram um efeito estabilizador para o mercado.

Para muitos, tê-los no ambiente lulo-petista, que costuma desequilibrar a balança populismo x responsabilidade com certa avidez, era uma garantia, uma âncora, um freio.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), prometeu para março a apresentação do sistema de proteção fiscal que vai substituir o teto de gastos.

Há pressa em fazer essa mudança. O combinado com o Congresso era que isso fosse feito até agosto. Haddad acelerou o passo, promoveu reuniões com a equipe econômica para delimitar logo um texto a ser apresentado no Congresso.

Quem teve poder e voz nessas reuniões? Simone Tebet e Geraldo Alckmin.

O resultado desse texto, com a assinatura deles, dará uma dimensão do quanto o mercado estava correto ou não ao confiar neles como fiadores da responsabilidade lulista num terceiro governo.

Será o primeiro teste importante de Haddad também, para se entender onde termina o ministro petista e onde começa o ministro realista.

O realista é imprescindível. O petista, não.

Saber o que pedir

A informação de que o governo Raquel Lyra (PSDB) já está conversando com a Bemisa, empresa que pode ser a solução para o ramal de Suape dentro do que já foi o projeto da Transnordestina em Pernambuco, é uma boa notícia.

Antes, a governadora passou a impressão de não concordar com a “solução público-privada” encontrada na gestão Paulo Câmara (PSB) e estar querendo que o governo federal reassumisse tudo.

É algo que faria a obra demorar tanto ao ponto de se tornar inviável. 

A confirmação de que já houve contato com a empresa veio na entrevista que o secretário de Desenvolvimento Econômico, Guilherme Cavalcanti, concedeu à Rádio Jornal durante o Debate, nesta quarta-feira (15).

Cavalcanti garantiu que a solução passa pelo Grupo Bemisa mas que, até para a empresa trabalhar, é preciso que haja garantias. Ele tem razão.

Uma dessas garantias é o direito de passagem no trecho do Piauí, que precisa ser precificado em contrato, com pedágio justo, para não ser utilizado no futuro como forma de privilegiar as cargas que forem para Pecém em detrimento de Suape.

O secretário disse acreditar que a proposta que prejudica Pernambuco, feita por representantes do Piauí e do Ceará, não passou por Lula e o presidente não concordaria.

É de se esperar que Lula vá buscar uma maneira de garantir a ferrovia em seu estado natal. Alguém precisa conversar com ele e pedir sua interferência.

Quando isso acontecer, é necessário já saber exatamente o que pedir. Por isso, a sintonia com a Bemisa é importante.

A ilha sendo reduzida

O PSB está tendo dificuldades para ficar coeso em Pernambuco e isso tem explicação.

Uma das coisas que mais prejudica a manutenção e sobrevivência de um partido é quando os seus integrantes começam a acreditar que o grupo não vale qualquer sacrifício.

Um soldado que salta à linha de frente não faria isso sem que houvesse qualquer possibilidade de reconhecimento e/ou acolhimento posterior.

O histórico recente do PSB é de abandono aos que se jogam de peito aberto nas fileiras que encabeçam as batalhas. O abandono a Geraldo Julio (PSB) foi um exemplo, por bastante tempo, embora ele esteja se reaproximando agora. Paulo Câmara é outro abandonado que precisou sair do partido para ser acolhido, e só por Lula.

O caso mais recente é Danilo Cabral (PSB). Candidato ao governo num dos momentos mais difíceis da história do partido, Danilo não foi tratado, até agora, com o respeito que o seu sacrifício merecia dentro da sigla.

O exemplo que isso passa é o de que "cumprir missões não vale a pena".

Que deputado vai querer bancar o ônus decorrente de fazer oposição à governadora recém-eleita, por exemplo, se pode ser abandonado mais à frente, como aconteceu com alguns parlamentares que cumpriram mandados dentro de seus mandatos e nem tiveram ajuda para se reeleger em 2022?

O PSB talvez precise refletir bem numa metáfora: abandonar as margens da “ilha” ao avanço do mar, para salvar o centro, acaba transformando o centro em margem no longo prazo.

E, no fim disso, tudo submerge.

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