Cena Política

A necessidade óbvia de voltar a discernir o que é sério do que não passa de piada

Confira a coluna Cena Política deste sábado (25)

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 25/02/2023 às 0:01
Laurindo Ferreira / JC Imagem
Ministra da Ciência,Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, garantiu o reajuste das bolsas de iniciação científica - FOTO: Laurindo Ferreira / JC Imagem

Conta-se que, quando ainda era deputado, durante o governo Bolsonaro, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), não resistiu e fez uma pergunta nos bastidores, em tom de brincadeira, ao então ministro de Ciência e Tecnologia: “ministro, o planeta Terra realmente é redondo?”.

O então auxiliar bolsonarista, que hoje é senador, havia ficado famoso em sua atividade original: astronauta, que chegou a viajar de foguete e passou um tempo na estação espacial.

O curioso, na época, foi que Marcos Pontes não levou na brincadeira e começou a explicar tecnicamente, cientificamente, na maior seriedade possível, que “a Terra é, sim, redonda”.

A preocupação em explanar isso com todo o cuidado, quando para João Campos, e qualquer pessoal normal, um “sim” seguido de uma risadinha teria bastado, dá uma pista de como a pasta de Ciência e Tecnologia foi tratada nos últimos quatro anos pela gestão bolsonarista.

O ministro devia estar tão acostumado a ter que explicar o óbvio de maneira séria para os colegas, já que alguns duvidavam até do formato do planeta com aguda sinceridade falaciosa, que nem discernia mais o que era piada e o que era sério.

Alvo fácil

Não foi só culpa do astronauta, hoje senador, mas da falta de atenção que se dava à pesquisa científica mesmo.

Como é um setor no qual é preciso gastar muito, verbas altas, e os bolsonaristas não tinham muito interesse em apoiá-lo, virou alvo fácil para o centrão cujos partidos davam sustentação a Bolsonaro no Congresso e adoram dinheiro.

Chegou ao ponto de, no fim de 2022, faltar dinheiro para as bolsas de pesquisas em mestrados, doutorados e até na graduação.

Luciana

É essa a herança que coube à ministra Luciana Santos (PCdoB). A pernambucana tem batalhado para recompor o orçamento da pasta de Ciência e Tecnologia, principalmente através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que tinha sido tragado para cobrir buracos em outras áreas.

Numa visita que fez ao Sistema Jornal do Commercio, nesta última sexta-feira (24), Luciana tentou demonstrar tranquilidade sobre as dificuldades, sempre que era questionada, mas não escondeu o desafio de reestruturar uma pasta que assumiu papel de desimportância extrema no governo anterior, mesmo quando poderia ter sido tão bem utilizada no período da pandemia.

A pandemia foi aquela mesma época em que o presidente oferecia Cloroquina às saudosas emas do Palácio da Alvorada.

Em entrevista à Rádio Jornal, a ministra garantiu que o dinheiro vai voltar para o setor, com seriedade.

Risadinha

É preciso admitir que nessa situação tão difícil, numa reconstrução dos esforços de pesquisa e inovação em que já estamos extremamente atrasados, se a ministra conseguir, no futuro, tratar os questionamentos do óbvio somente com “resposta curta e risadinha”, já será alguma evolução.

Ainda a Alepe

A previsão é de que a governadora Raquel Lyra (PSDB) retorne hoje a Pernambuco. Ela passou o período de carnaval em Portugal, entre Lisboa e algumas outras cidades próximas à capital, acompanhada da família.

Se Priscila Krause (Cidadania) cumpriu muito bem a missão de tocar o carnaval, há ainda um problema que não poderia ter sido resolvido pela vice e deve entrar na pauta da governadora logo nos próximos dias: a base na Alepe.

Como o mundo político ainda aguarda a resolução da federação entre PP e União Brasil, que terá consequências para todo o país, é difícil que a solução venha com rapidez.

Raquel precisa trabalhar para que o que vem sendo chamado de “bancada independente”, não se torne a maior força da Casa de Joaquim Nabuco como é previsto.

A posição de independência funciona como um seguro para o parlamentar, que pode tangenciar em temas que prejudiquem seu capital eleitoral, mas é um horror para qualquer Chefe de Executivo.

A energia gasta com cada negociação por aprovação de projeto tende a ser muito maior. E, em alguns casos, vai se perder tempo demais com problemas que precisam de solução urgente.

A federação PP/União deve criar um grupo com 13 deputados na Assembleia e ampliar a força exatamente dos que, hoje, anunciam apoio à governadora, mas não andam muito satisfeitos com o que obtiveram do governo até o momento.

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